Exoplanetas semelhantes a Neptuno podem ser nublados ou ter céus limpos - novas descobertas sugerem a razão
O estudo de "exoplanetas", o nome que soa a ficção científica dado a todos os planetas no cosmos para lá do nosso próprio Sistema Solar, é um campo relativamente novo.
Impressão de artista do exoplaneta GJ 9827d, o mais pequeno exoplaneta onde, na sua atmosfera, foi detetado vapor de água. Crédito: NASA/ESA/Leah Hustak (STScI)/Ralf Crawford (STScI)
Os investigadores exoplanetários, como os do ExoLab da Universidade do Kansas, utilizam sobretudo dados de telescópios espaciais, como o Telescópio Espacial Hubble e o Telescópio Espacial James Webb. Sempre que os cabeçalhos das notícias falam de descobertas de planetas "semelhantes à Terra" ou de planetas com potencial para suportar vida como a conhecemos, estão a referir-se a exoplanetas dentro da nossa própria Via Láctea.
Jonathan Brande, um doutorando no
ExoLab da Universidade do Kansas publicou, na revista científica The
Astrophysical Journal Letters, resultados que mostram novos pormenores
atmosféricos num conjunto de 15 exoplanetas semelhantes a Neptuno. Embora
nenhum deles possa sustentar vida, uma melhor compreensão do seu comportamento
pode ajudar-nos a perceber porque é que não temos um pequeno Neptuno, enquanto
a maioria dos sistemas solares parece ter um planeta desta classe.
"Nos últimos anos, o meu
objetivo tem sido estudar as atmosferas dos exoplanetas através de uma técnica
conhecida como espetroscopia de transmissão", disse Brande. "Quando
um planeta transita, ou seja, se move entre a nossa linha de visão e a estrela
que orbita, a luz estelar passa através da atmosfera do planeta, sendo
absorvida pelos vários gases presentes.
Ao captarmos um espetro da
estrela - passando a luz por um instrumento chamado espetrógrafo, semelhante a
passá-la por um prisma - observamos um arco-íris, medindo o brilho das
diferentes cores constituintes. Áreas variadas de brilho ou diminuição de brilho,
no espetro, revelam os gases que absorvem a luz na atmosfera do planeta".
Com esta metodologia, Brande
publicou há vários anos um artigo científico sobre o "Neptuno quente"
TOI-674 b, onde apresentou observações que indicavam a presença de vapor de
água na sua atmosfera. Estas observações faziam parte de um programa mais vasto
liderado pelo orientador de Brande, Ian Crossfield, professor associado de
física e astronomia na Universidade do Kansas, com o objetivo de observar
atmosferas de exoplanetas do tamanho de Neptuno.
Ilustração de TOI-674 b, com uma atmosfera que tem, segundo um estudo recente, vapor de água. Crédito: NASA/JPL-Caltech
"Queremos compreender o
comportamento destes planetas, dado que aqueles ligeiramente maiores que a
Terra e mais pequenos que Neptuno são os mais comuns na Galáxia", disse
Brande.
Este mais recente artigo
científico resume as observações desse programa, incorporando dados de
observações adicionais para explicar porque é que alguns planetas parecem
nublados enquanto outros têm céus limpos.
"O objetivo é explorar as
explicações físicas por detrás dos diferentes aspetos destes planetas",
disse Brande.
Brande e os seus coautores
tomaram especial atenção às regiões onde os exoplanetas tendem a formar nuvens
ou neblinas no alto da sua atmosfera. Quando esses aerossóis atmosféricos estão
presentes, o investigador disse que as neblinas podem bloquear a filtragem da
luz através da atmosfera.
"Se um planeta tiver uma
nuvem mesmo acima da superfície, com centenas de quilómetros de ar limpo por
cima, a luz estelar pode facilmente passar através do céu limpo e ser absorvida
apenas pelos gases específicos nessa parte da atmosfera", disse Brande.
"No entanto, se a nuvem estiver posicionada muito acima, as nuvens são
geralmente opacas em todo o espetro eletromagnético.
Embora as neblinas tenham
características espectrais, para o nosso trabalho, em que nos concentramos numa
gama relativamente estreita com o Hubble, também produzem espetros quase
planos."
De acordo com Brande, quando
estes aerossóis estão presentes no alto da atmosfera, não há um caminho claro
para a luz passar.
"Com o Hubble, o único gás a
que somos mais sensíveis é o vapor de água", disse. "Se observarmos
vapor de água na atmosfera de um planeta, isso é uma boa indicação de que não
existem nuvens suficientemente altas para bloquear a sua absorção. Pelo
contrário, se o vapor de água não for observado e apenas se observar um espetro
plano, apesar de se saber que o planeta deve ter uma atmosfera alargada, isso
sugere a presença provável de nuvens ou neblinas a maiores altitudes."
Brande liderou o trabalho de uma
equipa internacional de astrónomos, incluindo Crossfield e colaboradores do
Instituto Max Planck em Heidelberg, Alemanha, uma coorte liderada por Laura
Kreidberg, e investigadores da Universidade do Texas, Austin, liderados por
Caroline Morley.
Brande e os seus coautores
abordaram a sua análise de forma diferente dos esforços anteriores,
concentrando-se na determinação dos parâmetros físicos das atmosferas dos
pequenos Neptunos. Em contraste, as análises anteriores envolveram
frequentemente a adaptação de um único modelo espectral às observações.
"Normalmente, os
investigadores pegam num modelo atmosférico com conteúdo de água pré-computado,
escalam-no e deslocam-no para corresponder aos planetas observados na sua
amostra", disse Brande. "Esta abordagem indica se o espetro é limpo ou
nublado, mas não fornece qualquer informação sobre a quantidade de vapor de
água ou sobre a localização das nuvens na atmosfera".
Em vez disso, Brande utilizou uma
técnica conhecida como "recuperação atmosférica".
Isto envolveu modelar a atmosfera
através de vários parâmetros planetários, tais como a quantidade de vapor de
água e a localização das nuvens, iterando ao longo de centenas e milhares de
simulações para encontrar a configuração mais adequada", disse. "As
nossas recuperações deram-nos o espetro do modelo mais adequado para cada
planeta, a partir do qual calculámos o grau de nebulosidade do planeta.
Depois, comparámos os graus
medidos com um conjunto separado de modelos de Caroline Morley, o que nos
permitiu ver que os nossos resultados estão de acordo com as expetativas para
planetas semelhantes. Ao examinar o comportamento das nuvens e da neblina, os
nossos modelos indicaram que as nuvens se ajustam melhor do que as neblinas.
O parâmetro de eficiência de
sedimentação, que reflete a compacidade das nuvens, sugeriu que os planetas
observados tinham eficiências de sedimentação relativamente baixas, resultando
em nuvens fofas. Estas nuvens, constituídas por partículas como gotículas de
água, permaneciam suspensas na atmosfera devido à sua baixa tendência de
sedimentação."
As descobertas de Brande fornecem
conhecimentos sobre o comportamento destas atmosferas planetárias e causaram um
"interesse substancial" quando as apresentou num recente encontro da
Sociedade Astronómica Americana.
Outras descobertas
Além disso, Brande faz parte de
um programa internacional de observação, liderado por Crossfield, que no final
do mês de janeiro anunciou a descoberta de vapor de água em GJ 9827d - um
planeta tão quente como Vénus, a 97 anos-luz da Terra, na direção da constelação
de Peixes.
As observações, feitas com o
Telescópio Espacial Hubble, mostram que o planeta pode ser apenas um exemplo de
planetas ricos em água na Via Láctea. As observações foram anunciadas por uma
equipa liderada por Pierre-Alexis Roy do iREx (Instituto Trottier para a
Investigação sobre Exoplanetas) da Universidade de Montreal.
"Estávamos à procura de
vapor de água nas atmosferas de sub-Neptunos", disse Brande. "O
artigo de Pierre-Alexis é o mais recente desse esforço principal porque foram
necessárias cerca de 10 ou 11 órbitas ou trânsitos planetários para fazer a
deteção do vapor de água.
O espetro de Pierre-Alexis foi
incluído no nosso trabalho como um dos pontos de dados, e incluímos todos os
planetas da sua proposta e até outros estudados na literatura, fortalecendo os
nossos resultados. Estivemos em estreita comunicação com eles durante a criação
de ambos os artigos científicos para garantir que estávamos a utilizar os
resultados atualizados adequados e para refletir com precisão as suas
descobertas."
Fonte: Astronomia OnLine
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