Perseverance obtém mais informações sobre o passado da Cratera Jezero

 A escarpa que a equipa científica estudou, numa imagem obtida pelo instrumento Mastcam-Z do Perseverance no dia 17 de abril de 2021. Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASU/MSSS

Um novo artigo científico da equipa científica do rover Perseverance da NASA conta como o ciclo hidrológico do lago agora seco da Cratera Jezero é mais complicado e intrigante do que se pensava originalmente. As descobertas têm por base imagens detalhadas que o rover forneceu de escarpas longas e íngremes no delta, que se formaram a partir de sedimentos acumulados na foz de um antigo rio que há muito alimentou o lago da cratera. 

As imagens revelam que há milhares de milhões de anos, quando Marte tinha uma atmosfera espessa o suficiente para suportar fluxos de água à superfície, o delta do rio em forma de leque sofreu inundações que transportaram rochas e detritos das terras altas bem para lá da cratera. 

Tiradas pelas câmaras Mastcam-Z esquerda e direita do rover, bem como pelo RMI (Remote Micro-Imager, parte do instrumento SuperCam), também fornecem informações sobre onde o rover poderia melhor caçar amostras de rochas e sedimentos, incluindo aquelas que podem conter compostos orgânicos e outras evidências de que vida pode lá ter existido. 

A equipa do rover há muito que planeava visitar o delta devido ao seu potencial para abrigar sinais de antiga vida microbiana. Um dos principais objetivos da missão é recolher amostras que podem ser enviadas para a Terra graças ao esforço MSR (Mars Sample Return) por várias missões, permitindo que os cientistas analisem o material com poderosos equipamentos laboratoriais, grandes demais para serem levados para Marte. 

O artigo sobre as imagens das escarpas - a primeira investigação publicada com dados obtidos após o pouso do rover de dia 18 de fevereiro - foi divulgado online na revista Science. 

O Momento "Kodiac" do Perseverance 

Aquando da captura das imagens, as escarpas estavam a noroeste do rover e a cerca de 2,2 km de distância. A sudoeste do rover, e aproximadamente à mesma distância, encontra-se outro afloramento rochoso proeminente que a equipa chama de "Kodiak". No seu passado antigo, Kodiac ficava na extremidade sul do delta, que teria sido à época uma estrutura geológica intacta. 

Antes da chegada do Perseverance, Kodiac tinha apenas sido fotografado a partir de órbita. Da superfície, as imagens do Mastcam-Z e do RMI revelaram pela primeira vez a estratigrafia - a ordem e a posição de camadas rochosas, que fornece informações sobre o momento relativo dos depósitos geológicos - ao longo da face oriental de Kodiak. Aí, as camadas inclinadas e horizontais são o que um geólogo esperaria ver no delta de um rio na Terra. 

"Nunca antes uma estratigrafia tão bem preservada tinha sido visível em Marte," disse Nicolas Mangold, cientista do Perseverance do Laboratoire de Planétologie et Géodynamique em Nantes, França, autor principal do artigo. "Esta é a observação chave que nos permite confirmar de uma vez por todas a presença de um lago e delta de rio em Jezero. O facto de termos uma melhor compreensão da hidrologia meses antes da nossa chegada ao delta vai render grandes dividendos no futuro." 

Embora os resultados de Kodiak sejam significativos, é a história contada pelas imagens das escarpas a nordeste que surgiucomo a maior surpresa para a equipa de ciência do rover. 

Movendo pedregulhos 

As imagens dessas escarpas mostraram camadas semelhantes às de Kodiac nas suas metades inferiores. Porém, mais acima, em cada uma das suas paredes íngremes e no topo, o Mastcam-Z e RMI capturaram pedras e pedregulhos. 

"Vimos camadas distintas nas escarpas contendo pedras com até 1,5 metros de largura que sabíamos que não deveriam estar ali," disse Mangold. 

Essas camadas significam que o curso de água lento e sinuoso que alimentava o delta deve ter sido transformado por inundações repentinas, posteriores e rápidas. Mangold e a equipa científica estimam que uma torrente de água necessária para transportar as rochas - algumas dezenas de quilómetros - teria que viajar a velocidades de 6 a 30 km/h. 

"Estes resultados também têm impacto na estratégia de seleção de rochas para amostragem," disse Sanjeev Gupta, cientista do Perseverance no Imperial College, Londres, coautor do artigo. "O material mais fino na parte inferior do delta provavelmente contém a nossa melhor aposta para encontrar evidências de materiais orgânicos e bioassinaturas. E os pedregulhos no topo permitirão amostrar pedaços antigos de rochas da crosta. Ambos são objetivos principais para amostragem e armazenamento antes da missão MSR." 

Um lago de profundidades mutáveis 

Pensa-se que, no início da história do antigo lago da Cratera Jezero, os seus níveis tenham sido altos o suficiente para atingir a orla leste da cratera, onde as imagens a partir de órbita mostram os restos de um canal. O novo artigo acrescenta a este pensamento, descrevendo o tamanho do lago de Jezero como flutuando muito ao longo do tempo, o seu nível de água subindo e descendo dezenas de metros até o corpo de água finalmente desaparecer completamente. 

Embora não se saiba se estas oscilações no nível da água tenham resultado de enchentes ou mudanças ambientais mais graduais, a equipa científica determinou que ocorreram mais tarde na história do delta de Jezero, quando os níveis do lago estavam pelo menos 100 metros abaixo do nível mais alto do lago. E a equipa está ansiosa por obter mais dados no futuro: o delta será o ponto de partida para a próxima segunda campanha científica da equipa do rover, com início no ano que vem. 

"Uma melhor compreensão do delta de Jezero é a chave para entender a mudança na hidrologia da área," disse Gupta, "e pode fornecer informações valiosas do porquê de todo o planeta ter secado." 

Mais sobre a missão Perseverance 

Um objetivo principal da missão do Perseverance em Marte é a investigação astrobiológica, incluindo a busca por sinais de vida microbiana antiga. O rover vai caracterizar a geologia do planeta e o clima passado e será a primeira missão a recolher e a armazenar rochas e rególito marciano, abrindo caminho para a exploração humana do Planeta Vermelho. 

As missões subsequentes da NASA, em cooperação com a ESA, vão enviar naves a Marte para recolher estas amostras armazenadas à superfície e trazê-las para a Terra para uma análise mais profunda. 

A missão Mars 2020 do rover Perseverance faz parte da abordagem da exploração da Lua e de Marte da NASA, que inclui as missões Artemis à Lua que vão ajudar a preparar a exploração humana do Planeta Vermelho.

Fonte: Astronomia OnLine

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