Neutrino vindo do Sol transforma carbono em nitrogênio
Neutrino faz carbono virar nitrogênio
Cientistas testemunharam uma das
interações mais raras da natureza, por muito anos considerada impossível de ser
observada experimentalmente - e, por alguns, apontada até mesmo como uma
impossibilidade total.
Recipiente de acrílico com 12
metros de diâmetro, contendo 800 toneladas de cintilador líquido para a
detecção de neutrinos e rodeado por 9.000 tubos fotomultiplicadores. Este é o
núcleo do SNO (Observatório de Neutrinos de Sudbury).[Imagem: SNOLAB]
Um neutrino, por si só uma das
partículas mais misteriosas do Universo, que por muito tempo se acreditou nem
mesmo ter massa e que raramente interage com qualquer outra partícula,
chocou-se com um átomo de carbono e passou-lhe energia suficiente para que o
átomo se transformasse em nitrogênio.
Na verdade não foi apenas um
neutrino: Os cientistas do laboratório SnoLab, localizado a dois quilômetros de
profundidade no Canadá, detectaram 5,6 eventos ao longo de um período de 231
dias. Isso é estatisticamente consistente com os 4,7 eventos esperados gerados
por neutrinos durante esse período.
Dentre todos os eventos captados
pelo detector, os pesquisadores estavam interessados naqueles, já previstos
teoricamente, em que um núcleo de carbono-13 é atingido por um neutrino de alta
energia e se transforma em nitrogênio-13 radioativo, que decai cerca de dez
minutos depois.
Para pescar eventos tão raros, a
equipe usou um método de "coincidência retardada", que busca dois
sinais interligados: Um sinal inicial proveniente do impacto de um neutrino em
um núcleo de carbono-13, seguido, alguns minutos depois, por um segundo sinal
proveniente do decaimento radioativo do nitrogênio. Esse padrão característico
permite separar, com segurança, as interações reais de neutrinos do ruído de
fundo.
"Capturar essa interação é
uma conquista extraordinária. Apesar da raridade do isótopo de carbono,
conseguimos observar sua interação com neutrinos, que nasceram no núcleo do Sol
e viajaram vastas distâncias para chegar ao nosso detector," comemorou
Gulliver Milton, da Universidade de Oxford, que é membro da colaboração
internacional que administra o SnoLab.
Monitores mostrando os eventos captados pelo detector SNO+. [Imagem: SNOLAB]
Partículas fantasmas
Os neutrinos são uma das
partículas mais misteriosas do Universo, frequentemente chamadas de
"partículas fantasmas" porque raramente interagem com qualquer outra
coisa - trilhões deles atravessam nossos corpos a cada segundo, sem nos afetar
em nada e sem deixar quaisquer vestígios.
Eles são produzidos durante
reações nucleares, incluindo as de fusão nuclear, que ocorrem no núcleo do Sol
e outras estrelas. Sua tendência a não interagir torna a detecção de neutrinos
notoriamente difícil porque eles também não interagem com os sensores.
Neutrinos provenientes do Sol só foram observados interagindo com alguns poucos
alvos diferentes.
Agora, pela primeira vez, os
cientistas conseguiram observar também a transformação de átomos de carbono em
nitrogênio por neutrinos dentro de um vasto detector subterrâneo. As
observações foram realizadas utilizando o detector SNO+, localizado a dois quilômetros
de profundidade no SnoLab, um laboratório internacional situado em uma mina em
operação em Sudbury, no Canadá. A localização profunda é crucial para proteger
o laboratório dos raios cósmicos e da radiação de fundo, que mascarariam os
fracos sinais dos neutrinos.
O Snolab é um dos laboratórios mais profundos do mundo. [Imagem: SnoLab/Univ.Alberta]
Laboratório nas
profundezas
O SNO+ é uma atualização do
experimento SNO, que demonstrou que os neutrinos oscilam entre três tipos -
neutrinos do múon, do tau e do elétron - em sua jornada do Sol até a Terra.
"Os neutrinos solares têm
sido um tema de estudo fascinante há muitos anos, e as medições realizadas pelo
nosso experimento predecessor, o SNO, levaram ao Prêmio Nobel de Física de
2015. É notável que nossa compreensão dos neutrinos solares tenha avançado
tanto a ponto de podermos usá-los, pela primeira vez, como um 'feixe de teste'
para estudar outros tipos de reações atômicas raras!" disse o professor
Steven Biller.
Inovação Tecnológica



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