Astrónomos encontram um tesouro escondido de buracos negros enormes
Cientistas da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill,
liderados pela equipa de estudantes universitários Sheila Kannappan e Mugdha
Polimera, encontraram um tesouro anteriormente ignorado de enormes buracos
negros em galáxias anãs que fornecem um vislumbre da história de vida do buraco
negro supermassivo no centro da nossa própria Galáxia, a Via Láctea. Os achados
foram publicados no passado dia 24 de maio na revista The Astrophysical
Journal.
"Os buracos negros que encontrámos são os blocos básicos de
construção dos buracos negros supermassivos como o da nossa própria Via
Láctea," disse Kannapan. "Há tanto que queremos aprender sobre
eles."
Como uma galáxia espiral gigante, pensa-se que a Via Láctea tenha sido
construída a partir da fusão de muitas galáxias anãs mais pequenas. Cada anã
que é atraída pode trazer consigo um buraco negro central massivo, com dezenas
ou centenas de milhares de vezes a massa do nosso Sol, potencialmente destinado
a ser engolido pelo buraco negro central supermassivo da Via Láctea. Mas
quantas vezes as galáxias anãs contêm um buraco negro massivo é desconhecido,
deixando uma falha fundamental na compreensão de como os buracos negros e as
galáxias evoluem em conjunto.
"Este resultado realmente fez-me perder a cabeça porque estes
buracos negros estavam anteriormente escondidos à vista de todos," disse
Polimera. "Os buracos negros são um tema fascinante..., mas há ainda a
questão persistente: de onde vêm tais buracos negros supermassivos? O nosso
trabalho é um pequeno passo mais próximo de responder a essa questão."
Kannapan comparou a sua descoberta do buraco negro a pirilampos.
"Tal como os pirilampos, só vemos buracos negros quando estão
iluminados - quando estão a crescer - e os iluminados dão-nos uma pista de
quantos não conseguimos ver," disse ela.
Alegações extraordinárias e
evidências extraordinárias
A investigação, financiada em parte pela NSF (National Science
Foundation), usou dados para galáxias em dois levantamentos internacionais que
Kannapan lidera - o RESOLVE (REsolved Spectroscopy Of a Local VolumE) e o ECO
(Environmental COntext Catalog) - para avaliar a presença destes buracos negros
crescentes. Estes levantamentos incluem dados ultravioleta e de rádio, ideias
para estudar a formação das estrelas; a maioria dos levantamentos astronómicos
selecionam amostras que favorecem galáxias grandes e brilhantes, mas os
levantamentos de Kannapan são inventários completos de grandes volumes do
Universo atual em que as galáxias anãs são abundantes.
Kannapan e os seus estudantes perceberam que os dados espectroscópicos
utilizados para avaliar a presença de um buraco negro crescente seriam muitas
vezes ambíguos da mesma forma específica para as galáxias anãs. Estas galáxias
eram tipicamente expulsas dos levantamentos e a ambiguidade era ignorada. Mas
esta ambiguidade despertou a curiosidade de Kannapan. Ela suspeitava que tendo
em conta duas propriedades típicas das galáxias anãs - a sua composição
elementar mais primordial (principalmente hidrogénio e hélio) e o seu elevado
ritmo de formação estelar - poderia resolver a ambiguidade em favor da presença
de um buraco negro crescente.
Um professor de astrofísica na Universidade de Elon, Chris Richardson,
forneceu simulações teóricas que confirmaram esta suspeita: a ambiguidade
observada é exatamente o que as simulações preveem para uma composição
primordial, uma galáxia anã altamente formadora de estrelas contendo um buraco
negro massivo em crescimento. A etapa final da investigação envolveu a procura
de galáxias por parte de Polimera nos levantamentos que corresponderam
exatamente aos critérios - resultando na descoberta de que os buracos negros
massivos e crescentes são mais comuns nas galáxias anãs do que se pensava
anteriormente.
A incapacidade de ver um buraco negro contribui para a complexidade do
seu estudo. Ao invés, os cientistas devem observar os buracos negros com base
nas atividades que ocorrem à sua volta através da atração gravitacional. No
entanto, este tipo de atividade do buraco negro pode ser difícil de desenredar
de uma atividade semelhante de estrelas jovens e brilhantes.
"Ficámos todos nervosos," disse Polimera. "A primeira
questão que me veio à cabeça foi: será que nos escapou uma maneira em que a
formação estelar extrema, por si só, poderia explicar estas galáxias?"
A resposta foi um retumbante não.
"Ficámos com este resultado que é chocante," disse Kannapan. "Mugdha fez um trabalho magistral com os dados... ela pesquisou exaustivamente todas as outras explicações possíveis," disse Kannapan sobre os resultados. "As afirmações extraordinárias exigem provas extraordinárias... ela passou anos a investigar exaustivamente explicações alternativas, apenas para ser obrigada a concluir que a população recentemente identificada de buracos negros massivos e em crescimento é real."
Fonte: Astronomia OnLine
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