Supertelescópio registra pela 1ª vez tempestade de poeira fora do nosso Sistema Solar
Uma violenta tempestade de poeira foi observada em um planeta fora do nosso Sistema Solar pela primeira vez. O fenômeno foi detectado no exoplaneta conhecido como VHS 1256b, que fica a cerca de 40 anos-luz da Terra.
Supertelescópio registra pela 1ª vez tempestade de poeira
fora do nosso Sistema Solar© BBC
As notáveis capacidades do novo
Telescópio Espacial James Webb (JWST na sigla em inglês) foram necessárias para
fazer a descoberta. As partículas de poeira detectadas são formadas por
silicatos — pequenos grãos compostos de silício e oxigênio, que integram a base
da maioria dos minerais rochosos.
Mas a tempestade detectada pelo
Webb não é exatamente o mesmo fenômeno que você encontraria em uma região árida
e desértica do nosso planeta. Ela é mais uma névoa rochosa.
"É como se você pegasse
grãos de areia, mas muito mais finos. Estamos falando de grãos de silicato do
tamanho de partículas de fumaça", explica Beth Biller, professora da
Universidade de Edimburgo e do Observatório Real de Edimburgo, no Reino Unido.
"É assim que as nuvens no
VHS 1256b se tornariam muito, mas muito mais quentes. Este planeta é um objeto
quente e jovem. A temperatura do topo da nuvem é talvez semelhante à da chama
de uma vela", estima a especialista.
O VHS 1256b foi identificado pela
primeira vez pelo telescópio Vista, desenvolvido no Reino Unido e em
funcionamento no Chile desde 2015.
Esse planeta é o que se chama de
"super Júpiter" — semelhante ao gigante gasoso do nosso próprio
Sistema Solar, mas muito maior, com talvez 12 a 18 vezes a massa do Júpiter
"original".
Ele circunda algumas estrelas a
uma grande distância — cerca de quatro vezes a distância que Plutão está do
Sol.
Observações anteriores do VHS
1256b mostraram que ele tinha uma aparência vermelha, sugerindo que poderia ter
poeira em sua atmosfera. O estudo feito a partir das análises de Webb confirma
justamente isso.
"Isso é fascinante, porque
ilustra como as nuvens em outro planeta podem ser diferentes das nuvens de
vapor d'água com as quais estamos familiarizados na Terra", pontua Biller.
"Vemos monóxido de carbono
(CO) e metano na atmosfera, o que indica que a nuvem [do VHS 1256b] é quente e
turbulenta, com material retirado das profundezas."
"Provavelmente existem
várias camadas de grãos de silicato. As que vemos são formadas por grãos muito
finos, que estão mais acima na atmosfera. Mas podem existir grãos maiores em
camadas inferiores", complementa a pesquisadora.
Outros telescópios já detectaram
silicatos nas chamadas anãs marrons. Estes objetos são essencialmente semelhantes
a estrelas que falharam em inflamar corretamente.
Mas esta é a primeira vez que o
fenômeno é visto em um objeto do tamanho de um planeta.
Para fazer a detecção, o Webb
usou as ferramentas Mid-Infrared Instrument (Miri) e Near-Infrared Spectrometer
(NirSpec).
Elas não tiraram fotos bonitas do
planeta — pelo menos não neste caso. O que os instrumentos fizeram foi separar
a luz vinda do VHS 1256b em suas cores componentes, como uma forma de discernir
a composição da atmosfera.
"O JWST é o único telescópio
que pode medir todas essas características moleculares e de poeira
juntas", conta a professora Gillian Wright, uma das co-investigadoras do
projeto e diretora do Centro de Tecnologia em Astronomia STFC UK, também em
Edimburgo.
“A imagem dinâmica da atmosfera
do VHS 1256b fornecida por este estudo é um excelente exemplo das descobertas
possibilitadas pelo uso dos recursos avançados do Miri e do NirSpec juntos”,
completa a especialista.
A principal missão do JWST é
observar as estrelas e galáxias pioneiras que brilharam pela primeira vez
apenas algumas centenas de milhões de anos após o Big Bang.
Mas outro objetivo do telescópio
é investigar exoplanetas. No Miri e no NirSpec, ele possui as ferramentas
necessárias para estudar as atmosferas desses objetos em detalhes sem
precedentes.
A partir dessa tecnologia, alguns
cientistas esperam poder até mesmo dizer se alguns exoplanetas têm condições
adequadas para hospedar vida.
Os astrônomos relataram as
observações de Webb sobre o VHS 1256b no periódico especializado The
Astrophysical Journal Letters.
O James Webb é um projeto colaborativo das agências espaciais dos Estados Unidos, da Europa e do Canadá. Ele foi lançado em dezembro de 2021 e é considerado o sucessor do Telescópio Espacial Hubble.
Fonte: msn.com
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