O misterioso halo invisível da Terra finalmente revelado por um observatório espacial
Nosso planeta está cercado por um halo de luz ultravioleta invisível a olho nu, um fenômeno celeste que os cientistas buscam decifrar há mais de meio século. Esse brilho enigmático, chamado geocoroa, constitui a camada mais externa da nossa atmosfera e se estende muito além do que poderíamos imaginar.
Imagem histórica da missão original Carruthers durante a Apollo 16 em 1972. Crédito: G. Carruthers (NRL) et al. / Far UV Camera / NASA / Apollo 16
Em 24 de setembro passado, uma
missão espacial particularmente ambiciosa decolou do Centro Espacial Kennedy na
Flórida. O Observatório Geocoroa Carruthers iniciou sua viagem para um ponto
estratégico do espaço situado entre a Terra e o Sol. Esse ponto particular,
conhecido como ponto de Lagrange L1, fica a aproximadamente 1,6 milhão de
quilômetros do nosso planeta, ou seja, quatro vezes mais longe que a Lua. Nessa
posição privilegiada, o observatório poderá estudar a geocoroa em sua
totalidade, um feito nunca realizado antes.
A geocoroa representa a parte
mais extrema da atmosfera terrestre, começando a aproximadamente 480
quilômetros de altitude e se estendendo até a meio caminho da Lua. Esse imenso
envelope gasoso é composto principalmente de hidrogênio, um elemento fundamental
para, entre outros, a água. O que torna essa missão particularmente crucial é
que ela permitirá estudar como as partículas solares interagem com essa camada
atmosférica e contribuem para a perda de hidrogênio do nosso planeta.
A ideia dessa missão remonta a
1972, quando o Dr. George Carruthers havia colocado uma câmera ultravioleta
primitiva na Lua durante a missão Apollo 16. Embora as imagens obtidas tenham
sido espetaculares, o físico havia compreendido que elas mostravam apenas parte
do fenômeno. O novo observatório, equipado com tecnologias de imageamento
ultravioleta cinquenta vezes mais avançadas, possui tanto um imageador de
grande campo para capturar o conjunto da geocoroa quanto um imageador próximo
para estudar suas interações detalhadas.
Os dados coletados por essa
missão poderiam revolucionar nossa compreensão da habitabilidade dos planetas.
Ao estudar como a Terra perde seu hidrogênio no espaço, os cientistas poderão
identificar melhor os exoplanetas capazes de conservar sua água líquida. O
observatório deverá começar suas observações científicas em março próximo e
funcionar por pelo menos dois anos, realizando assim o sonho de um visionário
da exploração espacial.
Os pontos de Lagrange:
posições estratégicas no espaço
Os pontos de Lagrange representam
posições orbitais únicas onde as forças gravitacionais de dois corpos celestes
se equilibram perfeitamente com a força centrífuga. Esses cinco pontos
particulares, nomeados L1 a L5, permitem que um pequeno objeto como um satélite
mantenha uma posição estável relativa aos dois corpos principais.
Representação artística dos pontos de Lagrange Terra-Sol. O ponto L1 é o destino final do Observatório Geocoroa Carruthers. Crédito: NASA's Conceptual Image Lab/Krystofer Kim
O ponto L1, destino do
Observatório Geocoroa Carruthers, situa-se diretamente entre a Terra e o Sol.
Essa posição oferece a vantagem única de ter uma visão permanente da nossa
estrela enquanto observa continuamente a face iluminada do nosso planeta. Muitos
observatórios solares e meteorológicos espaciais utilizam essa posição
privilegiada.
A estabilidade excepcional desses
pontos os torna locais ideais para missões de observação de longo prazo. Ao
contrário dos satélites em órbita terrestre que precisam ajustar constantemente
sua posição, uma espaçonave colocada em um ponto de Lagrange pode manter sua
posição com muito pouco combustível, o que prolonga consideravelmente sua vida
operacional.
Essas posições estratégicas
tornaram-se essenciais para o estudo do Sol, do clima espacial e agora da
atmosfera terrestre em seu conjunto. Seu uso testemunha nossa compreensão
crescente da mecânica celeste e de nossa capacidade de explorar as leis físicas
do Universo para a exploração científica.
O hidrogênio atmosférico e
seu papel na habitabilidade planetária
O hidrogênio, embora presente em
pequenas quantidades na nossa atmosfera, desempenha um papel fundamental na
manutenção das condições propícias à vida na Terra. Esse elemento leve
constitui um componente chave da molécula de água e participa de muitos ciclos
atmosféricos essenciais.
Nas camadas superiores da
atmosfera, o hidrogênio sofre um processo chamado 'escape atmosférico' onde as
partículas energéticas do Sol podem lhe dar velocidade suficiente para deixar a
atração gravitacional terrestre. Esse fenômeno, embora lento na escala humana,
representa uma perda contínua para o nosso planeta.
O estudo desse escape de
hidrogênio reveste-se de importância capital para a busca de vida
extraterrestre. Ao compreender os mecanismos que regem a retenção ou a perda
desse elemento em diferentes planetas, os astrônomos podem avaliar melhor quais
mundos são suscetíveis de conservar oceanos líquidos por períodos geológicos.
Os dados do Observatório
Carruthers permitirão quantificar precisamente essa taxa de perda e compreender
como ela varia com a atividade solar. Essas informações servirão de referência
para avaliar a habitabilidade dos exoplanetas descobertos ao redor de outras
estrelas, tornando essa missão uma ferramenta preciosa na busca de mundos
semelhantes ao nosso.
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