Descoberta do TOI-4860b fornece uma nova visão sobre a formação de planetas
Uma
equipe internacional de cientistas descobriu um planeta invulgar, da dimensão
de Júpiter, em órbita de uma estrela de baixa massa chamada TOI-4860, situada
na direção da constela
ção de Corvo.
Ilustração de um surpreendente planeta gigante em torno de uma estrela relativamente minúscula. Crédito: Robert Lea
O
gigante gasoso recém-descoberto, denominado TOI-4860 b, é um exoplaneta
invulgar por duas razões: não se espera que estrelas de tão baixa massa
alberguem planetas como Júpiter e o planeta parece ser particularmente
enriquecido com elementos pesados.
O
estudo, liderado por astrónomos da Universidade de Birmingham, foi publicado
numa carta da Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. O planeta foi
inicialmente identificado pelo satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey
Satellite) da NASA como uma queda de brilho enquanto transitava em frente da
sua estrela hospedeira, mas esses dados só por si eram insuficientes para
confirmar que se tratava de um planeta.
A
equipe utilizou o Observatório SPECULOOS Sul, situado no deserto do Atacama, no
Chile, para medir o sinal em vários comprimentos de onda e validou a sua
natureza planetária. Os astrónomos também observaram o exoplaneta imediatamente
antes e depois de desaparecer atrás da sua estrela hospedeira, notando que não
havia qualquer alteração na luz, o que significa que não estava a emitir
nenhuma. Finalmente, a equipa colaborou com um grupo japonês que utilizou o
Telescópio Subaru no Hawaii. Juntos mediram a massa do exoplaneta para o
confirmar completamente.
Seguir
esta estrela e confirmar o seu planeta foi a iniciativa de um grupo de
estudantes de doutoramento no âmbito do projeto SPECULOOS.
George
Dransfield, um dos estudantes de doutoramento, que apresentou recentemente a
sua tese na Universidade de Birmingham, explica: "De acordo com o modelo
canónico de formação planetária, quanto menor for a massa de uma estrela, menos
massivo será o disco de matéria em torno dessa estrela.
"Uma vez que os planetas são formados a partir desse disco, era de esperar que planetas de massa elevada, semelhantes a Júpiter, não se formassem. No entanto, estávamos curiosos acerca deste facto e queríamos verificar os candidatos a planetas para ver se era possível. TOI-4860 é a nossa primeira confirmação e a estrela de menor massa que alberga um exoplaneta de massa tão elevada."
Amaury
Triaud, Professor de Exoplanetologia na Universidade de Birmingham, que liderou
o estudo, afirmou: "Estou sempre grato aos brilhantes estudantes de
doutoramento da nossa equipe por se terem proposto a observar sistemas como o
de TOI-4860. O seu trabalho valeu a pena, pois planetas como TOI-4860 b são
vitais para aprofundar a nossa compreensão da formação planetária.
"Uma
pista do que poderá ter acontecido está escondida nas propriedades planetárias,
que parecem particularmente enriquecidas em elementos pesados. Também detetámos
algo semelhante na estrela hospedeira, por isso é provável que uma abundância
de elementos pesados tenha catalisado o processo de formação do
exoplaneta."
O
novo gigante gasoso demora cerca de 1,52 dias a completar uma órbita completa
em torno da sua estrela hospedeira, mas como a sua hospedeira é uma estrela
fria e de baixa massa, o planeta pode ser referido como um "Júpiter
Ameno". Esta é uma subclasse exoplanetária de particular interesse para os
astrónomos que procuram desenvolver as suas observações iniciais e aprender
mais sobre a formação deste tipo de planetas.
Mathilde
Timmermans, outra estudante do projeto SPECULOOS, que trabalha na Universidade
de Liège, na Bélgica, conclui: "Graças ao seu período orbital muito curto
e às propriedades da sua estrela hospedeira, a descoberta de TOI-4860 b fornece
uma oportunidade brilhante para estudar as propriedades atmosféricas de um
Júpiter ameno e aprender mais sobre como os gigantes gasosos se formam."
Recentemente, a equipe obteve tempo de observação com o VLT (Very Large Telescope), no Chile, que pretendem utilizar para confirmar vários outros exoplanetas com propriedades semelhantes.
Fonte: Astronomia OnLine
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