Encontradas duas estrelas anãs brancas que orbitam em minutos
Impressão de artista de um par de anãs brancas, de nome ZTF J1530+5027. Este par "eclipsante" de anãs brancas orbita-se uma à outra a cada sete minutos: quando a estrela maior e mais fria passa em frente, ou eclipsa, a estrela mais pequena e quente, a luz da estrela mais pequena é bloqueada. Para os astrónomos que observam o sistema, o par parece ter desaparecido durante aproximadamente 30 segundos durante a fase eclipsante da sua órbita.Crédito: Caltech/IPAC/R. Hurt
Duas estrelas mortas foram
vistas a orbitar-se uma à outra a cada sete minutos. A descoberta celeste rara
foi feita usando o ZTF (Zwicky Transient Facility) do Caltech, um levantamento
do céu topo-de-gama no Observatório Palomar que varre rapidamente o céu noturno
à procura de qualquer coisa que se mova, pisque ou varie de brilho.
O novo duo dinâmico,
oficialmente conhecido como ZTF J1539+5027, é o segundo par mais rápido de
estrelas mortas que se orbitam, de nome anãs brancas, encontrado até hoje. O
par é também o mais rápido "sistema binário eclipsante", o que
significa que uma anã branca cruza repetidamente em frente da outra a partir do
nosso ponto de vista. A natureza eclipsante das companheiras estelares é
fundamental porque permite que os astrónomos aprendam os tamanhos, as massas e
os períodos orbitais das estrelas.
Cada uma das
recém-descobertas anãs brancas tem aproximadamente o tamanho da Terra, uma
sendo um pouco menor e mais brilhante que a outra, e juntas têm uma massa
equivalente à do nosso Sol. Os dois objetos orbitam muito próximos um do outro,
a um-quinto da distância entre a Terra e a Lua; na verdade, as estrelas em
órbita cabiam dentro do planeta Saturno. E completam uma volta em torno da
outra a cada sete minutos a velocidades de centenas de quilómetros por segundo.
"À medida que a estrela
mais fraca passa em frente da mais brilhante, bloqueia a maior parte da luz,
resultando no padrão cintilante de sete minutos que vemos nos dado do
ZTF," disse o estudante Kevin Burdge do Caltech, autor principal de um
novo estudo sobre as estrelas publicado na edição de 25 de julho da revista
Nature.
"A matéria está a
preparar-se para sair da anã branca, maior e mais leve, para a anã mais pequena
e mais pesada, que acabará por absorver
completamente a sua companheira mais leve. Já vimos muitos exemplos de um
tipo de sistema em que uma anã branca foi canibalizada pela sua companheira,
mas raramente avistamos sistemas onde ainda se estão a fundir, como
neste."
O par também é único por ser
uma das poucas fontes conhecidas de ondas gravitacionais - ondulações no espaço
e no tempo - que serão captadas pela futura missão espacial europeia LISA
(Laser Interferometer Space Antenna), que deverá ser lançada em 2034. LISA será
semelhante ao LIGO (Laser Interferometer Gravitational-wave Observatory) do
NSF, que fez história em 2015 ao fazer a primeira deteção direta de ondas
gravitacionais de um par de buracos negros em colisão. Mas o LISA detetará as
ondas, no espaço, em frequências mais baixas.
"Estas duas anãs brancas
estão a fundir-se porque estão a emitir ondas gravitacionais. Uma semana depois
do LISA ficar ativo, deverá detetar as ondas gravitacionais deste
sistema," diz o coautor Tom Prince, professor de física no Caltech e
investigador sénior do JPL. "O LISA encontrará dezenas de milhares de
sistemas binários como este na nossa Galáxia, mas até agora só conhecemos
alguns. E este sistema binário de anãs brancas é um dos mais bem caracterizados
devido à sua natureza eclipsante."
Um rápido piscar no céu
noturno
O objeto raro foi detetado
pela grande câmara de 576 megapixéis do ZTF, que varre rapidamente todo o céu a
cada três noites e a maior parte do plano da Via Láctea todas as noites. Burdge
encontrou ZTF J1539+5027 executando um programa de computador que rastreou 10
milhões de objetos cósmicos, procurando mudanças durante um período de três
meses. Assim que encontrou objetos candidatos com o ZTF, Burdge usou o NOAO
(National Optical Astronomy Observatory) em Kitt Peak para acompanhar e
encontrar os candidatos mais promissores.
"Este par destacou-se
porque o sinal repete-se com muita frequência e de maneira tão
previsível," disse Burdge, membro da equipa do ZTF no Caltech.
"Antes, não conseguíamos procurar objetos que mudam sistematicamente em
escalas de tempo de minutos. O ZTF permite-nos fazer isso porque a sua câmara é
enorme e porque pode facilmente tirar fotos do céu e depois voltar e
repetir." Observações posteriores com o Telescópio Hale de 200 polegadas,
no Observatório Palomar, ajudaram a refinar as medições do novo sistema.
"Apenas alguns meses
depois de ficar ativo, os astrónomos do ZTF detetaram anãs brancas que se
orbitam umas às outras num ritmo recorde," disse Anne Kinney, diretora
assistente de ciências matemáticas e físicas do NSF. "É uma descoberta que
melhorará em muito a nossa compreensão desses sistemas e é uma amostra das
surpresas que ainda estão por vir."
Um par emaranhado
As anãs brancas começam as
suas vidas como estrelas como o nosso Sol, exceto que estavam unidas como um
par íntimo. À medida que as estrelas envelheceram, transformaram-se em gigantes
vermelhas, embora não ao mesmo tempo. Com o tempo, as estrelas inchadas
soltaram as suas camadas externas, deixando para trás duas estrelas mortas - as
anãs brancas.
"Às vezes estas anãs
brancas binárias fundem-se numa única estrela, e outras vezes a órbita aumenta
à medida que a anã branca mais leve é gradualmente destruída pela mais
massiva," explicou o coautor James (Jim) Fuller, professor assistente de
astrofísica teórica no Caltech. "Não temos certeza do que acontecerá neste
caso, mas a descoberta de mais sistemas deste tipo dir-nos-á com que frequência
estas estrelas sobrevivem aos seus encontros imediatos."
Outro mistério que os
investigadores esperam responder no futuro envolve a temperatura da anã branca
mais quente, estimada em 50.000º C, ou nove vezes mais quente do que o Sol.
Pensa-se que esta anã branca seja tão quente porque está a começar a
"alimentar-se" da sua companheira e a puxar material, um processo que
aquece este material a temperaturas escaldantes. Mas esta alimentação, ou
processo de "acreção", é geralmente associado a raios-X, e os
investigadores não estão a detetá-los.
"É estranho que não
estejamos a ver raios-X neste sistema. Uma possibilidade é que os pontos de
acreção na anã branca - as áreas para onde o material está a cair - sejam
maiores do que o normal, e isso poderá resultar na emissão de luz ultravioleta e
visível em vez de raios-X," acrescentou Burdge.
A equipa diz que a anã branca
dupla, localizada a quase 8000 anos-luz de distância na direção da constelação
de Boieiro, deverá continuar a piscar no céu noturno por aproximadamente cem
mil anos. Os astrónomos amadores até poderão observar o par como um único ponto
no céu, piscando a cada sete minutos, com a ajuda de um telescópio com pelo
menos um metro de tamanho.
Fonte: Astronomia OnLine
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