Fim da causalidade: eventos quânticos independem do espaço e do tempo
Não poderia haver troca de informação entre os dois fótons do
experimento sem violar o limite de velocidade máxima do Universo, a
velocidade da luz.[Imagem: Ma et al./Pnas]
Causa sem efeito, efeito sem causa
Há cerca de dois meses, físicos demonstraram que causa e efeito não são coisas tão claras no mundo da mecânica quântica. O trio propôs que existem situações nas quais um evento pode ser
tanto a causa quanto o efeito de outro, quebrando a tão conhecida "lei
de causa e efeito". Mas se você acha os experimentos mentais abstratos demais, então vai
se dar melhor com um experimento real, uma experiência feita em
laboratório que acaba de ser anunciada por físicos da Universidade de
Viena, na Áustria. Xiao-Song Ma e seus colegas mostraram na prática uma situação em que é
impossível descrever a causalidade entre dois eventos correlacionados,
ou seja, um afeta o outro, mas é impossível dizer o que é a causa e o
que é o efeito.
Interpretações da física quântica
A interpretação mais aceita da física quântica, chamada interpretação
de Copenhague, estabelece que as propriedades de um objeto quântico
dependem dos aparelhos e da forma como esse objeto é medido - ele poderá
revelar-se como uma onda ou como uma partícula. Outro fenômeno bem conhecido é o entrelaçamento quântico, ou
emaranhamento, pelo qual uma partícula quântica que compartilhe
propriedades com outra é afetada instantaneamente por qualquer coisa que
aconteça com a primeira, mesmo que elas sejam levadas para lados
opostos da galáxia. Embora apenas em princípio, em ambos os casos ainda se pode falar em
causalidade, no sentido de que uma partícula influencia a outra ou o
aparato de medição influencia a partícula.Agora, os físicos mostraram como a medição de uma partícula - um
fóton de luz - é afetada não pela medição feita nela própria, mas pela
medição feita em um segundo fóton. Em outras palavras, o fóton se comporta como partícula ou como onda
dependendo da medição feita em um segundo fóton que está tão distante do
primeiro que não poderia haver troca de informação entre os dois sem
violar o limite de velocidade máxima do Universo, a velocidade da luz.
Independentes do espaço e do tempo
Os cientistas afirmam que o experimento não é suficiente para
derrubar nenhum pilar da física, mas que é impossível dar uma explicação
clara do que ocorre em termos de causalidade - nem mesmo "em princípio"
ou por meio de outros experimentos mentais. O primeiro fóton estava no laboratório em Viena, enquanto o segundo
estava nas Ilhas Canárias, mas a "manifestação" como onda ou como
partícula do fóton em Viena depende sempre da medição feita nas Ilhas
Canárias. "Nosso trabalho refuta a visão de que um sistema quântico possa, em
um determinado ponto no tempo, aparecer definitivamente como uma onda ou
definitivamente como uma partícula. Isso exigiria uma comunicação mais
rápida do que a velocidade da luz - o que está em confronto direto com a
teoria da relatividade de Einstein," disse Anton Zeilinger, coordenador
dos experimentos. "Assim, acreditamos que essa visão deve ser abandonada completamente.
Em certo sentido, eventos quânticos são independentes do espaço e do
tempo," conclui o pesquisador.
Fonte: Inovação Tecnológica
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