Idade da estrela Matusalém é recalculada — e ela não é mais velha que o universo

 A estrela Matusalém (Imagem: ReproduçãoNASA/GSFC/SkyView/DSS2)

Nem sempre medições astronômicas são muito confiáveis, e o caso da estrela Matusalém é um ótimo exemplo. Ela fica a cerca de 200 anos-luz da Terra e intrigou a comunidade científica porque, de acordo com alguns cálculos, teria 14,5 bilhões de anos. O problema é que o Big Bang aconteceu há 13,8 bilhões de anos. Felizmente, novos estudos estão redefinindo a idade da estrela, chegando a números bem mais confortáveis, por assim dizer.

Existem algumas formas de saber se uma estrela é muito antiga ou muito jovem, e uma delas é através da análise dos níveis de metalicidade. É que as estrelas são as produtoras de muitos dos elementos da tabela periódica, mas elas só começaram a produzir metais, como ferro, muito depois do Big Bang. Isso significa que, no início do universo, só havia hidrogênio e hélio. 

Só em gerações de estrelas posteriores surgiriam as estrelas capazes de fundir metais em seus núcleos, e explodir em supernovas para espalhar esses elementos pelo universo, disponibilizando-os nas nuvens onde novas estrelas se formam. É através desse ciclo que ferro, níquel, ouro, entre outros, surgem e se disseminam pelo cosmos, “contaminando” as próximas estrelas que vierem a existir. Então, se uma estrela possui pouca metalicidade, significa que ela é velha. 

Este é o caso da Matusalém, oficialmente catalogada como HD 140283. Ela é relativamente semelhante ao Sol e está em nossa galáxia, um tanto perto de nosso planeta. Sua metalicidade é 0,004 a do Sol, o que implica uma idade muito avançada — daí o apelido de Matusalém. A polêmica veio quando uma medição de 2013, usando o telescópio Hubble, estimou a idade dela em cerca de 14,5 ± 0,8 bilhões de anos (± 0,8 significa a margem de erro). 

Em números mais estritos, o universo tem 13,77 ± 0,04, então a conta não fecha. Em 2017, uma equipe liderada por Howard Bond, professor do departamento de astronomia e astrofísica da Universidade da Pensilvânia, já havia redefinido a margem de erro para a idade da Matusalém para ± 0,8 — até então a margem era de ± 0,31 —, o que facilitou um pouco as coisas. Mas ainda não havia uma idade muito bem definida para a “boa velhinha”. 

Assim, uma outra equipe usou as melhores medições cósmicas até o momento para criar modelos de como as estrelas mudam ao longo do tempo. Eles usaram um software que automatiza boa parte do processo, e propriedades básicas das estrelas como massa, luminosidade, conteúdo elementar (ou seja, metalicidade), entre outras. Para o alívio de todos os cosmólogos, eles concluíram que a idade da Matusalém é 12,01 ± 0,05 bilhões de anos. Ufa! Tudo segue em ordem na linha cronológica do universo. 

A Matusalém é uma subgigante de baixa metalicidade, em processo de se tornar uma gigante vermelha. Isso significa que seu núcleo de hidrogênio vai se esgotar, ela vai se expandir por um tempo, e depois se reduzirá a uma anã branca de baixa massa. O novo estudo foi publicado na Research Notes of the AAS, que é uma revista de indexação de artigos ainda não revisados por pares. 

Fonte: canaltech.com.br

Bad Astronomy

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