‘Arco gigante’ que se estende por 3,3 bilhões de anos-luz no cosmos não deveria existir
O Arco Gigante.Regiões
em cinza mostram áreas que absorvem magnésio, o que revela a distribuição de
galáxias e aglomerados de galáxias. Os pontos azuis mostram quasares de fundo.
(Crédito: Alexia Lopez/UCLan)
Um crescente de galáxias recém-descoberto que abrange 3,3 bilhões de
anos-luz-anos está entre as maiores estruturas conhecidas no universo e desafia
algumas das suposições mais elementares da astronomia sobre o cosmos.
A estrutura épica, chamada de arco gigante, consiste em galáxias,
aglomerados galácticos, e muito gás e poeira. Está localizada a 9,2 bilhões de
anos-luz de distância e abrange cerca de 1/15 do universo observável.
Sua descoberta foi “fortuita”, Alexia Lopez, doutoranda em cosmologia
na Universidade de Lancashire Central (UCLan), no Reino Unido, disse ao Live
Science. Lopez estava criando mapas de objetos celestiaus noturno usando a luz
de cerca de 120 mil quasares que são núcleos brilhantes distantes de galáxias
onde buracos negros supermassivos estão consumindo material e expelindo
energia.
À medida que essa luz passa pela matéria entre nós e os quasares, ela é
absorvida por diferentes elementos, deixando traços reveladores que podem dar
aos pesquisadores informações importantes. Especificamente, Lopez usou marcas
deixadas por magnésio para determinar a distância do gás e poeira que ficam no
meio, bem como a posição do material no céu noturno.
Desta forma, os quasares agem “como holofotes em uma sala escura,
iluminando essa matéria no meio”, disse Lopez.
No meio dos mapas cósmicos, uma estrutura começou a surgir. “Foi o
indício de um grande arco”, disse Lopez. “Lembro-me de ir ao Roger [Clowes] e
dizer ‘Oh, olha isso’.”
Clowes, seu orientador de doutorado na UCLan, sugeriu uma análise mais
aprofundada para garantir que não fosse algum alinhamento casual ou uma
anomalia dos dados. Depois de fazer dois testes estatísticos diferentes, os
pesquisadores determinaram que havia menos de 0,0003% de probabilidade de o
Arco Gigante não ser real. Eles apresentaram seus resultados em 7 de junho na
238ª reunião virtual da Sociedade Astronômica Americana.
Mas a descoberta, que ganhou lugar proeminente na lista das maiores
coisas existentes no cosmos, mina uma expectativa fundamental sobre o universo.
Os astrônomos há muito aderiram ao que é conhecido como princípio cosmológico,
que afirma que, nas maiores escalas, a matéria é mais ou menos distribuída
uniformemente pelo espaço.
O Arco Gigante é maior do que outros conjuntos enormes, como a Grande
Muralha de Sloan e a Muralha do Polo Sul. Houve várias estruturas em larga escala descobertas ao longo dos
anos”, disse Clowes. “Elas são tão grandes, você se pergunta se elas são
compatíveis com o princípio cosmológico.”
O fato de que tais entidades colossais se unirem em cantos específicos
do espaço indica que talvez a matéria não seja distribuída uniformemente ao
redor do universo. Mas o modelo padrão atual do universo é baseado no princípio
cosmológico, acrescentou Lopez. “Se estamos descobrindo que não é real, talvez
precisemos olhar para um conjunto diferente de teorias ou regras.”
Lopez não sabe como seriam essas teorias, embora ela tenha mencionado a
ideia de modificar como a gravidade funciona nas maiores escalas, uma
possibilidade que tem ganhado popularidade entre os cientistas nos últimos
anos.
Daniel Pomarède, um cosmografista da Universidade Paris-Saclay, na
França, que co-descobriu a Muralha do Polo Sul, concordou que o princípio
cosmológico deveria ditar um limite teórico para o tamanho das entidades
cósmicas.
Algumas pesquisas sugerem que as estruturas devem atingir um certo
tamanho e depois não ter mais capacidade de crescer, disse Pomarède. “Em vez
disso, continuamos encontrando essas estruturas maiores e maiores.”
No entanto, ele não está pronto para jogar no lixo o princípio cosmológico, que tem sido usado em modelos do universo há cerca de um século. “Seria muito ousado dizer que será substituído por outra coisa”, disse ele.
Fonte: Live Science
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