Como será futuro da exploração espacial após fim da Estação Internacional
Daqui a oito anos, a operação da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) – símbolo da colaboração global e da capacidade humana – chegará ao fim.
Mas o dramático encerramento das operações da ISS não precisa ser uma ocasião sombria. Na verdade, ele pode ser o prenúncio de um futuro animador para os voos espaciais humanos que, quem sabe, já estarão em estágio adiantado.
O
que irá acontecer quando a Estação Espacial Internacional for desativada em
2031? © Getty Images
'Experiência fantástica'
O
projeto da ISS começou em 1998, com o lançamento do módulo russo Zarya, que foi
o seu primeiro componente.
Dezenas
de países trabalharam em conjunto para realizar a maior construção humana no
espaço. E o mais notável foi a parceria entre dois inimigos ressentidos – os
Estados Unidos e a Rússia – após o fim da Guerra Fria e a queda da União
Soviética.
“Foi
simplesmente extraordinário”, afirma a especialista em política espacial Wendy
Whitman Cobb, da Escola de Estudos Aéreos e Espaciais Avançados da Força Aérea
dos Estados Unidos.
Para
ela, “é realmente uma grande história de cooperação pós-Guerra Fria. A
indústria espacial russa estava em maus lençóis. Esta foi uma oportunidade para
que os Estados Unidos e a Rússia abrissem uma nova era de trabalho conjunto.”
O
resultado foi uma enorme estação espacial com o tamanho de um campo de futebol,
pesando mais de 400 toneladas. Ela orbita o nosso planeta à velocidade de 29
mil quilômetros por hora e seu custo é de pelo menos US$ 150 bilhões (cerca de
R$ 744 bilhões).
A
ISS está continuamente habitada desde a chegada da sua primeira tripulação, em
novembro de 2000. Mas seus equipamentos estão envelhecendo e, em 2031, ela será
retirada de órbita e trazida de volta à atmosfera terrestre, para finalmente
cair no Oceano Pacífico.
Milhares
de experimentos científicos já foram realizados na ISS, seja no lado americano
e russo da estação, seja nos módulos construídos por europeus e japoneses que
foram conectados a ela.
As
pesquisas incluíram a investigação de doenças como o mal de Alzheimer e
Parkinson, o estudo de novos estados da matéria e o desenvolvimento de formas
de cultivar alimentos no espaço, como alface e rabanetes.
Morar
e trabalhar na estação “foi uma experiência fantástica”, segundo o astronauta
Frank de Winne, da Agência Espacial Europeia. Ele visitou a estação duas vezes,
em 2002 e 2009. Para de Winne, “é uma experiência única na vida, trabalhar em
uma parceria internacional e fazer avançar a humanidade”.
Mas
nem todos concordam que o sucesso da estação tenha sido tão grande.
O
astrônomo real britânico Lord Martin Rees, por exemplo, afirma que o preço tem
sido alto demais para o retorno científico obtido. “Com certeza, apenas pela
ciência, não valeu a pena”, segundo ele.
Ele
sugere que os países se concentrem mais em missões robóticas, como o Telescópio
Espacial James Webb, amplamente bem sucedido, ou as missões em andamento para
Marte.
“Mandar
pessoas para o espaço é incrivelmente caro”, afirma ele. “Acho que o futuro dos
voos espaciais humanos é para bilionários ou aventureiros.”
Mas,
além das pesquisas, algumas pessoas defendem que a principal conquista da
estação foi consolidar a humanidade como uma espécie espacial.
Antes
do lançamento da ISS, nós estávamos começando a aprender sobre as viagens
espaciais de longa duração, com os cosmonautas russos que passaram mais de um
ano na estação espacial MIR. Mas a ISS nos levou para outro nível, segundo a
analista espacial Laura Forczyk, da consultoria americana Astralytical.
“Ela
mudou as nossas ideias sobre o significado de ser uma civilização espacial”,
afirma ela.
De
Winne concorda: “Nós não poderíamos ter deixado de construir a estação
espacial. Há tantas coisas que aprendemos. Será um dia triste [quando ela for
retirada de órbita].”
Seja
como for, o fim da ISS irá encerrar uma demonstração impressionante da
colaboração humana, que sobreviveu a guerras e conflitos no nosso planeta.
O futuro
A
recente invasão da Ucrânia pela Rússia representou o teste mais rigoroso já
enfrentado pelo projeto. E, embora a colaboração tenha prosseguido até o
momento, uma nova parceria parece improvável no futuro próximo.
“Os
russos não irão mais participar”, afirma a historiadora espacial Cathy Lewis,
do Museu Nacional do Ar e do Espaço dos Estados Unidos. “Eles falaram em seguir
seu próprio caminho e não serão aceitos após a invasão da Ucrânia.”
Mas
o futuro após a ISS já está sendo planejado. Espera-se que novas estações
espaciais comerciais assumam o lugar da ISS na órbita da Terra.
A
Nasa já terceirizou o transporte de seres humanos até a órbita baixa da Terra
para as empresas norte-americanas SpaceX e Boeing. E a agência também começou a
assinar contratos no valor de centenas de milhões de dólares para o
desenvolvimento de novas estações espaciais.
Essas
estações podem tornar-se pequenos laboratórios de pesquisa ou destinos para
turistas espaciais, mantendo a presença da humanidade em órbita ao redor do
nosso planeta.
Uma
das empresas contratadas é a Axiom Space, que já transportou astronautas que
pagaram para embarcar em foguetes da SpaceX até a órbita da Terra.
A
empresa espera começar a anexar módulos à ISS em 2025. Esses módulos poderão
ser eventualmente separados para formar sua própria estação, que pode vir a ser
alugada para possíveis clientes. Mas nem todos ficaram convencidos com a ideia.
“Sou
realmente cético sobre esses casos comerciais”, afirma o astrônomo Jonathan
McDowell, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsoniano, nos Estados Unidos.
“Simplesmente não estou convencido de que uma estação espacial possa ser
administrada de forma lucrativa.”
Mas
a Nasa e outros parceiros da ISS estão ansiosos para explorar estas
oportunidades.
“Estamos
em grandes discussões com todas essas empresas”, afirma Josef Aschbacher, chefe
da Agência Espacial Europeia. “Estamos muito interessados em encontrar uma
forma de continuar após o fim da ISS.”
O retorno à Lua
Para
a Nasa, a liberação dos US$ 3 bilhões (cerca de R$ 14,9 bilhões) gastos
anualmente com a ISS irá permitir que a agência se dedique a outros objetivos
nos voos espaciais humanos, especialmente o transporte de astronautas novamente
para a Lua e, um dia, para Marte.
A
agência está agora conduzindo seu programa Artemis para voltar à superfície
lunar. Em 2024, quatro astronautas irão voar ao redor da Lua pela primeira vez
desde 1972, com a Apollo 17. Já o retorno à superfície do satélite está
planejado para 2025.
“A
estação é cara”, afirma o especialista em política espacial John Klein, da
Universidade George Washington, nos Estados Unidos. “Eles estão tentando seguir
adiante com o programa Artemis.”
A
Nasa também quer construir uma nova estação espacial perto da Lua, conhecida
como a estação lunar, com a ajuda de parceiros internacionais. A construção
poderá começar ainda nesta década.
Ela
não terá o tamanho nem a escala da ISS, mas pode se tornar uma parte importante
dos voos espaciais humanos futuros para a Lua e além, servindo de posto
avançado para os astronautas que viajam de e para o nosso satélite natural.
Economia circular
Por
fim, existe a possibilidade de que a ISS não seja totalmente destruída. Algumas
empresas receiam que retirar a estação inteira de órbita seria um desperdício e
que alguns dos seus módulos e recursos poderiam ser redirecionados ou
reutilizados no espaço.
A
Nasa ainda não declarou se está aberta a essas ideias, mas poderá mudar de
opinião à medida que se aproximar o prazo para a retirada da ISS de órbita.
“Não
encontrei ninguém envolvido no espaço que realmente queira apenas jogá-la no
oceano”, afirma Gary Calnan, CEO (diretor-executivo) da empresa norte-americana
CisLunar Industries.
No
final de 2022, a CisLunar e diversas outras empresas apresentaram à Casa Branca
uma proposta para reutilizar alguns aspectos da estação espacial, como fundir
parte do seu metal ou redirecionar alguns dos seus módulos. Calnan afirma que a
Casa Branca foi receptiva.
“Eles
gostaram da ideia”, ele conta. “Ela se enquadra na política de reúso e economia
circular do governo atual.”
De
qualquer forma, o projeto da ISS chegará ao fim em 2031, seja em um inferno
ardente ou sendo desmantelada para outras finalidades.
No
seu lugar, podem surgir outras estações espaciais menores, prontas e aguardando
para dar continuidade à presença humana em órbita da Terra, com astronautas
indo mais além para pôr os pés na Lua.
A
ISS irá deixar um legado impressionante, mas, nos anais da história, pode ser
apenas o começo.
“Ela
deixa essa noção de que, apesar da nossa obsessão com o nacionalismo e as
fronteiras, somos capazes de cooperar”, afirma Lewis. “Podemos fazer isso.
Podemos compartilhar a riqueza.”
Fonte: msn.com
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!