A Dança das Galáxias Pequenas Que Rodeiam a Via Láctea
Os movimentos de 39 galáxias anãs. No fundo vemos a imagem construída a partir de fontes pontuais pelo Gaia. Só podemos ver as galáxias anãs mais brilhantes, e até elas são pouco visíveis. As galáxias estão legendadas com os seus nomes e as setas mostram a direção do seu movimento em relação ao centro da Via Láctea. A cor indica a direção radial: aquelas a azul são a aproximar-se do centro, aquelas a vermelho estão a afastar-se. Crédito: DPAC (Data Processing and Analysis Constium) do Gaia; A. Moitinho/AF Silva/M. Barros/C. Barata, Universidade de Lisboa, Portugal; H. Savietto, Investigação Fork, Portugal
Uma equipe internacional,
liderada por investigadores do Instituto de Astrofísica das Canárias, usou
dados do satélite Gaia da ESA para medir o movimento de 39 galáxias anãs. Estes
dados fornecem informações sobre a dinâmica destas galáxias, as suas histórias
e as suas interações com a Via Láctea. Em redor da Via Láctea
existem muitas galáxias pequenas (anãs), que podem ser dezenas de milhares de
vezes ou até milhões de vezes menos luminosas do que a Via Láctea. Em
comparação com galáxias normais ou gigantes, as galáxias anãs contêm muito
menos estrelas e, portanto, a sua luminosidade é menor.
Estas galáxias pequenas foram
objeto de estudo por parte de uma equipe internacional de astrónomos liderada
por Tobias K. Fritz e Giuseppina Battaglia, ambos do IAC (Instituto de
Astrofísica das Canárias). Graças a dados obtidos pela missão espacial Gaia da
ESA, que se tornaram disponíveis no seu segundo lançamento em abril de 2018, os
cientistas puderam medir o movimento no céu de 39 galáxias anãs, determinando a
sua direção e velocidade.
Antes do segundo lançamento
de dados do satélite Gaia, não era possível realizar estas medições para 29 das
galáxias analisadas pela equipe. Os investigadores descobriram que muitas delas
estão a mover-se num plano conhecido como vasta estrutura polar. "Já se
sabia que muitas das galáxias anãs mais massivas eram encontradas neste plano -
diz Fritz, autor principal do artigo científico -, mas agora sabemos que também
várias das galáxias anãs menos volumosas podem pertencer a essa
estrutura."
Battaglia destaca que a
origem da "vasta estrutura polar" não é ainda totalmente
compreendida, mas as suas características parecem desafiar os modelos
cosmológicos de formação galáctica. "A Grande Nuvem de Magalhães também
pode ser encontrada nesta estrutura plana, o que pode significar uma ligação.
Através da análise dos dados
relativos aos movimentos, a equipe descobriu que várias das galáxias anãs têm
órbitas que as aproximam das regiões internas da Via Láctea. A atração
gravitacional que a Via Láctea exerce sobre essas galáxias pode ser comparada à
ação das marés. "É provável que algumas das galáxias anãs estudadas sejam
perturbadas por essas marés, que as esticam como uma corrente." Dessa
forma, poder-se-ia explicar as propriedades observadas de alguns destes
objetos, como Hercules e Crater II," comenta Fritz. Por outro lado, surgem
novas questões.
"Ao longo dos anos, observou-se que algumas galáxias têm
características peculiares que podem, potencialmente, ter sido provocadas por
perturbações de maré pela Via Láctea (por exemplo, Carina I) - indica Battaglia
-, mas as suas órbitas não parecem confirmar esta hipótese. Talvez devêssemos
postular que os encontros com outras galáxias anãs podem ser os culpados."
As órbitas determinadas
permitiram com que os investigadores detetassem que a maioria das galáxias
estudadas se encontram próximo do pericentro da sua órbita (o ponto mais
próximo do centro da Via Láctea). No entanto, a física básica explica que devem
passar a maior parte do tempo perto do apocentro (o ponto mais distante do
centro da Via Láctea). "Isto sugere que devem existir muitas mais galáxias
anãs que ainda precisam ser descobertas e que se escondem a grandes distâncias
do centro da Via Láctea," afirma Fritz.
As galáxias anãs, além de
serem interessantes por si só, são um dos poucos indicadores de matéria escura
que podem usados nas partes mais externas da Via Láctea. Pensa-se que este tipo
de matéria é responsável por cerca de 80% da massa total do Universo. No
entanto, não pode ser observada diretamente, portanto, a sua deteção é difícil.
Os movimentos de corpos celestes como as galáxias anãs podem ser usados para
medir a massa total de matéria dentro de um volume.
Para este objetivo,
subtrai-se a massa desses objetos luminosos detetados e obtemos uma estimativa
da quantidade de matéria escura. A partir desses dados, os investigadores podem
inferir que a quantidade de matéria escura na Via Láctea é grande,
aproximadamente 1,6 biliões de massas solares.
Fonte: Astronomia OnLine
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