Galáxias "desorganizadas", no Universo jovem, tiveram dificuldade em estabelecer-se
Recorrendo ao Telescópio Espacial James Webb, astrónomos captaram o olhar mais detalhado de sempre sobre o modo como as galáxias se formaram apenas algumas centenas de milhões de anos após o Big Bang - e descobriram que eram muito mais caóticas e desorganizadas do que as que vemos atualmente.
O raramente utilizado modo de
"grisma" do instrumento NIRCam do Webb capta a luz ténue do gás
hidrogénio ionizado em galáxias distantes. Crédito: NASA, ESA, CSA, STScI, B.
Robertson (Universidade da Califórnia em Santa Cruz), B. Johnson (Centro de
Astrofísica | Harvard & Smithsonian), S. Tacchella (Universidade de
Cambridge), P. Cargile (Centro de Astrofísica | Harvard & Smithsonian)
A equipa, liderada por
investigadores da Universidade de Cambridge, analisou mais de 250 galáxias
jovens que existiam quando o Universo tinha entre 800 milhões e 1,5 mil milhões
de anos. Estudando o movimento do gás no interior destas galáxias, os investigadores
descobriram que a maior parte delas eram sistemas turbulentos e
"grumosos" que ainda não se tinham instalado em discos giratórios e
uniformes como a nossa Via Láctea.
As suas descobertas, publicadas
na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, sugerem que as
galáxias se tornaram gradualmente mais calmas e organizadas à medida que o
Universo evoluía. Mas no início do Universo, a formação estelar e as instabilidades
gravitacionais provocaram tanta turbulência que muitas galáxias tiveram
dificuldade em estabelecer-se.
"Não vemos apenas alguns
espetaculares casos anómalos - esta é a primeira vez que conseguimos olhar para
uma população inteira de uma só vez", disse a primeira autora Lola
Danhaive do Instituto Kavli de Cosmologia de Cambridge. "Encontrámos uma
enorme variação: algumas galáxias estão a começar a assentar numa rotação
ordenada, mas a maioria ainda é caótica, com gás inchado e a mover-se em todas
as direções".
Os investigadores utilizaram o
instrumento NIRCam do Webb num modo raramente utilizado, que capta a luz ténue
do gás hidrogénio ionizado em galáxias distantes. Danhaive escreveu um novo
código para desvendar os dados, combinando-os com imagens de outros levantamentos
Webb para medir o movimento do gás no interior de cada galáxia.
"Resultados anteriores
sugeriam a formação de discos massivos e bem ordenados numa fase muito precoce,
o que não se adequava aos nossos modelos", disse o coautor Sandro
Tacchella do Instituto Kavli e do Laboratório Cavendish. "Mas ao olharmos
para centenas de galáxias com massas estelares mais baixas, em vez de apenas
uma ou duas, vemos o quadro geral, que está muito mais de acordo com a teoria.
As primeiras galáxias eram mais turbulentas, menos estáveis e cresceram através
de frequentes fusões e surtos de formação estelar".
"Este trabalho ajuda a
colmatar a lacuna entre a época da reionização e o chamado meio-dia cósmico,
quando a formação estelar atingiu o seu pico", disse Danhaive, que também
está ligada ao Laboratório Cavendish. "Mostra como os blocos de construção
das galáxias passaram gradualmente de aglomerados caóticos para estruturas
ordenadas e como galáxias como a Via Láctea se formaram".
Os resultados mostram como o Webb
permite aos cientistas investigar a dinâmica das galáxias a uma escala que
antes era impossível. Estudos futuros terão como objetivo combinar estas
descobertas com observações de gás e poeira frios para obter uma imagem mais
completa de como as primeiras galáxias se formaram.
"Isto é apenas o
início", disse Tacchella. "Com mais dados, seremos capazes de seguir
o modo como estes sistemas turbulentos cresceram e se transformaram nas
graciosas espirais que vemos hoje".
Astronomia OnLine

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