ALMA mostra o interior das tempestades de Júpiter
Imagem rádio de
Júpiter obtida com o ALMA. As bandas brilhantes indicam temperaturas altas e as
bandas escuras temperaturas baixas. As bandas escuras correspondem a zonas em
Júpiter normalmente brancas no visível. As bandas brilhantes correspondem às
cinturas acastanhadas no planeta. Esta imagem contém mais de 10 horas de dados,
de modo que os detalhes são difusos devido à rotação do planeta.Crédito: ALMA
(ESO/NAOJ/NRAO), I. de Pater et al.; NRAO/AUI/NSF, S. Dagnello
Nuvens rodopiantes, grandes
cinturas coloridas, tempestades gigantes. A atmosfera linda e incrivelmente
turbulenta de Júpiter tem sido exibida muitas vezes. Mas o que está a acontecer
por baixo das nuvens? O que provoca tantas tempestades e erupções que vemos à
"superfície" do planeta? Para estudar isto, a luz visível não é
suficiente. Precisamos de estudar Júpiter usando ondas de rádio.
Novas imagens feitas com o
ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) fornecem uma visão única da
atmosfera de Júpiter até cinquenta quilómetros abaixo da camada visível de
nuvens (de amónia) do planeta.
Primeiro mapa de Júpiter no rádio pelo ALMA (topo) e luz visível pelo Telescópio Espacial Hubble (baixo). A erupção na Cintura Equatorial Sul é visível em ambas as imagens.Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), I. de Pater et al.; NRAO/AUI/NSF, S. Dagnello; NASA/Hubble
"O ALMA permitiu-nos
fazer um mapa tridimensional da distribuição de amónia abaixo das nuvens. E,
pela primeira vez, fomos capazes de estudar a atmosfera por baixo das camadas
de nuvens de amónia depois de uma erupção energética em Júpiter," disse
Imke de Pater da Universidade da Califórnia, em Berkeley, EUA.
A atmosfera do planeta
gigante Júpiter é composta principalmente de hidrogénio e hélio, juntamente com
os gases residuais metano, amónia, hidrossulfeto e água. A camada mais alta de
nuvens é composta por amónia gelada. Por baixo, há uma camada de partículas
sólidas de hidrossulfeto de amónia e, ainda mais profundamente, a cerca de 80
quilómetros por baixo do topo das nuvens, existe provavelmente uma camada de
água líquida. As nuvens superiores formam as distintivas zonas acastanhadas e
brancas vistas da Terra.
Mapa esférico de Júpiter, pelo ALMA, que mostra a distribuição do gás amónia por baixo do topo das nuvens de Júpiter. Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), I. de Pater et al.; NRAO/AUI/NSF, S. Dagnello
Muitas das tempestades em
Júpiter ocorrem dentro destas cinturas. Podem ser comparadas a tempestades na
Terra e são frequentemente associadas com eventos de relâmpagos. As tempestades
revelam-se no visível como pequenas nuvens brilhantes, chamadas de plumas.
Estas erupções de plumas podem provocar uma grande perturbação na cintura, que
pode permanecer visível durante meses ou anos.
As imagens do ALMA foram
obtidas alguns dias depois dos astrónomos amadores terem observado uma erupção
na Cintura Equatorial Sul de Júpiter em janeiro de 2017. Ao início foi vista
uma pequena pluma brilhante, e depois uma rutura em grande escala na cintura
que durou semanas após a erupção.
De Pater e colegas usaram o
ALMA para estudar a atmosfera por baixo da pluma e a cintura perturbada no
rádio e compararam estas imagens com imagens no UV-visível e no infravermelho,
obtidas com outros telescópios aproximadamente ao mesmo tempo.
Ilustração da "convecção húmida" na atmosfera de Júpiter que mostra uma pluma que tem origem 80 quilómetros abaixo do topo das nuvens, onde a pressão é cinco vezes a da Terra (5 bares), subindo pelas regiões onde a água condensa-se, hidrossulfeto de amónia se forma e a amónia solidifica-se como gelo, logo abaixo da região mais fria da atmosfera, a tropopausa. Crédito: adaptado de ilustração de Leigh Fletcher, Universidade de Leicester
"As nossas observações
do ALMA são as primeiras a mostrar que altas concentrações de amónia sobem pela
atmosfera durante uma erupção energética, disse de Pater. "A combinação de
observações simultâneas em vários comprimentos de onda diferentes permitiu-nos
examinar a erupção em detalhes. O que nos levou a confirmar a teoria atual de
que as plumas energéticas são desencadeadas pela convecção húmida na base das
nuvens de água, localizadas no fundo da atmosfera. As plumas trazem o gás
amónia das profundezas da atmosfera até grandes altitudes, bem acima da camada
principal superior de amónia," acrescentou.
"Estes mapas ALMA, em
comprimentos de onda milimétricos, complementam os mapas feitos com o VLA (Very
Large Array) da NSF nos comprimentos de onda centimétricos," disse Bryan
Butler, do NRAO (National Radio Astronomy Observatory). "Ambos os mapas
sondam abaixo do topo das nuvens vistas em comprimentos de onda visíveis e
mostram gases ricos em amónia a subir para e a formar camadas superiores
(zonas), e o ar pobre em amónia a descer (cinturas)."
"Os resultados atuais
mostram soberbamente o que pode ser alcançado na ciência planetária quando um
objeto é estudado com vários observatórios e em vários comprimentos de
onda," explica Eric Villard, astrónomo do ALMA e parte da equipe de
investigação. "O ALMA, com a sua sensibilidade sem precedentes e resolução
espectral no rádio, trabalhou com sucesso em conjunto com outros observatórios
em todo o mundo para fornecer os dados que permitiram uma melhor compreensão da
atmosfera de Júpiter."
Fonte: Astronomia OnLine
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