Buracos brancos - Conheça os "gêmeos do mal" dos buracos negros
Baperookamo/Wikimedia Commons
Buracos
brancos são o oposto de seus “irmãos gêmeos”, os buracos negros. Enquanto os
buracos negros “engolem” qualquer coisa que atravessa no seu horizonte de
eventos, buracos brancos “arrotam” matéria e não permitem que nada se
aproximem.
A
Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, que descreve como a gravidade
age, é bastante permissiva. Muitas coisas são possíveis neste sistema,
matematicamente falando, mas nem sempre isso significa que elas realmente
existem.
Os
buracos negros foram descritos pela primeira vez pelo astrônomo Karl
Schwarzschild como uma solução para as equações de Einstein sobre o campo de
gravitação no espaço vazio em torno de massas esféricas. Entretanto, àquela
época, os buracos negros eram apenas uma especulação que resolvia um problema
matemático, e não objetos reais.
Os
cientistas levariam muitas décadas de elaboração teórica sobre o assunto até
que se provasse que os buracos negros são reais. O primeiro buraco negro
encontrado foi o Cygnus X-1, descoberto na década de 1970, e somente em 2019
que foi possível registrar uma imagem real do que existe em torno de um buraco
negro. Será que os buracos brancos, considerados até hoje improváveis, também
estariam apenas aguardando a capacidade humana de detectá-los?
O
que é um buraco branco?
Buracos brancos seriam o oposto de buracos negros (Imagem: Reprodução/Baperookamo/Wikimedia Commons)
Se
os buracos negros são lugares densos o suficiente para “aprisionar” qualquer
coisa que atravesse seu horizonte de eventos (inclusive os fótons de luz), os
buracos brancos expelem tudo o que tenta se aproximar.
É
como se eles fossem regidos por um efeito gravitacional inverso, que repele a
matéria. Na verdade, não é exatamente assim. A explicação teórica tem
diferentes versões matemáticas, incluindo algumas que descartam a relatividade
geral para dar lugar a uma nova teoria gravitacional.
Especula-se
que os buracos brancos tenham gravidade e atraiam objetos. O “problema” é que,
ao entrar em rota de colisão com um buraco branco, aproximando-se o suficiente,
nunca seria possível alcançá-lo porque ele está emitindo matéria e energia
constantemente.
A
estranha emissão impede que qualquer coisa volte a entrar além de seu horizonte
de eventos. Se pudéssemos vê-los, se pareceriam com buracos negros, mas ao
contrário, com luz e matéria sendo expelidas para o cosmos.
Com
uma quantidade colossal de energia “expulsa” do buraco branco, uma espaçonave
seria destruída antes mesmo de tentar entrar no horizonte de eventos. Mesmo que
pudesse suportar a emissão, a nave seria desacelerada pela própria radiação
eletromagnética expelida.
Além
disso, o espaço-tempo seria deformado em torno de um buraco branco. Enquanto
entrar em um buraco negro é como ser sugado por um buraco, tentar alcançar um
buraco branco seria como subir uma colina alta e extremamente íngreme,
impossível de chegar a seu pico.
Do
mesmo modo, enquanto a aceleração rumo a um buraco negro aumenta cada vez mais,
a aceleração necessária para chegar a um buraco branco seria cada vez maior, a
ponto de não existir energia suficiente no universo para realizar este feito.
Buracos
brancos existem?
Seria o Big Bang um buraco branco? (Imagem: Reprodução/ESO/M. Kornmesser)
Mas
de onde vem toda essa energia? A dificuldade de responder essa pergunta é o
motivo pelo qual os cientistas ainda não consideram a existência dos buracos
negros uma possibilidade real. Mas, claro, existem hipóteses mais excêntricas
que tentam resolver o problema.
Uma
delas tenta explicar a gravitação quântica por pontos minúsculos e indivisíveis
por todo o universo — ou seja, o espaço-tempo seria quantificável. Nesse
sistema, chamado "gravidade quântica em loop", seria possível a
transformação de buraco negro em um buraco branco.
Essa
transformação poderia ocorrer logo após o surgimento inicial do buraco negro.
Quando uma estrela no fim de sua vida colapsa sob sua própria gravidade para
formar o buraco negro, o objeto se comprimiria até chegar em um estágio em que
não poderia ficar menor. O motivo é que os “loops” (o quantum do espaço-tempo
descrito pela gravidade quântica em loop) não podem se comprimir ainda mais, e
acabam exercendo uma pressão oposta — mais ou menos como um estilingue.
No
entanto, ainda não podemos descartar a relatividade em troca de outras
propostas, pois elas ainda não foram comprovadas, enquanto a teoria de Einstein
continua sendo confirmada por cada experimento que a desafia.
O buraco negro Cygnus X-1 e sua estrela companheira. Enquanto os buracos negros atraem matéria próxima com sua gravidade, o buraco branco faz o oposto (Imagem: Reprodução/ESA/NASA/Felix Mirabel)
Em
muitos sentidos, um buraco branco seria bem descrito e explicado como um buraco
negro retroceder no tempo e voltar ao estado original: uma estrela. O problema
é que isso violaria a entropia, que obriga o universo a se tornar caótico. Nada
tem possibilidade de voltar a um estado original, tudo se transforma, seguindo
seu ciclo natural, regido pelas leis da natureza.
Físicos
parecem mais dispostos a procurar teorias alternativas à relatividade geral do
que à entropia (e existem boas razões para isso). De qualquer modo, talvez os
buracos brancos possam existir caso estejamos interpretando o universo do jeito
errado.
Se
desconsiderarmos essas hipóteses excêntricas, ainda resta uma possibilidade que
alguns físicos propuseram: o Big Bang. Se pensarmos neste evento como um
momento no tempo em que uma enorme quantidade de energia foi “expelida” de um
ponto denso, parece uma descrição coerente com buracos brancos.
Os
teóricos chamam essa hipótese de Big Bounce, e alguns procuram características
de buracos brancos na radiação cósmica de fundo — a primeira luz observável do
universo, considerada um fóssil do Big Bang.
Se
isso for verdade, talvez perguntas ainda mais incômodas apareçam. E isso seria
ótimo, já que as grandes descobertas da ciência começam como problemas difíceis
de serem resolvidos.
Fonte: Canaltech
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