Astrônomos identificam antigo "coração" da Via Láctea; entenda
Pesquisadores analisaram dados da missão Gaia usando uma rede neural para captar a metalicidade de 2 milhões de estrelas gigantes e compreender a história da galáxia
Mapas de estrelas gigantes, especialmente
pobres em metais, identificadas a partir de dados do DR3 do Gaia que mostram,
como uma região concentrada (marcada com um círculo), as estrelas do
"pobre coração velho" da Via Láctea. O mapa mostra todo o céu noturno
da mesma forma que certos mapas do mundo mostram a superfície da Terra. No
centro do mapa está o Centro Galáctico. Crédito: H.-W. Rix/Instituto Max Planck
para Astronomia
O
antigo “coração” da Via Láctea, composto por estrelas remanescentes dos
primórdios de nossa galáxia, foi identificado por astrônomos por meio de dados
do lançamento mais recente da Missão Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA).
Os
resultados foram publicados em 12 de dezembro por cientistas da Sociedade Max
Planck, na Alemanha, no periódico The Astrophysical Journal. Os pesquisadores
analisaram os dados usando uma rede neural para extrair informações sobre a
metalicidade de dois milhões de estrelas gigantes brilhantes na região interna
da Via Láctea.
Assim
como arqueólogos reconstroem histórias de cidades, nas últimas décadas, os
astrônomos conseguiram reconstruir diferentes épocas galácticas. A metalicidade
de uma estrela — quantidade de elementos químicos mais pesados que o hélio que a atmosfera da estrela contém — é como um “estilo de construção” que permite estimar a
idade estelar.
Dado
que uma galáxia é menos estática do que uma cidade, os padrões de movimento de
seus astros também são importantes. As estrelas da Via Láctea podem estar
confinadas às regiões centrais ou podem fazer parte de um movimento de rotação
ordenado no disco fino, ou no disco grosso da Via Láctea, por exemplo.
Em
um estudo anterior, pesquisadores também da Sociedade Max Planck usaram dados
de Gaia e do Telescópio LAMOST, na China, para determinar as idades das
estrelas em uma amostra sem precedentes de 250 mil subgigantes — astros em uma
breve fase da evolução estelar em que o brilho e a temperatura podem ser usados
para deduzir sua idade.
A
partir dessa análise, os astrônomos reconstruíram as consequências da
empolgante adolescência da Via Láctea, 11 bilhões de anos atrás, e sua
subsequente fase adulta mais estável. Com isso, viram que as estrelas mais
velhas na amostra adolescente já tinham uma metalicidade considerável: cerca de
10% da do Sol. Isso significa que, antes da formação dessas estrelas, deve ter
havido gerações ainda anteriores de estrelas que poluíram o meio interestelar
com metais.
Mas
LAMOST não consegue observar as regiões centrais da Via Láctea. Em junho de
2022 então veio o Data Release 3 (DR3) da missão Gaia— o primeiro lançamento de
dados a incluir alguns dos espectros reais da jornada, voltados para 220
milhões de objetos astronômicos.
Os
espectros são onde os astrônomos encontram informações sobre a composição
química da atmosfera de uma estrela. Para extraírem valores confiáveis de metalicidade, a equipe observou estrelas
gigantes vermelhas na amostra de Gaia, cujas características espectrais que
codificam sua metalicidade são comparativamente visíveis.
Já
para a análise dos astros, os cientistas usaram aprendizado de máquina. Uma
rede neural foi treinada usando espectros de Gaia para os quais a metalicidade
já era conhecida de outra pesquisa, chamada APOGEE (high-resolution spectral
observations as part of the Sloan Digital Sky Survey).
Com
distâncias fornecidas por Gaia, os astrônomos fizeram uma reconstrução em 3D
que mostra as estrelas confinadas em uma região comparativamente pequena ao
redor do centro da Via Láctea, de aproximadamente 30 mil anos-luz de diâmetro.
Embora
as informações obtidas sejam inovadoras, os cientistas querem aprender mais.
Dados adicionais podem permitir que os pesquisadores identifiquem quais
estrelas na região do núcleo galáctico pertencem a qual das galáxias
progenitoras da Via Láctea.
Fonte: Galileu
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