Há 20 anos, Nasa lançava sonda Mars Observer à órbita marciana

A sonda foi lançada com o objetivo de realizar um estudo detalhado das características topográficas, geológicas e geofísicas do Planeta Vermelho, a partir de sua órbita.Foto: Nasa/Divulgação

No dia 25 de setembro de 1992, a Nasa pôs em prática uma ambiciosa missão. A sonda espacial Mars Observer foi lançada com o objetivo de realizar um estudo detalhado das características topográficas, geológicas e geofísicas do Planeta Vermelho, a partir de sua órbita. Nas costas desse plano, havia um grande fardo a carregar, já que, 17 anos antes, a agência espacial americana enviou a Marte as duas naves do projeto Viking, o qual entrou para a história como a primeira missão a pousar de forma segura na superfície de outro planeta. O amplo sucesso desse projeto anterior contribuiu para a expectativa de que o êxito se repetisse. Em agosto de 1993, no entanto, três dias antes de ingressar na órbita de Marte, a comunicação com a sonda Mars Observer foi perdida. O que permaneceu, para os cientistas e para as missões futuras, foi a tecnologia desenvolvida, que mais tarde possibilitou inventos como o telefone celular e aparelhos de diagnósticos médicos.

A fixação - O desejo de conhecer mais sobre Marte surgiu antes mesmo de o homem ter conquistado a Lua. Em 1965, a sonda Mariner 4 (uma das 10 aeronaves construídas pela Nasa para explorar o sistema solar) fez um voo rasante sobre o planeta, tirando suas primeiras fotografias aproximadas. Depois de Neil Armstrong dar seu pequeno grande passo, em 1969, Marte passou a ficar cada vez mais presente no imaginário dos terráqueos, que começaram a sonhar em quando o Planeta Vermelho seria o próximo destino do homem.

Poucos dias após a chegada da Apollo 11 à Lua, as Mariner 6 e 7 começavam a gravar centenas de imagens do planeta, propiciando novas descobertas. Em novembro de 1971, o Mariner 9 chegou com sucesso à órbita de Marte e tornou-se o seu primeiro satélite artificial. A grande conquista da Nasa começou em 1975, quando foram lançadas ao espaço as aeronaves Viking 1 e 2, que aterrissaram no Planeta Vermelho no ano seguinte, com o objetivo principal de procurar indícios de vida.

Apesar de não terem encontrado evidências conclusivas, propiciaram o desenvolvimento de tecnologias que seriam utilizadas em todas as missões posteriores. Em 1992, a Guerra Fria já havia terminado, mas a Nasa seguia sedenta por informações sobre Marte. Baseando-se em um satélite de comunicação da Terra, construiu a sonda Mars Observer, que deveria trazer um estudo mais detalhado do planeta, incluindo suas características minerais, topográficas, geológicas, informações sobre sua atmosfera, campo gravitacional e campo magnético.  A sonda proporcionará aos cientistas uma plataforma orbital a partir da qual a superfície e atmosfera inteiras de Marte serão analisadas e mapeadas. As informações serão coletadas diariamente em órbita de baixa altitude", dizia a Nasa para a imprensa, em setembro de 1992.

Investigação - As causas da perda de contato, três dias antes do previsto para a entrada na órbita de Marte, não foram identificadas pelo conselho formado para investigar os problemas ocorridos. "Devido aos esforços para localizar ou se comunicar com a sonda terem falhado, o conselho não foi capaz de encontrar evidências conclusivas que apontassem a um evento particular que tenha causado a perda do Observer", afirmava o relatório do conselho de investigação. Foi apontada como causa mais provável a ruptura do compartimento de combustível do sistema de propulsão da aeronave, que teria acarretado um vazamento de gás hélio sobre a manta térmica do aparelho.

"Quando se trata do envio de sondas orbitais a Marte, a dificuldade está justamente em colocar o satélite em órbita. É na aproximação de Marte que se perdem a maior parte das sondas, como a Mars Observer, em 1992, e a Mars Climate Orbiter, em 1999", explica o presidente da Agência Espacial Brasileira, José Raimundo Coelho. No caso de aparelhos que pousam no planeta, a dificuldade é ainda maior. "Além do pouso, o planeta apresenta um ambiente hostil que agride os equipamentos e subsistemas do veículo, principalmente devido aos ciclos térmicos (calor e frio) e à radiação. Várias dificuldades também aparecem por conta da fina poeira de Marte, que danifica equipamentos e partes móveis", pontua.

O consolo - Apesar de não ter cumprido o seu objetivo principal, a Mars Observer ajudou no aprimoramento de tecnologias que seriam usadas não apenas em novas missões, mas também em invenções presentes no cotidiano de pessoas em todo o mundo. "Infelizmente, ela falhou três dias antes de chegar ao planeta. Mas as tecnologias por ela desenvolvidas foram depois incorporadas às missões Mars Global Surveyor e Mars Odyssey, ambas com sucesso", afirma Coelho. "Durante o projeto e construção do Mars Observer, muitas tecnologias inéditas foram desenvolvidas. Estes novos conhecimentos são atualmente usados em vários equipamentos (inclusive telefones celulares e aparelhos de diagnósticos médicos) e rendem royalties para as empresas que as desenvolveram", revela o professor Dr. Annibal Hetem, pesquisador da Universidade Federal do ABC na área de Propulsão Aeroespacial.

No relatório do conselho de investigação sobre as causas da perda de comunicação, apesar de nenhuma resposta precisa ter sido apontada, foi manifestado o sentimento de que os estudos seriam importantes para evitar novas falhas. "Se os nossos resultados nos ajudarão a garantir que as futuras missões não sofram um destino semelhante, sentiremos que alcançamos nosso objetivo", declarou, na época, o presidente do conselho, Dr. Timothy Coffey, então diretor de pesquisa do Laboratório de Pesquisa Naval de Washington.

A esperança - Em novembro do ano passado, a Nasa lançou a missão Mars Science Laboratory, cuja linha de frente é representada pelo robô Curiosity, um jipe que pousou na superfície marciana em agosto deste ano. É a nova tentativa de descobrir condições favoráveis à vida e à habitabilidade em Marte. E também de chegar mais perto de responder a pergunta que tanto intriga a humanidade: "Estamos sós no universo?"
Fonte: TERRA

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