Depois da CASSINI: Ponderando o legado da missão a SATURNO

À medida que a sonda Cassini aproxima-se do final de uma grande viagem rica em feitos científicos e técnicos, já está a ter uma influência poderosa na exploração futura. Ao revelar que a lua de Saturno, Encélado, tem muitos dos ingredientes necessários para a vida, a missão criou os alicerces para a exploração de "mundos oceânicos" e tem cativado a ciência planetária ao longo da última década.
"A Cassini transformou o nosso pensamento de muitas maneiras, especialmente em relação a lugares surpreendentes no Sistema Solar onde a vida pode, potencialmente, existir," afirma Thomas Zurbuchen, administrador associado do Diretorado de Missões Científicas da NASA na sede da agência em Washington. "Parabéns a toda a equipa da Cassini!"

Para a frente, para Europa
A lua de Júpiter, Europa, tem sido um dos principais objetivos da exploração futura desde que a missão Galileo da NASA, no final da década de 1990, encontrou fortes evidências de um oceano global de água líquida por baixo da sua crosta gelada. Mas a revelação mais recente de que uma lua muito mais pequena como Encélado também poderia não só ter água líquida, como também energia química que, potencialmente, pode suportar biologia, foi avassaladora.
Muitas lições aprendidas durante a missão da Cassini estão a ser aplicadas à missão Europa Clipper da NASA, com lançamento planeado para a década de 2020. A Europa Clipper vai voar sobre a gelada lua oceânica dúzias de vezes a fim de investigar a sua potencial habitabilidade, usando um "tour" orbital derivado da maneira como a Cassini explorou Saturno. A missão Europa Clipper vai orbitar o planeta gigante - Júpiter, neste caso - usando assistências gravitacionais das suas grandes luas para manobrar a nave em repetidos encontros próximos com Europa. Isto é parecido com o modo como os desenhadores das viagens da Cassini usaram a gravidade da lua de Saturno, Titã, para moldar continuamente o percurso da sua nave.
Além disso, muitos engenheiros e cientistas da Cassini estão a trabalhar na Europa Clipper e a ajudar a desenvolver as suas investigações científicas. Por exemplo, vários membros dos instrumentos INMS (Ion and Neutral Mass Spectrometer) e CDA (Cosmic Dust Analyzer) da Cassini estão a desenvolver versões extremamente sensíveis e de próxima geração dos seus instrumentos para voar na Europa Clipper. O que a Cassini aprendeu sobre voar através da pluma de material expelido por Encélado vai ajudar a informar o planeamento da Europa Clipper, caso se confirme atividade de plumas em Europa.

Regressando a Saturno
A Cassini também realizou 127 "flybys" pela lua nublada Titã, mostrando que é uma fábrica extremamente complexa de produtos químicos orgânicos - um laboratório natural para a química pré-biótica. A missão investigou o ciclo de metano líquido entre as nuvens e os céus e os grandes mares à superfície. Ao puxar para trás o véu de Titã, a Cassini inaugurou uma nova era de oceanografia extraterrestre - encanando as profundezas de mares alienígenas - e forneceu um exemplo fascinante de processos tipo-terrestres que ocorrem com química e a temperaturas marcadamente diferentes do nosso planeta natal.
Nas décadas que agora se seguem à Cassini, os cientistas esperam regressar ao sistema saturniano e continuar as muitas descobertas da missão. Os conceitos atualmente em consideração incluem naves para navegar nos mares de metano de Titã e voar através das plumas de Encélado e recolher e analisar amostras à procura de sinais de biologia.

Atmosferas dos planetas gigantes
As sondas atmosféricas com destino a todos os quatro planetas exteriores há muito que são prioridade para a comunidade científica, e o mais recente Levantamento Decenal de Ciência Planetária continua a apoiar o interesse em enviar outra missão a Saturno. Ao "provar" diretamente a atmosfera superior de Saturno durante as suas órbitas e durante o mergulho final, a Cassini cria as bases para uma eventual sonda atmosférica de Saturno.
Mais longe no Sistema Solar, os cientistas há muito tempo que querem explorar Úrano e Neptuno. Até agora, cada um destes mundos só foi visitado, brevemente, por uma única nave (a Voyager 2, em 1986 e 1989, respetivamente). Coletivamente, Úrano e Neptuno são referidos como planetas "gigantes gelados" porque contêm grandes quantidades de material (como água, amónia e metano) que formam gelos nas profundezas frias do Sistema Solar exterior. Isto torna-os fundamentalmente diferentes dos gigantes gasosos como Júpiter e Saturno, compostos principalmente por hidrogénio e hélio, e dos planetas rochosos e mais interiores como a Terra ou Marte. 
Ainda não sabemos com clareza como e onde os gigantes gelados se formaram, o porquê dos seus campos magnéticos estarem estranhamente orientados e o que impulsiona a atividade geológica em algumas das suas luas. Esses mistérios fazem de Úrano e Neptuno alvos cientificamente importantes e esta importância é reforçada pela descoberta de que muitos planetas em torno de outras estrelas parecem ser semelhantes aos nossos próprios gigantes de gelo.
Uma variedade de potenciais conceitos foi discutida num estudo recentemente concluído, entregue à NASA em preparação do próximo Levantamento Decenal - incluindo orbitadores, passagens rasantes e sondas que mergulhariam na atmosfera de Úrano para estudar a sua composição. As futuras missões aos gigantes gelados podem explorar esses mundos usando uma abordagem semelhante à da missão Cassini.
Fonte: Astronomia OnLine

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