É possível atravessar “buracos de minhoca”. Só não seria útil
Há várias décadas, os físicos
teóricos trabalham com o conceito de uma estrutura que permitiria cortar
caminho em trajetos entre as estrelas ou mesmo entre as galáxias: o buraco de
minhoca. Previstos pela teoria da relatividade geral de Einstein, esses túneis
sempre foram vistos como potenciais atalhos para chegar até pontos extremamente
distantes do Universo muito mais depressa do que pela “superfície”. Mas parece
que essas tão sonhadas viagens expressas pelo cosmos não seriam realmente
vantajosas.
É o que afirma Daniel
Jafferis, físico da Universidade Harvard e autor de um novo estudo sobre essas
estruturas. “Leva mais tempo para passar por esses buracos de minhoca do que ir
diretamente, então eles não são muito úteis para a viagem espacial”, diz. O
pesquisador apresentou suas descobertas no último sábado (13) durante uma
reunião da Sociedade Americana de Física (APS, na sigla em inglês) em Denver,
nos Estados Unidos.
Segundo ele, há obstáculos
que impedem os tipos conhecidos de buraco de minhoca funcionem como atalhos
para viagens mais rápidas que a luz. O buraco de minhoca imaginado pelo
pesquisador seria a conexão entre dois buracos negros. O problema é que, se um
astronauta navegasse na direção de um buraco negro e sua monstruosa gravidade,
por exemplo, tudo o que alguém de fora iria ver seria a espaçonave andar cada
vez mais devagar, mas nunca atravessar o horizonte de eventos (a “beirada” do
buraco negro). Gravidade, tempo e espaço se embaralham no interior do buraco de
minhoca, o que inevitavelmente acaba comprometendo a velocidade.
É por isso que os cálculos de
Jafferis sugerem ser mais rápido viajar pelo espaço. Chega a ser irônico, para
não dizer trágico: a natureza permite a existência de túneis ligando regiões
longínquas do espaço, contanto que não haja vantagem na velocidade. “Buracos de
minhoca atravessáveis são como pedir um empréstimo bancário”, escrevem os
autores no artigo, com sarcasmo. “Você só pode obter um se for rico o bastante
para não precisar dele”
Apesar de terem recebido um
belo balde de água fria, as viagens intergalácticas não eram bem o foco de
Jafferis nessa pesquisa. Ele estava muito mais interessado em contribuir para o
desenvolvimento da teoria da gravidade quântica. Você já deve ter ouvido falar
que os dois pilares da física moderna, a relatividade geral e a mecânica
quântica, são como água e óleo: não se misturam. Achar um elo entre as duas
seria descobrir a teoria de tudo.
E, segundo o físico,
encontrar caminhos teóricos sobre como construir um buraco de minhoca pelo qual
a luz possa viajar ajuda muito nessa busca pela conciliação das duas áreas. O
estudo conduzido por Jafferis em colaboração com os colegas Ping Gao, também de
Harvard, e Aron Wall, de Stanford, foi baseado em uma hipótese interessante formulada
em 2013 pelos físicos teóricos Leonard Susskind e Juan Maldacena.
A ideia foi batizada de
ER=EPR, em homenagem aos sobrenomes dos cientistas que escreveram os primeiros
artigos sobre buracos de minhoca (Einstein e Rosen) e sobre o entrelaçamento quântico
(Einstein, Podolski e Rosen). Esse fenômeno faz partículas emaranhadas
compartilharem certas propriedades físicas instantaneamente, mesmo que estejam
em galáxias diferentes. Susskind e Maldacena sugerem que o entrelaçamento nada
mais é do que um buraco de minhoca.
Jafferis concebeu o conceito
de dois buracos negros entrelaçados a nível quântico: conectados, portanto, por
um buraco de minhoca. Mesmo que essa ponte não seja exatamente um atalho, a
nova teoria fornece insights importantes para a mecânica quântica. “Pela
perspectiva exterior, viajar através do buraco de minhoca é equivalente ao
teletransporte quântico usando buracos negros emaranhados”, explica o físico. A
viagem pode até ser lenta – mas certamente seria muito valiosa para a ciência.
Fonte: Super Interessante
https://madruga2001.blogspot.com/2019/07/por-do-sol-eclipsado-ii-esse-eu-tambem.html
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