Um planeta com três sóis põe em causa teoria de formação dos Júpiteres quentes

Lembra-se de Tatooine, o planeta com dois sóis, lugar onde Anakin Skywalker nasceu? Um planeta com três estrelas “mães”, foi descoberto. Maciej Konacki, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), é o responsável pela descoberta de um mundo com três sóis, com a ajuda do Telescópio Keck I, no Havai. Trata-se de um planeta denominado HD 188753 Ab e localizado na constelação do Cisne, a 149 anos-luz. Segundo o cientista, o céu deste planeta deve ser espectacular, onde ocasionalmente ocorre um pôr-do-sol triplo. Até agora, os astrônomos não tinham quaisquer provas de poder haver formação de planetas em sistemas gravitacionalmente tão complexos. Os sistemas de estrelas múltiplos estão espalhados pelo Universo e representam mais de metade das estrelas existentes. A estrela mais próxima do nosso Sol, Alfa Centauro, por exemplo, faz parte de um sistema triplo. No entanto, para os caçadores de planetas os sistemas múltiplos não têm sido muito populares, pois são difíceis de observar e até agora pensava-se que eram maus hospedeiros de planetas. O novo planeta pertence a uma classe comum de planetas extra-solares, que são planetas gigantes gasosos que se movem em torno das suas estrelas a uma distância muito próxima. Neste caso, o planeta completa uma volta em torno da estrela principal (HD 188753) a cada 3,3 dias; por sua vez, esta é circundada a cada 25,7 anos por um par de estrelas, que rodam à volta uma da outra em 156 dias. A massa das três estrelas situa-se entre os dois terços da massa do Sol. O planeta tem ligeiramente mais massa do que Júpiter. O trio de estrelas forma um conjunto muito apertado: a distância da estrela principal ao par de estrelas que a orbita é aproximadamente igual à distância entre Saturno. O espaço é tão exíguo que põe em questão as teorias de formação dos planetas gigantes quentes. Os astrônomos pensavam que este tipo de planetas se formava longe das suas estrelas de origem e depois migravam para o interior. Num sistema tão coeso como este não existe muito espaço para um planeta poder crescer na sua periferia. A teoria corrente diz que os planetas gigantes quentes se formam na periferia dos discos circunstelares de gás e poeira das estrelas jovens. O material que constitui o disco aglomera-se para formar um núcleo sólido e este vai atraindo gás e crescendo.
A partir de uma certa altura, o gigante gasoso vai apertando a sua órbita, até ficar muito próximo da estrela. A descoberta de HD 188753 Ab num sistema triplo muito coeso vem contradizer este cenário. É que devido à perturbadora presença dos seus companheiros, a estrela principal deve ter gerado um disco circunstelar (com a matéria prima para a formação dos planetas) cujo raio era apenas metade da distância orbital atual do planeta descoberto. Isto, evidentemente, levanta uma quantidade de novas questões. Explicar a formação de um gigante gasoso em condições de temperatura tão elevada por estar a uma distância tão pequena da estrela é agora um novo desafio lançado aos cientistas. Os astrônomos já tinham previamente identificado planetas em torno de cerca de 20 sistemas binários e de um sistema triplo, mas em qualquer desses sistemas as estrelas tinham muito espaço entre elas. Os sistemas de estrelas múltiplos estão, na sua maioria, aglomerados e são difíceis de estudar. Konacki ultrapassou este desafio usando uma versão modificada da técnica de caça aos planetas baseada na velocidade radial da estrela. Neste método, a presença de um planeta é inferida pela atração gravitacional que induz na estrela-mãe provocando oscilações sutis no movimento desta. Esta estratégia funciona bem para uma estrela única, ou para binários ou sistemas triplos afastados, mas não pode ser aplicada a sistemas cujas estrelas estejam muito próximas, pois, nestes casos, a luz das várias estrelas confunde-se. Konacki desenvolveu modelos detalhados de sistemas com estrelas próximas para conseguir separar a luz que vinha de cada estrela. Isto permitiu-lhe identificar, pela primeira vez, a atração gravitacional induzida por um planeta numa estrela pertencente a um sistema deste tipo. De um conjunto de 20 sistemas examinados, HD 188753, foi o único que revelou abrigar um planeta. Os dados relativos a esta descoberta foram publicados na revista Nature. O autor conclui ainda que, possivelmente, os planetas são mais robustos do que previamente se admitia. Uma boa notícia, pois prova que os planetas podem existir em condições de vizinhança interessantes, que até agora não foram exploradas.

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