Pesquisadores descobrem novos planetas menores além de Netuno
Lista
inclui mais de 100 objetos do Sistema Solar situados além de Netuno descobertos
pelo DES
Plutão, o mais conhecido dos TNOs: centenas de companheiros
detectados pelo DES. Crédito: Nasa/JHU APL/SwRI/Alex Parker
Usando
dados do levantamento Dark Energy Survey (DES), pesquisadores internacionais
encontraram mais de 300 objetos transnetunianos (TNOs, na sigla em inglês),
pequenos planetas localizados nos confins do Sistema Solar, incluindo mais de
100 novas descobertas. Publicado na revista “The Astrophysical Journal
Supplement Series”, o estudo também descreve uma nova abordagem para encontrar
tipos semelhantes de objetos e pode ajudar a futuras pesquisas pelo hipotético
Planeta Nove e outros planetas não descobertos.
O trabalho foi liderado pelo
brasileiro Pedro Bernardinelli (formado em física na USP), aluno de doutorado
da Universidade da Pensilvânia (EUA), e pelos professores Gary Bernstein e
Masao Sako, também da Universidade da Pensilvânia.
O
objetivo do DES, que completou seis anos de coleta de dados em janeiro, é
entender a natureza da energia escura, coletando imagens de alta precisão do
céu do hemisfério sul. Embora o DES não tenha sido projetado especificamente
para os TNOs, sua abrangência e profundidade de cobertura o tornaram
particularmente hábil em encontrar novos objetos além de Netuno. “O número de
TNOs que você pode encontrar depende de quanto do céu você olha e qual é a
coisa mais fraca que pode encontrar”, diz Bernstein.
Como
o DES foi projetado para estudar galáxias e supernovas, os pesquisadores
tiveram de desenvolver uma nova maneira de rastrear o movimento. Pesquisas
dedicadas a TNOs fazem medições com a frequência de uma ou duas horas, o que
permite aos pesquisadores rastrear mais facilmente seus movimentos. “As
pesquisas dedicadas a TNOs têm uma maneira de ver os objetos se moverem, e é
fácil rastreá-los”, diz Bernardinelli. “Uma das principais coisas que fizemos
neste artigo foi descobrir uma maneira de recuperar esses movimentos.”
Peneira rigorosa
Usando
os primeiros quatro anos de dados do DES, Bernardinelli começou com um conjunto
de dados de 7 bilhões de “pontos”, todos os objetos possíveis detectados pelo
software que estavam acima dos níveis de fundo da imagem. Ele então removeu
quaisquer objetos presentes em várias noites – coisas como estrelas, galáxias e
supernovas – para criar uma lista “transitória” de 22 milhões de objetos antes
de iniciar um jogo massivo de “ligar os pontos”, procurando pares ou triplos
próximos dos objetos detectados para ajudar a determinar onde o objeto
apareceria nas noites subsequentes.
Os
7 bilhões de pontos iniciais foram reduzidos a uma lista de cerca de 400
candidatos, vistos em pelo menos seis noites de observação. “Temos essa lista
de candidatos e temos que garantir que nossos candidatos sejam realmente
reais”, diz Bernardinelli.
Com
o objetivo de filtrarem sua lista de candidatos até os TNOs reais, os
pesquisadores voltaram ao conjunto de dados original para ver se conseguiam
encontrar mais imagens do objeto em questão. “Digamos que encontramos algo em
seis noites diferentes”, diz Bernstein. “Para os TNOs que existem, nós os
apontamos por 25 noites diferentes. Isso significa que há imagens onde esse
objeto deveria estar, mas elas não conseguiram superar o primeiro passo de ser
chamadas de ponto.”
Bernardinelli
desenvolveu uma maneira de empilhar várias imagens para criar uma visão mais
nítida, o que ajudou a confirmar se um objeto detectado era um TNO real. Os
pesquisadores também verificaram que seu método foi capaz de detectar TNOs
conhecidos nas áreas do céu em estudo e de detectar objetos falsos que foram
injetados na análise. “A parte mais difícil foi tentar garantir que
encontrássemos o que deveríamos encontrar”, diz Bernardinelli.
Órbitas superlongas
Após
muitos meses de desenvolvimento e análise de métodos, os pesquisadores
encontraram 316 TNOs, incluindo 245 descobertas feitas pelo DES e 139 novos
objetos que não foram publicados anteriormente. Com apenas 3 mil objetos
conhecidos atualmente, esse catálogo DES representa 10% de todos os TNOs
conhecidos.
Plutão,
o TNO mais conhecido, está 40 vezes mais distante do Sol do que a Terra, e os
TNOs encontrados a partir dos dados do DES variam de 30 a 90 vezes a distância
da Terra ao Sol. Alguns desses objetos estão em órbitas extremamente longas,
que os levarão muito além de Plutão.
Agora
que o DES está completo, os pesquisadores estão executando novamente sua
análise em todo o conjunto de dados reunido, desta vez com um limite mais baixo
para a detecção de objetos no primeiro estágio de filtragem. Isso significa que
há um potencial ainda maior para encontrar novos TNOs, possivelmente até 500,
com base nas estimativas dos pesquisadores, em um futuro próximo.
Base para novas buscas
O
método desenvolvido por Bernardinelli também pode ser usado para procurar TNOs
nas próximas pesquisas de astronomia, incluindo o novo Observatório Vera C.
Rubin, no Chile. Esse observatório examinará todo o céu meridional e poderá
detectar objetos ainda mais fracos e mais distantes do que o DES. “Muitos dos
programas que desenvolvemos podem ser facilmente aplicados a outros grandes
conjuntos de dados, como o que o Observatório Rubin produzirá”, diz
Bernardinelli.
Esse
catálogo de TNOs também será uma ferramenta científica útil para pesquisas
sobre o Sistema Solar. Como o DES coleta um amplo espectro de dados sobre cada
objeto detectado, os pesquisadores podem tentar descobrir de onde o TNO se
originou, uma vez que se espera que objetos que se formam mais próximos do Sol
tenham cores diferentes das originadas em regiões mais distantes e mais frias.
E, estudando as órbitas desses objetos, os pesquisadores podem estar um passo
mais perto de encontrar o Planeta Nove, um planeta hipotético do tamanho de
Netuno que se pensa existir além de Plutão.
“Há
muitas ideias sobre planetas gigantes que costumavam estar no Sistema Solar e
não existem mais, ou planetas distantes e massivos, mas muito fracos para que
ainda não tenhamos percebido”, diz Bernstein. “Criar o catálogo é a parte
divertida da descoberta. Então, quando você cria esse recurso, pode comparar o
que encontrou com o que a teoria de alguém disse que deveria encontrar.”
Fonte: Revista Planeta
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