A pior previsão já feita pela Física pode ter sido solucionada
Por enquanto não há nenhuma pista da energia escura - e nem da
matéria escura. [Imagem: HUAPL/SwRI]
Mancadas
científicas
Você conhece a história:
Einstein acreditava que o Universo era estático, embora sua teoria indicasse
outra coisa. Para ajeitar tudo, ele introduziu em suas equações a constante
cosmológica λ (lambda), e o Universo parou.
A parada - apenas na cabeça
dos físicos, é claro - foi rápida porque, em 1929, Georges Lemaitre descobriu a
expansão do Universo com dados observacionais, o que fez Einstein chamar sua
constante de "a maior mancada da minha vida" (The greatest blunder of
my life).
A coisa ficou mais séria em
1998, quando a análise de supernovas distantes mostrou que o Universo estava
não apenas acelerando, mas que essa aceleração estava se tornando cada vez
maior.
A constante cosmológica foi
mais uma vez chamada à cena para descrever o fenômeno, que os físicos chamam de
"energia do vácuo", uma energia cuja natureza é desconhecida - hoje
ela é chamada de energia escura, quintessência e outros nomes menos comuns -,
mas à qual é atribuída a responsabilidade pela aceleração da expansão do
Universo.
Mas aí surgiu um problema
ainda maior, talvez o maior de toda a Física.
A teoria prevê que a
constante cosmológica vale 3,83 × 10+69 m-2. As observações mais precisas já
feitas, por sua vez, com base na radiação de fundo de micro-ondas, chegaram a
um valor de 1,11 × 10-52 m-2, o que é minúsculo, mas ainda assim suficiente
para explicar a expansão acelerada.
Essa diferença gigantesca -
10+121, isto é, um "1" seguido de 121 "0" - passou a ser
conhecida como a pior previsão já feita por qualquer teoria no campo da Física.
Constantes
que variam
Agora, Lucas Lombriser, da
Universidade de Genebra, na Suíça, quer tirar essa sujeira de debaixo do
tapete. E, para isso, ele teve uma ideia, por assim dizer, mirabolante.
O truque consiste em
introduzir uma variação na constante universal de gravitação G, bolada por
Newton, mas que aparece nas equações de Einstein.
Sim, uma variação em uma
constante significa torná-la "inconstante". A ideia de
"constantes inconstantes" não é exatamente nova para os físicos, e há
mesmo alguns indícios experimentais de que a força da gravidade pode não ser
constante.
Teoria
dos Muitos Mundos
A interpretação prática da
variação na gravidade proposta por Lombriser é que nosso Universo, com um G =
6,67408 × 10-11 m3 / kg s2, seria um caso especial entre um infinito número de
diferentes possibilidades.
Isso se encaixa na
"Teoria dos Muitos Mundos", que propõe a existência de múltiplos
universos paralelos, incomunicáveis entre si, cada um emergindo conforme cada
função de onda colapse - observe que a "Teoria dos Muitos Mundos" é
diferente da teoria dos Multiversos, que propõe a existência de múltiplos
universos independentes em diferentes regiões do espaço-tempo, o que pode
permite que um "toque" no outro.
Por exemplo, quando uma
medição decidir se o gato de Schrodinger está vivo ou morto, e ele se
manifestar vivo em nosso Universo, o gato emergirá morto noutro universo ao
qual nunca teremos acesso, mas que é igualmente real porque ambas as opções,
vivo e morto, são igualmente verdadeiras para a mecânica quântica.
A matemática do professor
Lombriser não chega a λ, mas ao parâmetro ωλ (ômega lambda), que é outra
maneira de expressar a constante cosmológica, mas que é mais fácil de manipular
e de entender. Esse parâmetro designa a fração atual do Universo que é composta
de energia escura (o restante sendo composto de matéria). O valor teórico
obtido é 0,704 ou 70,4%, o que é muito mais próximo da melhor estimativa
experimental obtida até o momento, 0,685 ou 68,5%, do que a discrepância de
10121.
A comunidade dos físicos
achou a ideia boa, e agora já há muita gente trabalhando para descobrir se a
matemática do professor Lombriser pode ser usada para reinterpretar ou
esclarecer outros mistérios da cosmologia.
O mais importante, contudo,
será verificar se a nova teoria pode ser usada para fazer uma previsão
experimental que possa ser testada na prática e ver se os resultados batem.
Simples assim. Enquanto isso, é melhor não dispensar o tapete e a vassoura.
Fonte: Inovação Tecnológica
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