Os elementos pesados da Terra nasceram em explosões de supernovas
O ouro das nossas joias é de
outro mundo - e isto não é apenas um elogio.
Numa descoberta que pode
derrubar a nossa compreensão de onde os elementos pesados da Terra, como ouro e
platina, vêm, uma nova investigação feita por um físico da Universidade de
Guelph sugere que a maior parte destes materiais foram expelidos por um tipo de
explosão estelar largamente negligenciada, bem longe no espaço e no tempo.
Cerca de 80% dos elementos
pesados do Universo formaram-se provavelmente em colapsares, uma forma rara de
explosão de supernova, mas rica em elementos pesados, após o colapso de
estrelas massivas e velhas tipicamente 30 vezes mais massivas do que o nosso
Sol, disse o professor de física Daniel Siegel.
Essa descoberta anula a ideia
generalizada de que estes elementos vêm principalmente de colisões entre
estrelas de neutrões ou entre uma estrela de neutrões e um buraco negro,
explicou Siegel.
O seu trabalho, em coautoria
com colegas da Universidade de Columbia, foi publicado na revista Nature.
Usando supercomputadores, os
três cientistas simularam a dinâmica dos colapsares, ou estrelas antigas cuja
gravidade faz com que implodam e formem buracos negros.
No seu modelo, os colapsares
massivos e com rápida rotação ejetam elementos pesados, cujas quantidades e
distribuição são "surpreendentemente semelhantes ao que observamos no nosso
Sistema Solar," explicou Spiegel.
A maioria dos elementos
encontrados na natureza foram produzidos em reações nucleares em estrelas e,
finalmente, expelidos por enormes explosões estelares.
Os elementos pesados
encontrados na Terra e noutras partes do Universo, de explosões remotas, variam
de ouro a platina, de urânio a plutónio usados em reatores nucleares, até
elementos químicos mais exóticos como o neodímio, encontrado em produtos
eletrónicos.
Até agora, os cientistas
pensavam que estes elementos eram "cozinhados" principalmente em
colisões estelares envolvendo estrelas de neutrões ou buracos negros, como numa
colisão entre duas estrelas de neutrões observada por detetores terrestres
bastante noticiada em 2017.
Ironicamente, disse Siegel, a
sua equipa começou a trabalhar para entender a física dessa fusão antes das
suas simulações apontarem para os colapsares como uma incubadora de elementos
pesados. "A nossa investigação sobre estrelas de neutrões levou-nos a
pensar que o nascimento de buracos negros, num tipo muito diferente de explosão
estelar, podia produzir ainda mais ouro do que as fusões entre estrelas de
neutrões."
O que aos colapsares falta em
frequência, compensa no fabrico de elementos pesados, realçou Siegel. Os
colapsares também produzem flashes intensos de raios-gama.
"Oitenta por cento
destes elementos pesados que vemos devem vir dos colapsares. Os colapsares são
bastante raros em termos de ocorrência de supernovas, ainda mais raros do que
as fusões de estrelas de neutrões - mas a quantidade de material ejetado para o
espaço é muito maior do que a das fusões de estrelas de neutrões."
A equipa espera agora ver o
seu modelo teórico validado por observações. Siegel disse que instrumentos
infravermelhos como os do Telescópio Espacial James Webb, com lançamento
previsto para 2021, devem ser capazes de detetar a radiação indicadora de
elementos pesados de um colapsar numa galáxia distante.
"Essa seria uma
assinatura clara," disse, acrescentando que os astrónomos também podem
detetar evidências de colapsares observando as quantidades e a distribuição de
elementos pesados noutras estrelas da nossa Via Láctea.
Siegel salientou que esta
investigação pode fornecer pistas sobre a formação da nossa Galáxia.
"Tentar descobrir de
onde vêm os elementos pesados pode ajudar-nos a entender como a Via Láctea foi
'montada' quimicamente e como se formou. Isto pode realmente ajudar a resolver
algumas grandes questões da cosmologia, já que os elementos pesados são um bom
rastreador."
Este ano assinala-se o 150.º
aniversário da criação da tabela periódica dos elementos químicos de Dmitri
Mendeleev. Desde então, os cientistas acrescentaram muitos outros elementos à
tabela periódica, um marco dos livros escolares e científicos de todo o mundo.
Referindo-se ao químico
russo, Siegel disse: "Conhecemos muitos outros elementos químicos que ele
não conhecia. O que é fascinante e surpreendente é que, após 150 anos a estudar
os blocos fundamentais da natureza, ainda não entendemos bem como o Universo
produz uma grande parte dos elementos da tabela periódica."
Fonte: Astronomia OnLine
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