Um novo método de medir buracos negros
Mapa que mostra o agrupamento de galáxias com buracos negros ativos criado com o Astera, uma ferramenta de visualização cósmica desenvolvida na Universidade de Southampton. Crédito: Chris Marsden
Os buracos negros
supermassivos são os maiores buracos negros, com massas que podem exceder mil
milhões de sóis. Apenas esta primavera foi divulgada a primeira imagem do
buraco negro supermassivo no centro da galáxia M87, e os investigadores
recentemente avistaram o maior buraco negro supermassivo conhecido. Apesar
destes esforços inovadores, descobrir como esses buracos negros moldam e
estruturam uma galáxia continua a ser um desafio, porque a maioria delas está
demasiada longe para os telescópios atuais as resolverem com precisão.
Um estudo publicado na Nature
Astronomy descreve uma nova maneira de "pesar" buracos negros
supermassivos no centro das galáxias usando galáxias vizinhas como
representantes. A investigação foi uma colaboração global envolvendo
investigadores de instituições do Reino Unido, Itália, Alemanha, Chile e
Estados Unidos.
A obtenção de uma estimativa
precisa da massa de um buraco negro supermassivo é geralmente feita medindo a
velocidade da poeira e do gás que gira em seu redor. Isto requer telescópios
extremamente sensíveis usando uma análise complexa e só pode ser feito para
buracos negros grandes o suficiente para serem resolvidos relativamente perto
da Terra. No entanto, se esta massa estiver correlacionada com outras
propriedades da galáxia hospedeira, aquelas que podem ser medidas mesmo quando
o buraco negro é mais pequeno ou está mais distante, é possível usar estas
outras propriedades como "representantes" da massa.
No entanto, como explica
Mariangela Bernardi da Universidade da Pensilvânia, EUA: "Percebemos que
existe um viés na amostra vizinha usada para calibrar as massas. Os objetos
para os quais atualmente podemos medir massas não parecem ser típicos. O nosso
trabalho sugeriu que os buracos negros supermassivos não são, em média, tão
grandes quanto se pensava anteriormente."
Para verificar esta diferença
de massa, os cientistas desenvolveram uma maneira nova e muito diferente de
estimar as massas dos buracos negros. Usaram o facto de que, enquanto um buraco
negro é cercado pela sua galáxia hospedeira, a própria galáxia é cercada por um
"halo" ainda maior de matéria escura. Sabe-se que galáxias cercadas
por halos mais massivos se agrupam com outras galáxias grandes e massivas. Como
existem buracos negros mais massivos em galáxias mais massivas com halos mais
massivos, a força deste agrupamento na verdade "pesa" os halos de
matéria escura e, por conseguinte, as massas dos buracos negros nos seus
centros.
Esta nova medição também
sugere que os buracos negros supermassivos são menos massivos do que se pensava
anteriormente e podem explicar por que é que algumas experiências em andamento
não produziram os resultados esperados. Como exemplo, os pulsares,
remanescentes de estrelas que explodiram, brilham como faróis que giram
centenas de vezes por segundo. A luz dos pulsares é emitida em intervalos
incrivelmente curtos e regulares, à medida que o feixe varre a Terra
repetidamente. Os investigadores estão atualmente à procura de ondas
gravitacionais produzidas pela colisão de dois buracos negros supermassivos, que
devem fazer com que estes feixes oscilem na direção da Terra e para longe da
Terra, à medida que a onda passa e afeta o campo dos pulsos.
Como as mudanças esperadas
ainda não foram vistas, diz Ravi Sheth, também da mesma universidade
norte-americana, "as pessoas estavam a começar a ficar preocupadas com a
possibilidade de que talvez a gravidade fosse estranha, ou talvez não
compreendêssemos completamente a física das fusões que formam ondas
gravitacionais. Mas se as verdadeiras massas dos buracos negros forem menores
do que se pensava, então as ondas gravitacionais previstas seriam mais fracas,
dificultando a deteção das mudanças no 'timing' do pulsar."
Nos próximos 10 anos,
espera-se que novos telescópios sejam capazes de obter medições de massa mais
precisas para buracos negros e proporcionem uma oportunidade para os
investigadores testarem o seu novo método em conjuntos maiores de dados.
Instalações como o ELT (Extremely Large Telescope), com 39 metros, com
conclusão para 2025, podem permitir que os cientistas meçam buracos negros mais
pequenos e mais distantes e as suas galáxias hospedeiras diretamente.
"Estas descobertas têm
implicações significativas para a nossa compreensão da evolução e crescimento
dos buracos negros supermassivos," diz o autor principal Francesco
Shankar. Bernardi acrescenta que este trabalho também permitirá que os
cientistas estudem mais detalhadamente a ligação entre o crescimento dos
buracos negros supermassivos e a evolução das galáxias.
Fonte: Astronomia OnLine
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