Astrónomos observam uma potencial inversão magnética em torno de buraco negro supermassivo
Uma explosão rara e enigmática de uma galáxia a 236 milhões de anos-luz
pode ter sido desencadeada por uma inversão magnética, uma inversão espontânea
do campo magnético que rodeia o seu buraco negro central. Num novo estudo
abrangente, uma equipa científica internacional associa as características
invulgares da erupção a alterações no ambiente do buraco negro que
provavelmente seriam desencadeadas por uma tal inversão magnética.
"Mudanças rápidas na luz visível e ultravioleta foram observadas
em algumas dezenas de galáxias semelhantes a esta," disse Sibasish Laha,
cientista investigador da Universidade de Maryland, Condado de Baltimore e do
Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no mesmo estado norte-americano.
"Mas este evento marca a primeira vez que vimos os raios-X a desaparecerem
completamente enquanto os outros comprimentos de onda aumentaram de
brilho."
O artigo que descreve os achados, liderado por Laha, foi aceite para
publicação na revista The Astrophysical Journal.
A equipe de investigação analisou observações novas e de arquivo em
todo o espectro. O observatório Neil Gehrels Swift da NASA e o XMM-Newton da
ESA forneceram medições de raios UV e raios-X. As observações no visível vieram
do TNG (Telescopio Nazionale Galileo) de 3,6 metros e do GTC (Gran Telescopio
Canarias) de 10,4 metros, ambos localizados na ilha de La Palma, Ilhas
Canárias, Espanha. As medições de rádio foram adquiridas pelo VLBA (Very Long
Baseline Array), uma rede de 10 radiotelescópios localizados nos Estados
Universo; pelo VLA (Very Large Array) no estado do Novo México; e pela Rede
Europeia VLBI (Very Long Baseline Interferometry).
No início de março de 2018, o levantamento ASAS-SN (All-Sky Automated
Survey for Supernovae) alertou os astrónomos de que uma galáxia chamada 1ES
1927+654 tinha aumentado de brilho quase 100 vezes no visível. Uma pesquisa por
deteções anteriores, pelo ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System)
da NASA, mostrou que a erupção tinha começado meses antes, no final de 2017.
Quando o Swift examinou pela primeira a galáxia, em maio de 2018, a sua
emissão ultravioleta era 12 vezes maior, mas decrescia constantemente,
indicando um pico anterior não observado. Depois, em junho, a emissão de
raios-X mais energéticos da galáxia desapareceu.
"Foi muito emocionante mergulhar no estranho episódio explosivo
desta galáxia e tentar compreender os possíveis processos físicos em
ação," disse José Acosta-Pulido, coautor no IAC (Instituto de Astrofísica
de Canarias) em Tenerife.
A maioria das grandes galáxias, incluindo a nossa Via Láctea, alberga
um buraco negro supermassivo com milhões a milhares de milhões de vezes a massa
do Sol. Quando a matéria cai na sua direção, primeiro reúne-se numa estrutura
vasta e achatada chamada disco de acreção. À medida que o material espirala
lentamente para o interior, aquece e emite luz visível, luz ultravioleta e
raios-X menos energéticos. Perto do buraco negro, uma nuvem de partículas
extremamente quentes - chamada coroa - produz raios-X mais energéticos. A luminosidade
destas emissões depende da quantidade de material que flui em direção ao buraco
negro.
"Uma interpretação anterior da erupção sugeriu que foi
desencadeada por uma estrela que passou tão perto do buraco negro que foi
dilacerada, perturbando o fluxo de gás," disse o coautor Josefa Becerra
González, também do IAC. "Mostrámos que um tal evento desvaneceria mais
rapidamente do que este surto."
O desaparecimento único da emissão de raios-X fornece aos astrónomos
uma importante pista. Eles suspeitam que o campo magnético do buraco negro cria
e sustenta a coroa, pelo que qualquer alteração magnética poderia impactar as
propriedades dos seus raios-X.
"Uma inversão magnética, onde o polo norte se torna sul e
vice-versa, parece encaixar melhor nas observações," disse o coautor
Mithcell Begelman, professor no departamento de ciências astrofísicas e
planetárias da Universidade do Colorado, Boulder. Ele e colegas, o investigador
pós-doutorado e coautor Nicolas Scepi e o professor Jason Dexter, desenvolveram
o modelo magnético. "O campo enfraquece inicialmente na periferia do disco
de acreção, levando a um maior aquecimento e luminosidade na luz visível e
UV," explicou.
À medida que a inversão avança, o campo torna-se tão fraco que já não
consegue suportar a coroa - a emissão de raios-X desaparece. O campo magnético
fortalece-se então gradualmente na sua nova orientação. Em outubro de 2018,
cerca de 4 meses após o seu desaparecimento, os raios-X voltaram, indicando que
a coroa tinha sido totalmente restaurada. No verão de 2021, a galáxia tinha
regressado completamente ao seu estado pré-erupção.
É provável que as inversões magnéticas sejam acontecimentos comuns no
cosmos. O registo geológico mostra que o campo da Terra se inverte de forma
imprevisível, com uma média de algumas inversões a cada milhão de anos. O Sol,
em contraste, sofre uma inversão magnética como parte do seu ciclo normal de
atividade, alternando os polos norte e sul aproximadamente a cada 11 anos.
Fonte: Astronomia OnLine
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