Maior cratera da Lua revela sinais radioativos e pode mudar missões da Nasa
Uma nova pesquisa sugere que a maior e mais antiga cratera da Lua não se formou da maneira que os cientistas imaginavam. A descoberta pode alterar o entendimento sobre a história do satélite natural e, potencialmente, redirecionar o foco das futuras missões Artemis, que pretendem levar astronautas de volta à superfície lunar – a próxima está prevista para 2027.
2010-LUA-layout_site © Jeff Andrews-Hanna/Universidade do Arizona/NASA/NAO/Reprodução
A cratera em questão é a bacia do
Polo Sul–Aitken (SPA), uma cicatriz colossal de 2.500 quilômetros de diâmetro e
até 8 quilômetros de profundidade, localizada no lado oculto da Lua – a face
que nunca é visível da Terra. Formada há cerca de 4,3 bilhões de anos, ela
teria surgido quando um asteroide gigantesco colidiu com o satélite, em um
impacto mais de dez vezes mais poderoso que o evento que exterminou os
dinossauros.
Mas o novo estudo publicado na
Nature, liderado por Jeffrey Andrews-Hanna, cientista planetário da
Universidade do Arizona, indica que o impacto ocorreu em um ângulo diferente do
que se acreditava. “Isso significa que as missões Artemis pousarão na borda
inferior da bacia – o melhor lugar para estudar a maior e mais antiga bacia de
impacto da Lua”, explicou Andrews-Hanna em nota. É onde "a maior parte do
material ejetado, proveniente das profundezas do interior da Lua, deve se
acumular".
Esses detritos incluem uma
mistura radioativa conhecida como KREEP – sigla usada por geólogos para
potássio (K), elementos de terras raras e fósforo – restos do antigo oceano de
magma que cobria a Lua em seus primeiros 200 milhões de anos de existência. Detectado
em alta concentração no limite sudoeste da bacia, o KREEP oferece pistas sobre
o passado geológico lunar e sobre como o satélite se formou após a colisão
entre a Terra e o protoplaneta Theia, há 4,46 bilhões de anos.
"Se você já deixou uma lata
de refrigerante no congelador, deve ter notado que, à medida que a água
solidifica, o xarope de milho rico em frutose resiste ao congelamento até o
final e se concentra nos últimos pedaços de líquido", disse o autor em
comunicado. "Achamos que algo semelhante aconteceu na Lua com o
KREEP."
Quando o oceano de magma
gradualmente se solidificou em crosta e manto, restou “apenas aquela pequena
porção de líquido imprensada entre o manto e a crosta, e esse é o material rico
em KREEP", explica o cientista.
"Todo o KREEP e os elementos
produtores de calor, de alguma forma, se concentraram no lado visível da Lua,
causando seu aquecimento e levando a um vulcanismo intenso que formou as
planícies vulcânicas escuras que proporcionam a visão familiar da face da Lua
vista da Terra”, de acordo com Andrews-Hanna. No entanto, a razão pela qual o
KREEP acabou no lado visível, e como esse material evoluiu ao longo do tempo,
tem sido um mistério.
"Nossa teoria é que, à
medida que a crosta engrossava no lado mais distante, o oceano de magma abaixo
era espremido para os lados, como pasta de dente sendo espremida para fora de
um tubo, até que a maior parte dele acabasse no lado mais próximo", disse
ele.
Os dados vieram de medições
feitas pela sonda Lunar Prospector, da NASA, que orbitou o satélite entre 1998
e 1999. Eles revelaram um padrão de radioatividade que reforça a nova hipótese
sobre a direção do impacto – um detalhe que pode ajudar a decifrar o que
realmente aconteceu nos primórdios do sistema Terra-Lua.
A NASA planeja pousar a missão
Artemis III na região do polo sul lunar, em uma das nove áreas candidatas
localizadas dentro da chamada “zona de respingos” do KREEP. Se os astronautas
conseguirem coletar amostras desse material, os cientistas poderão, pela
primeira vez, examinar fragmentos do manto lunar expostos pelo impacto.
Entretanto, o cronograma
permanece incerto. Tanto o Artemis II, previsto para orbitar a Lua em 2026,
quanto o Artemis III, que marcaria o retorno humano à superfície lunar após
mais de meio século, já foram adiados. Cortes orçamentários propostos para 2026
aumentam o risco de novos atrasos – um fator que pode dar vantagem à China,
cujo programa espacial tem avançado rapidamente.
Em 2024, a missão Chang’e 6
trouxe à Terra as primeiras amostras do lado oculto da Lua, coletadas
justamente dentro da bacia SPA. Embora a China tenha compartilhado parte do
material com parceiros internacionais, a Nasa continua impedida de participar
dessas análises por restrições legais impostas pelo Congresso dos EUA.
"Com Artemis, teremos
amostras para estudar aqui na Terra e saberemos exatamente o que são",
disse Andrews-Hanna. "Nosso estudo mostra que essas amostras podem revelar
ainda mais sobre a evolução inicial da Lua do que se pensava."
Superinteressante
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!