Anel nublado e frio em torno do buraco negro supermassivo da Via Láctea
Impressão de artista do anel de gás interestelar frio em redor
do buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea. Novas observações do ALMA
revelaram, pela primeira vez, esta estrutura. Crédito: NRAO/AUI/NSF; S.
Dagnello
Novas observações do ALMA revelam
um disco nunca antes visto de gás interestelar frio envolvido em torno do
buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea. Este disco nublado dá aos
astrónomos novas informações sobre o funcionamento da acreção: o desvio de
material para a superfície de um buraco negro. Os resultados foram publicados
na revista Nature.
Através de décadas de estudo,
os astrónomos desenvolveram uma imagem mais clara da vizinhança caótica e
povoada em redor do buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea. O nosso
Centro Galáctico está a aproximadamente 26.000 anos-luz da Terra e o buraco
negro supermassivo, conhecido como Sagitário A*, tem 4 milhões de vezes a massa
do nosso Sol.
Sabemos agora que esta região está repleta de estrelas errantes,
nuvens de poeira interestelar e um grande reservatório de gases fenomenalmente
quentes e comparativamente mais frios. Pensa-se que estes gases orbitem o
buraco negro num vasto disco de acreção que se estende a poucas décimas de um
ano-luz do horizonte de eventos do buraco negro.
No entanto, até agora, os
astrónomos só tinham conseguido fotografar a porção quente e ténue deste gás em
acreção, que forma um fluxo aproximadamente esférico e que não mostra uma
rotação óbvia. A sua temperatura está estimada em 10 milhões de graus Celsius,
ou cerca de metade da temperatura do núcleo do nosso Sol. A esta temperatura, o
gás brilha intensamente em raios-X, permitindo que seja estudado por
telescópios de raios-X no espaço, até à escala de um-décimo de um ano-luz do
buraco negro.
Além deste gás incandescente
e quente, observações anteriores com telescópios de comprimento de onda
milimétrico detetaram um grande reservatório de hidrogénio gasoso
comparativamente mais frio (cerca de 10 mil graus Celsius) a poucos anos-luz em
torno do buraco negro. A contribuição deste gás para o fluxo de acreção do
buraco negro era anteriormente desconhecida.
Embora o buraco negro do
nosso Centro Galáctico seja relativamente calmo, a radiação em seu redor é
forte o suficiente para fazer com que os átomos de hidrogénio continuem a
perder e a recombinar-se com os seus eletrões. Esta recombinação produz um
sinal distintivo de comprimento de onda milimétrico, que é capaz de atingir a
Terra com muito poucas perdas no caminho.
Com a sua notável sensibilidade e capacidade
em ver detalhes, o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) foi
capaz de detetar este ténue sinal de rádio e de produzir a primeira imagem do
disco de gás mais frio que rodeia o buraco negro supermassivo da Via Láctea a
apenas um-centésimo de ano-luz de distância, ou cerca de 1000 vezes a distância
da Terra ao Sol.
Estas observações permitiram que os astrónomos mapeassem a
localização e rastreassem o movimento desse gás. Os investigadores estimam que
a quantidade de hidrogénio neste disco frio é equivalente a um-décimo da massa
de Júpiter, ou a 1/10.000 da massa do Sol.
Através do mapeamento dos
desvios nos comprimentos de onda desta radiação de rádio devido ao efeito
Doppler (a luz dos objetos que se movem em direção à Terra é ligeiramente
desviada para a porção mais "azul do espectro enquanto a luz dos objetos
que se movem para longe da Terra é ligeiramente desviada para a porção mais
"vermelha"), os astrónomos puderam ver claramente que o gás está a
girar em torno do buraco negro.
Esta informação fornecerá novas informações
sobre como os buracos negros devoram a matéria e a complexa interação entre um
buraco negro e a sua vizinhança galáctica.
"Fomos os primeiros a
fotografar este disco elusivo e a estudar a sua rotação," comentou Elena Murchikova,
membro, em astrofísica, do Instituto de Estudos Avançados em Princeton, Nova
Jersey, EUA. "Também estamos a estudar a acreção para o buraco negro. Isto
é importante porque é o buraco negro supermassivo mais próximo.
Mesmo assim,
ainda não temos um bom entendimento de como funciona a acreção. Esperamos que
estas novas observações do ALMA ajudem o buraco negro a ceder alguns dos seus
segredos."
Fonte: Astronomia OnLine
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!