Reflexos nos pólos de Marte podem não ser água, dizem astrônomos
O reflexo está
lá, então é preciso haver uma explicação. [Imagem: ESA/DLR/FU Berlin/Bill
Dunford]
Gelo nos pólos marcianos - Astrônomos da Universidade de Cornell, nos EUA, acreditam que os reflexos brilhantes abaixo da superfície do Pólo Sul de Marte não são necessariamente evidências de água líquida, mas sim de camadas geológicas.
Os
cientistas se debatem há décadas com o chamado Paradoxo de Marte: Seu relevo
lembra os canais feitos pela água na Terra, mas a temperatura do planeta fica
por volta dos -60 ºC, frio demais para manter água líquida - e essa temperatura
deve ter sido ainda mais baixa no passado.
Esse
enigma se aprofundou ainda mais há cerca de dois meses, quando o robô
Perseverança descobriu que, em vez das rochas sedimentares que mostrariam o
passado rico em água de Marte, a cratera onde ele pousou é formada
majoritariamente por rochas ígneas, frutos de vulcanismo.
Assim,
a esperança de encontrar água no planeta vermelho vinha se estreitando,
concentrando-se nos seus pólos, onde se pode ver grandes extensões brancas. Mas
parece que nem tudo pode ser interpretado como gelo de água.
"Na
Terra, reflexos tão brilhantes são muitas vezes uma indicação de água líquida,
mesmo lagos enterrados, como o Lago Vostok," explicou o pesquisador Dan
Lalich. "Mas em Marte, a opinião predominante é que lá deveria ter sido
muito frio para que lagos semelhantes se formassem."
Contudo,
as fotos existem, feitas por inúmeras sondas orbitais, e o reflexo brilhante
está lá, logo, ele requer uma explicação.
Reflexos são produzidos sem água - Para tentar entender o fenômeno, Lalich criou simulações computadorizadas com diversas camadas, compostas por diferentes materiais - atmosfera, gelo de água, gelo de dióxido de carbono (CO2) e basalto - e atribuiu a cada camada uma permissividade correspondente, uma propriedade intrínseca de um material descrevendo sua interação com a luz.
As
simulações usando três camadas - duas camadas de CO2, separadas por uma camada
de gelo empoeirado - produziram reflexos tão brilhantes quanto as fotos de
Marte.
"Eu
usei camadas de CO2 incorporadas no gelo de água porque sabemos que esse gelo
já existe em grandes quantidades perto da superfície da calota de gelo,"
disse Lalich.
A
partir dos modelos, os pesquisadores determinaram que a espessura das camadas e
a distância entre elas têm um impacto maior no poder de reflexão do que a
composição das camadas.
"Em
princípio, porém, eu poderia ter usado camadas de rocha ou mesmo gelo de água
particularmente empoeirado e teria obtido resultados semelhantes. O ponto deste
estudo é que a composição das camadas basais é menos importante do que as
espessuras e separações das camadas."
Embora
nenhuma estratigrafia simplificada possa explicar todas as observações,
escreveram os pesquisadores, "nós mostramos que é possível criar reflexos
brilhantes sem água líquida".
Furar para ver - É importante descobrir o que não é água líquida em Marte porque as apostas são muito altas: Para tirar proveito dela, é necessário pousar no lugar certo. "Se houver água líquida, talvez haja vida, ou talvez possamos usá-la para futuras missões humanas a Marte," disse Lalich.
A
água líquida também pode ter implicações importantes para se calcular a idade
da calota polar, o aquecimento interno de Marte e como o clima do planeta
evoluiu no passado geologicamente recente.
"Nenhum
dos estudos que fizemos refuta a possível existência de água líquida lá
embaixo," disse Lalich. "Apenas achamos que a hipótese de
interferência é mais consistente com outras observações. Não tenho certeza se
qualquer coisa mais curta do que uma broca de perfuração poderia provar que
qualquer um dos lados deste debate está definitivamente certo ou errado."
Fonte:
Inovação Tecnológica
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