Estrela mais brilhante da galáxia será visível da Terra
Eta
Carinae, estrela mais luminosa da Via Láctea, perderá nuvem de poeira que hoje
ofusca seu brilho quando vista da Terra.[Imagem: Nasa/Nathan Smith/Berkeley]
Eta Carinae
Apesar de brilhar com a intensidade de cinco milhões de sóis, a estrela
conhecida mais luminosa da Via Láctea, Eta Carinae, localizada a 7,5 mil
anos-luz do Sistema Solar, não é visível a olho nu da Terra. Isso não vai durar muito, no entanto. Um estudo liderado pelo astrônomo
brasileiro Augusto Damineli, da Universidade de São Paulo (USP), indica que em
breve, em pouco mais de 10 anos, a nuvem de poeira e gás que esconde Eta
Carinae dos olhos nus dos terráqueos terá se dissipado e ela poderá ser vista
em todo o seu brilho.
Sua luz se tornará duas vezes e meia maior do que atualmente é visível
por telescópios.
A Eta Carinae tem sido, depois do Sol, a estrela a mais observada (por
telescópios), fotografada e estudada do universo - ao menos pelos humanos. Mas
também é uma das mais intrigantes e misteriosas. Muito jovem, com apenas 2,5 milhões de idade, ou cerca 1,8 mil vezes
mais nova que o Sol, ela é uma supergigante da raríssima classe das luminosas
azuis (que têm uma temperatura mais quente), das quais se conhece apenas
algumas dezenas.
Situada na constelação austral de Carina, à direita do Cruzeiro do Sul,
Eta Carinae foi catalogada em 1677 pelo astrônomo Edmond Halley, mas só começou
a chamar a atenção em 1843, quando uma grande erupção lançou ao espaço matéria
equivalente à massa de dezenas de sóis. Como consequência, seu brilho aumentou
tanto que Eta Carinae ficou visível durante meses durante o dia da Terra.
Em contrapartida, criou-se uma nebulosa em torno dela, com o formato de
uma ampulheta ou lóbulos, chamada de Homúnculo, com 3 trilhões de quilômetros
(4 meses-luz) de uma ponta a outra, que, junto com nuvens de poeira e gases,
lançadas durante a mesma explosão, ofusca seu brilho em direção ao nosso
planeta. Além desta, houve pelo menos duas outras erupções menores conhecidas,
uma vista em 1250 e outra em 1890.
Em 2014, Damineli publicou um trabalho no qual ele criou um mapa 3D da
nebulosa do Homúnculo.
Este é um mapa 3D do Homúnculo, feito pela equipe. [Imagem:
IAG/USP/NASA Goddard Space Center/Ed Campion]
Aparece estrela, desaparece nebulosa
Desde então, muito se aprendeu sobre esse astro. Grande parte das
descobertas recentes se deve a Damineli, entre elas a de que Eta Carinae é um
sistema duplo, composto por dois astros. Ele descobriu que a cada 5,5 anos a estrela sofre um pequeno
"apagão" para quem a observa da Terra. Damineli concluiu que isso
deve ocorrer porque o sistema é duplo e uma das estrelas, a menor, passa na
frente da outra. Hoje, isso é um fato aceito por todos.
A estrela menor tem 30 vezes a massa do Sol e a maior, 90. "Se
fosse colocada no lugar da nossa estrela, a superfície desta última estaria
além da órbita da Terra, entre nosso planeta e Marte. Ela brilha escondida
atrás da poeira com uma potência de 5 milhões de sóis, o que está no limite
teórico, um pouco mais que isso, ela evaporaria. Nos últimos 20 anos,
astrônomos detectaram um aumento do brilho da Eta Carinae, que se fosse dela
mesmo já teria ultrapassado esse limite. Com isso, surgiu a hipótese de que ela
explodiria dentro de algumas décadas," detalha Damineli.
No novo trabalho, ele conclui que não é isso que está acontecendo com a
estrela. Para chegar a esse resultado, Damineli coordenou uma equipe de 17
pesquisadores do Brasil, Argentina, Alemanha, Canadá, e Estados Unidos, que
analisou todos os dados de observação disponíveis sobre Eta Carinae dos últimos
80 anos.
Damineli e seus colaboradores propõem que o aumento de brilho de Eta
Carinae não é intrínseco a ela como muitos pesquisadores imaginaram, mas é
causado pela dissipação de uma nuvem de poeira posicionada exatamente na frente
dela, em direção à Terra.
O estudo revelou que, além de três nuvens de gás (chamados glóbulos de
Weigelt) existe uma quarta. "Ela cobre completamente a estrela e seus
ventos, apagando a maior parte de sua luz viajando em nossa direção",
explica o professor da USP. "Uma das outras três se desfez recentemente,
um indício de que o mesmo deverá acontecer com a que tapa nossa visão."
Apesar dessa nuvem de poeira, a Nebulosa do Homúnculo pode ser vista
diretamente, pois é 200 vezes maior do que ela e seu brilho quase não é
afetado. Mas isso também vai acabar em breve.
"Em 2032, ou quatro anos a mais ou a menos, a poeira terá
desaparecido e o brilho aparente da estrela não aumentará mais, mas ofuscará a
nebulosa", diz Damineli. "Ou seja, em poucos anos, perderemos a
oportunidade de tirar belas fotos do Homúnculo, mas veremos mais claramente o
par de estrelas gêmeas dentro. Os apagões periódicos também poderão ser vistos
com mais clareza."
Fonte: Inovação Tecnológica
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