Astrônomos mostram elementos orgânicos em cinco discos de formação de planetas
Uma equipe internacional de cientistas conseguiu mapear a composição
química de discos protoplanetários ao redor de cinco estrelas jovens
relativamente próximas da Terra. O estudo mostrou que a “sopa” de elementos não
é distribuída de modo homogêneo nos discos, uma informação valiosa para os
modelos teóricos e simulações de formação planetária.
Este foi o mais extenso mapeamento da composição química de discos
protoplanetários em alta resolução já realizado, e resultou em uma série de 20
artigos, detalhando diversos aspectos importantes da formação de planetas. Os
estudos serão úteis não só para a compreensão dos sistemas jovens analisados,
mas para responder algumas perguntas sobre o nosso próprio Sistema Solar.
Distribuição de elementos
orgânicos
O estudo revelou a presença e a localização específica de 18 moléculas
nos discos, incluindo carbono, cianeto, hidrogênio, entre outras importantes
para a formação dos chamados blocos de construção da vida. “Esses discos
formadores de planetas estão repletos de moléculas orgânicas, algumas das quais
estão implicadas nas origens da vida aqui na Terra”, disse a astrônoma Karin
Öberg, uma das autoras do estudo.
De acordo com o estudo, “a distribuição desses produtos orgânicos varia
dramaticamente dentro de um disco específico”. Isso tem uma grande implicação
na formação dos planetas: cada um terá propriedades específicas de acordo com a
concentração de determinados elementos na região do disco em que eles se
formam. Ou seja, dois mundos podem surgir na órbita da mesma estrela e ter
composições muito distintas.
Outra implicação dessa descoberta é que, dependendo da região do disco
onde se formam, cada planeta terá ou não uma predisposição para a vida. Por
fim, cada disco também é bastante diferente dos demais em termos de composição,
“com seu próprio conjunto distinto de subestruturas químicas”, disse Öberg. As
estrelas analisadas foram: IM Lup, GM Aur, AS 209, HD 163296 e MWC 480.
Velocidade dos discos
protoplanetários
Em discos protoplanetários, gás e poeira giram naturalmente em torno da
estrela central, em uma velocidade constante e consistente, sem apresentar
diferenças ou turbulências ao longo da superfície do disco. Contudo, se houver
um planeta se formando abaixo da superfície de material protoplanetário, ele
pode perturbar levemente o gás circunvizinho, causando um pequeno desvio na
velocidade.
Outros sinais de que um mundo estaria se formando dentro da nuvem
espessa que forma o anel protoplanetário é que o gás pode girar em espiral de
forma inesperada, como consequência da gravidade do novo planeta. Infelizmente,
os astrônomos não conseguem ver os planetas se formando nos cinco discos
analisados, porque eles nascem envoltos a muito gás e poeira, mas, com as
perturbações causadas pela gravidade desses jovens mundos, eles conseguiram
identificar alguns “nascimentos”.
Analisando as velocidades do gás em dois dos cinco discos
protoplanetários, em torno das estrelas HD 163296 e MWC 480, a equipe encontrou
pequenos “surtos” na velocidade em certas regiões, revelando um planeta jovem
semelhante a Júpiter em cada um dos dois discos. “À medida que os planetas
crescem, eles acabam criando lacunas na estrutura dos discos para que possamos
vê-los, mas o processo levará milhares de anos”, disse o Dr. Richard Teague.
Para confirmar que se tratam mesmo de dois mundos gigantes no interior
desses anéis, os astrônomos pretendem usar o Telescópio Espacial James Webb,
que deverá ser lançado no final de 2021.
Asteroides
Essas regiões do disco em que as moléculas importantes estavam
localizadas também são onde asteroides e cometas se formam. Os pesquisadores
disseram ser possível que aconteça nesses cinco discos um processo semelhante
ao que teria ajudado a iniciar a vida na Terra: um bombardeio de asteroides e
cometas transfere moléculas orgânicas essenciais para a vida aos planetas
recém-formados.
Ao analisar as moléculas, os cientistas também obtém informações sobre
os níveis de ionização do disco, estruturas de temperatura, cinemática e
densidades da superfície do gás, todos ingredientes-chave da evolução do disco
e dos modelos de formação de protoplanetas — os blocos de construção dos
mundos, que nem sempre têm sucesso em se transformar em planeta. Quando eles
“fracassam”, podem se tornar asteroides gigantes, como é o caso de Vesta.
Tudo isso significa que se a distribuição de elementos orgânicos não
for muito favorável à vida na região de formação de um determinado planeta,
pode ser que a história mude caso este mundo seja atingido por asteroides e
cometas que nasceram nas regiões mais ricas de elementos vitais. O estudo
“respondeu pela primeira vez a perguntas que não imaginávamos fazer décadas
atrás e também nos apresentou muitas outras perguntas para responder”, disse
Öberg.
Essa pesquisa é o resultado de décadas de trabalho sobre a química dos
discos formadores de planetas, realizado por cientistas usando o Atacama Large
Millimeter / submillimeter Array (ALMA). O projeto se chama Molecules with ALMA
at Planet-forming Scales (MAPS) e os artigos resultantes da pesquisa serão
publicados na Astrophysical Journal Supplement Series. Portanto, é muito
provável que muitas outras descobertas sejam anunciadas pela equipe do MAPS em
breve.
Fonte: Canaltech
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!