Nova classe de exoplaneta pode ser morada para a vida fora da Terra
Um novo tipo de exoplaneta – metade rocha e metade
água – foi descoberto em torno das estrelas mais comuns do universo, o que pode
ter grandes consequências na busca por vida no cosmos, dizem os pesquisadores
responsáveis pelo achado em artigo publicado no jornal Science nesta
quinta-feira (8).
Ilustração do artista de um mundo de meia rocha, meia água orbitando uma estrela anã vermelha. (Crédito da imagem: Pilar Montañés (@pilar.monro)
As anãs vermelhas são o tipo mais comum de estrela,
representando mais de 70% da população estelar do universo. Essas estrelas são
pequenas e frias, geralmente cerca de um quinto da massa do sol e até 50 vezes
mais escuras.
O fato de as anãs vermelhas serem tão comuns fez os
cientistas se perguntarem se elas podem ser a melhor chance de descobrir
planetas que podem possuir vida como a conhecemos na Terra. Em 2020, os
astrônomos que descobriram Gliese 887, a anã vermelha mais brilhante no céu em
comprimentos de onda visíveis de luz, podem hospedar um planeta dentro de sua
zona habitável, onde as temperaturas da superfície são adequadas para hospedar
água líquida.
No entanto, ainda não está claro se os mundos que
orbitam anãs vermelhas são potencialmente habitáveis, em parte devido à falta
de compreensão que os pesquisadores têm sobre a composição desses mundos.
Pesquisas anteriores sugeriram que pequenos
exoplanetas – aqueles com menos de quatro vezes o diâmetro da Terra – orbitando
estrelas semelhantes ao sol são geralmente rochosos ou gasosos, possuindo
atmosfera fina ou espessa de hidrogênio e hélio.
Foco agora é nas anãs vermelhas
No novo estudo, os astrofísicos procuraram examinar
composições de exoplanetas em torno de anãs vermelhas. Eles se concentraram em
pequenos mundos encontrados mais próximos – e, portanto, mais brilhantes e
fáceis de inspecionar – das anãs vermelhas observadas pelo satélite TESS
(Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA.
As estrelas são muito mais brilhantes que seus
planetas. Portanto, os astrônomos não podem ver a maioria dos exoplanetas
diretamente. Em vez disso, geralmente detectam exoplanetas por meio dos efeitos
que esses mundos têm em suas estrelas, como a sombra criada quando um planeta
cruza na frente de sua estrela, ou o pequeno puxão gravitacional no movimento
de uma estrela causado por um planeta em órbita.
Ao capturar a sombra criada quando um planeta cruza
na frente de sua estrela, os cientistas podem encontrar o diâmetro do planeta.
Ao medir a pequena força gravitacional que um planeta exerce sobre uma estrela,
os pesquisadores podem encontrar sua massa.
Na nova pesquisa, os astrofísicos analisaram 34 exoplanetas sobre os quais tinham dados precisos sobre diâmetro e massa. Tais detalhes ajudaram a estimar as densidades desses mundos e deduzir suas prováveis composições.
Segundo o coautor do estudo, Rafael Luque, astrofísico
da Universidade de Chicago, nos EUA, “podemos dividir esses mundos em três
famílias”. Além de 21 planetas rochosos e sete gasosos, eles encontraram seis
exemplos de novo tipo de exoplaneta, o aquoso, que é feito de metade rocha e
metade água, seja na forma líquida ou gelada.
“Foi uma surpresa ver evidências de tantos mundos
aquáticos orbitando o tipo mais comum de estrela na galáxia”, disse Luque em
comunicado. “Há enormes consequências para a busca de planetas habitáveis.”
Planetas evoluíram distintamente
Os modelos de formação planetária dos cientistas
sugerem que os pequenos planetas que detectaram provavelmente evoluíram de três
maneiras diferentes. Os rochosos podem ter se formado a partir de material
relativamente seco perto de suas estrelas.
Outro coautor do estudo, Enric Pallé, astrofísico do
Instituto de Astrofísica das Ilhas Canárias, disse que os pequenos planetas
rochosos têm densidade “quase idêntica à da Terra. Isso significa que suas
composições devem ser muito, muito semelhantes”.
Em contraste, os planetas aquáticos provavelmente
surgiram de material gelado e nasceram longe de suas estrelas, além da “linha
de gelo”, onde as temperaturas da superfície são congelantes. Mais tarde,
teriam migrado para mais perto de onde os astrônomos os detectaram.
Os planetas gasosos também são ricos em água e podem
ter se formado de maneira semelhante aos planetas aquáticos. No entanto, eles
provavelmente possuíam inicialmente mais massa e, portanto, poderiam reunir
atmosfera de hidrogênio e hélio ao seu redor antes de irem para o interior.
Embora os planetas rochosos sejam relativamente
pobres em água e os planetas aquáticos ricos em água, isso pode não significar
que os rochosos são áridos e os aquáticos cobertos por oceanos, disseram os
pesquisadores.
“A Terra tem apenas 0,02% de sua massa na forma de
água, o que a torna, do ponto de vista astrofísico, um mundo seco, embora três
quartos da superfície estejam cobertos de água”, disse Pallé. Em contraste,
embora os planetas aquáticos que os pesquisadores descobriram sejam meia água,
“não significa necessariamente que eles tenham oceanos maciços em sua
superfície. A água parece misturada com a rocha”, completou Enric.
Pesquisas futuras podem ver se esses três tipos de mundos também são encontrados em torno de estrelas maiores, segundo Luque. “Uma nova geração de instrumentos em telescópios terrestres, especialmente nos EUA e na Europa, nos permitirá fazer essas medições”, disse.
Outra direção a seguir é investigar a composição e as propriedades desses mundos aquáticos. “Com o James Webb, podemos analisar suas atmosferas, se houver, e ver como armazenam água. Isso nos dirá muito sobre sua formação e evolução e estrutura interna”, detalhou Luque.
Fonte: Space.com
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