Nova teoria tenta simplificar Matéria Escura
O anapolo, no alto, é gerado por uma corrente elétrica toroidal. O campo fica
confinado ao toroide, em vez de se espalhar, como os campos gerados pelos
dipolos elétricos e magnéticos (embaixo).[Imagem: Michael Smeltzer/Vanderbilt
University]
As galáxias giram tão rápido que se a única "cola" que as mantém coesas fosse
a gravidade de toda a matéria que as compõe, elas se esfacelariam, arremessando
suas estrelas, planetas e demais corpos celestes para o espaço. Então deve haver algo lá, segurando as galáxias. Os astrofísicos chamam esse
algo hipotético de matéria escura. Mas, a única coisa que se "sabe" sobre ela é
que a matéria escura deve ter gravidade - o sabe merece as aspas porque a
matéria escura foi proposta justamente para isso.
Desde que a ideia foi acolhida pela comunidade científica, inúmeras teorias e
experimentos de detecção têm tentado identificar ou explicar as partículas que
formariam a matéria escura, que deve representar 23% da massa do Universo,
contra apenas 4% da nossa matéria tradicional - fazendo as contas de outro modo,
85% de toda a matéria no Universo deve ser matéria escura. Infelizmente, todas as tentativas para detectar a matéria escura feitas até
agora falharam, ainda que outros astrônomos garantam que ela é real.
Chiu Man Ho e Robert Scherrer, da Universidade Vanderbilt, nos Estados
Unidos, acreditam que a explicação pode ser muito mais simples do que parecia à
primeira vista. Há muitas teorias diferentes sobre a natureza da matéria escura. O que eu
gosto nesta nova teoria é a sua simplicidade, o seu jeito único e o fato de que
ela pode ser testada," disse Scherrer.
Férmions de Majorana
A dupla propõe que a matéria escura seria constituída de um tipo de partícula
fundamental chamada férmion de Majorana, prevista teoricamente em 1930, mas só
detectada experimentalmente no ano passado: Férmions são partículas como o elétron e o quark, que são os componentes
básicos da matéria. Já o férmion previsto por Ettore Majorana é um férmion
eletricamente neutro. Embora os férmions de Majorana sejam eletricamente neutros, as simetrias
fundamentais da natureza os proíbem de contar com quaisquer propriedades
eletromagnéticas, exceto se eles foram anapolares," explica Ho.
Essa ideia não é nova, mas Scherrer e Ho fizeram cálculos detalhados para
demonstrar que essas partículas têm todas as características necessárias para
possuir um tipo raro de campo eletromagnético em forma de anel, chamado
anapolo. Esse campo magnético exótico daria às partículas de matéria escura
propriedades diferentes das partículas que possuem dois polos (norte e sul) e
explicaria por que elas são tão difíceis de detectar.
"A maioria dos modelos para a matéria escura assume que ela interage por meio
de forças exóticas que não encontramos no dia-a-dia. A matéria escura anapolar
usa o mesmo eletromagnetismo que aprendemos na escola - a mesma força que faz os
imãs grudarem na sua geladeira," explica Scherrer. Além disso, o modelo faz predições muito específicas sobre a proporção com
que elas deverão ser detectadas nos enormes detectores de matéria escura
enterrados no chão por todo o mundo. Essas predições mostram que a existência da
matéria escura anapolar deve ser comprovada ou descartada em breve por tais
experimentos," continua o pesquisador.
Anapolo magnético
A existência de um anapolo magnético foi proposta pelo físico soviético Yakov
Zeldovich em 1958. Mais tarde, os anapolos foram observados experimentalmente na
estrutura magnética dos núcleos dos átomos de césio-133 e itérbio-174. As partículas com os dipolos elétrico e magnético tradicionais interagem com
campos eletromagnéticos mesmo quando estão estacionárias - as partículas com
anapolos não, elas devem estar se movendo para interagir e, quanto mais rápido
estiverem, maior será a interação. Por decorrência, as partículas anapolares devem ter sido muito mais
interativas durante os momentos iniciais do Universo, tornando-se cada vez menos
interativas à medida que o Universo se expandia e esfriava.
Pela teoria de Ho e Scherrer, as partículas de matéria escura anapolar se
aniquilavam no Universo primitivo - como proposto pelas outras teorias que
tentam explicar as partículas de matéria escura -, e a matéria escura atual
seria apenas o remanescente desse processo, ou seja, as partículas que escaparam
da aniquilação. Seria essa falta de interação que tem tornado tão difícil a detecção das
partículas de matéria escura. Não será preciso esperar muito para verificar se a teoria está correta, já
que diversos detectores de matéria escura ao redor do mundo estão tentando
detectar "qualquer coisa" que possa lançar alguma luz sobre a matéria
escura.
Fonte: Inovação Tecnológica
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