Em Busca da “zona habitável”


Escala de uma região do espaço que teoricamente poderia haver zonas habitáveis composta por estrelas de diferentes tamanhos (nosso sistema solar está no centro).

Tudo bem, já se sabe que o nosso Sol não é a única estrela a possuir planetas ao seu redor. Mas não é exatamente este o motivo principal que leva a humanidade a apontar telescópios para o céu. Os planetas só constituem um foco de interesse na medida em que apenas eles podem abrigar seres vivos.  Não há chance de se encontar organismos vivos em cometas, nem em estrelas, nem na maioria dos planetas encontrados. O que estamos procurando são planetas na chamada “zona habitável” – isto é, com condições semelhantes às existentes na Terra. Não podem estar muito longe de sua respectiva estrela, o que os tornaria gelados como Saturno ou Netuno, nem demasiado perto, sob pena de virar verdadeiras fornalhas, como Mercúrio ou Vênus.

Objetos do tipo “Júpiter quente” são, como a expressão indica, tão pouco hospitaleiros quanto ele próprio. O máximo que se pode dizer a favor dos planetas recém-descobertos é que dois deles – um ao redor de 47 da Ursa Maior e o outro na Constelação 70 de Virgem – podem possuir água. “Para ser honesto”, admite Marcy, “ne-nhum desses planetas têm condições de abrigar lagos ou oceanos, como na Terra”. Sem água, nada feito. Não há seres vivos, pelo menos como a conhecemos. Marcy acredita que o único obstáculo que impede a descoberta de mais planetas na “zona habitável” é a tecnologia. “Não tenho dúvida de que existem planetas com água líquida e moléculas orgânicas”, acrescenta.

A dupla Butler e Marcy escolheu mais de 400 estrelas parecidas com o Sol para investigar com a ajuda do poderoso telescópio Keck, no Havaí. No Texas, dois outros astrônomos, William Cochran e Artie Hatzes, vasculham 150 estrelas no aglomerado de Hyades. Significativamente, a última reforma no Telescópio Espacial Hubble serviu para trocar os velhos instrumentos por dois sensores novinhos em folha, destinados a perscrutar no infravermelho objetos pequenos e difíceis de enxergar na luz visível. Um dos recursos usados pelos cientistas é o Efeito Doppler, que aponta variações na cor dos astros de acordo com seus movimentos. Eles ficam mais azulados quando estão se aproximado da Terra e mais avermelhados quando se distanciam.

Um vagalume ao lado de uma explosão

A maior dificuldade na procura de planetas na chamada “zona habitável” é que o brilho da estrela costuma ofuscar qualquer coisa nas proximidades. Marcy compara o desafio ao de “ver um vagalume perto de uma explosão nuclear”. É uma tarefa impossível na luz normal, mas há outros meios. Os cientistas apostam nos radares infravermelhos, capazes de identificar corpos com temperatura muito baixa. Outra técnica consiste em trabalhar ao mesmo tempo com dois telescópios voltados para a mesma direção. É a chamada interferometria, o método escolhido pelo Projeto Origins, da Nasa, o mais importante dentre todos os projetos de pesquisa espacial. Vários pequenos telescópios operando em conjunto serão lançados nos próximos sete anos para esquadrinhar o céu em busca de novos planetas. É um empreendimento caro, mas o diretor da Nasa, Daniel Goldin, acredita que vale a pena. “Nenhum esforço é grande demais para provar a existência de vida em outros planetas”, comenta o cientista.

Promessa de água

Para ser indicado como candidato a hospedeiro de seres vivos, um planeta deve preencher certos pré-requisitos, como a presença de água em estado líquido e uma temperatura amena – nem quente demais, nem fria demais. O planeta ao redor da estrela 70 da Constelação de Virgem se enquadra nesse perfil. Sua temperatura de 85 graus, comparável à de uma xícara de café quente, é excessiva para os padrões humanos, mas não chega a ser incompatível com a existência de seres vivos. Ninguém sabe se há água na sua superfície, mas os cientistas estão esperançosos.

O mais "normal"

O planeta gigante na órbita da estrela 47 da Constelação da Ursa Maior foi descoberto pelos astrônomos Marcy e Butler no início do ano passado. Com três vezes e meia a massa de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, ele gira ao redor da estrela a uma distância de 190 milhões de quilômetros, quase igual à que existe entre a Terra e o Sol. Gasoso, como Júpiter, este planeta é um dos que mais se aproximam do figurino clássico desse tipo de corpo celeste. Na ilustração, ele aparece no canto direito, ao alto, com uma lua orbitando ao seu redor.

Planeta derretido

O planeta de 51 de Pégaso foi o primeiro a ser descoberto fora do Sistema Solar. Com um tamanho 280 vezes maior do que a Terra, está praticamente colado à sua estrela. Os eventuais visitantes podem escolher a temperatura: 1000 graus numa das faces e, na outra, centenas de graus abaixo de zero. Não existe dia e noite, pois a gravidade da estrela impede o planeta de girar. O Peg-51 está a 42 anos-luz da Terra.

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