Que tipo de mundo é LHS 1140 b?
Seria de esperar uma relativa facilidade ao distinguir entre os vários tipos de planetas. Infelizmente, através dos telescópios, os mundos mais interessantes são extremamente parecidos com os mundos comparativamente aborrecidos.
Um planeta bem estudado, LHS
1140 b, ilustra esta tensão: após uma reanálise de dados de arquivo, não está
claro se o planeta tem um oceano potencialmente habitável à superfície, ou
apenas uma fina camada de hidrogénio sobre uma superfície rochosa.
Impressão de artista de luz a brilhar através do oceano num "mundo de água", possivelmente como LHS 1140 b. Crédito: NASA
Trabalhos anteriores
A estrela LHS 1140 tornou-se
bastante popular entre os astrónomos exoplanetários nos últimos sete anos, e
por boas razões. Embora não tão famosa quanto a sua irmã TRAPPIST-1, que rouba
quase todas as atenções, LHS 1140 partilha muitas das mesmas propriedades que
tornam TRAPPIST-1 tão atraente.
A pouco menos de 50 anos-luz de
distância, está relativamente perto e é bastante brilhante; com apenas
um-quinto da massa e do raio do Sol, é suficientemente leve para ser atraída
por planetas minúsculos e suficientemente pequena para que esses planetas bloqueiem
uma grande fração da sua luz durante os trânsitos. Todas estas características
combinadas fazem de LHS 1140 uma excelente estrela hospedeira para os
cientistas que procuram efetuar medições sensíveis.
Consequentemente, desde a
descoberta dos seus dois planetas acompanhantes em 2017 e 2019 que LHS 1140 é
observada com uma multitude de instrumentos. Quando analisados um a um, estes
conjuntos de dados sugerem que os dois mundos, batizados criativamente à
maneira típica dos exoplanetas como LHS 1140 b e LHS 1140 c, são um pouco
maiores e mais massivos do que o nosso planeta, mas basicamente feitos da mesma
combinação de rocha e metal. No entanto, todas estas observações ainda não
tinham sido analisadas num único estudo conjunto.
Observações de quatro trânsitos de LHS 1140 b recolhidas pelo Telescópio Espacial Spitzer. Crédito: Cadieux et al. 2024
Outro olhar
Charles Cadieux, da Universidade
de Montreal, aceitou este desafio e liderou uma equipa para reprocessar quase
todos os bytes de informação recolhida sobre estes mundos, numa tentativa de
melhor restringir as suas massas e raios. E conseguiram-no: como dizem os
autores, "os planetas de LHS 1140 estão [agora] entre os exoplanetas mais
bem caracterizados até à data, com incertezas relativas de apenas 3% para a
massa e 2% para o raio".
No entanto, a equipa não tinha o
objetivo de reduzir as antigas barras de erro apenas por uma questão de
precisão. Na verdade, o seu objetivo final era restringir a composição de cada
planeta. Embora a sua análise tenha confirmado que LHS 1140 c é provavelmente
uma super-Terra genérica, as suas novas medições colocaram LHS 1140 b numa
estranha posição no que toca ao contexto dos seus parâmetros.
Descobriram que LHS 1140 b deve
ter uma densidade inferior à da Terra, mas ainda assim muito superior à dos
planetas gigantes. Depois de mais modelos, a equipa ficou com dois cenários
muito diferentes para a forma como um planeta podia chegar a esta zona cinzenta
intermédia.
Ou LHS 1140 b tem uma atmosfera
muito leve e inchada de hidrogénio e hélio, sobreposta a uma superfície
rochosa, ou, mais exoticamente, LHS 1140 b é um "mundo de água",
provavelmente coberto de gelo com áreas de água líquida.
A massa e o raio dos planetas de LHS 1140, juntamente com contornos pertencentes a diferentes composições. LHS 1140 b está mesmo acima da linha rochosa, no limite da região com invólucro gasoso. Crédito: Cadieux et al. 2024
Um caminho em frente
Embora seja excitante ter um
planeta potencialmente habitável no nosso quintal galáctico, os dados atuais,
mesmo quando recolhidos com os melhores instrumentos e processados com as
técnicas mais avançadas, são frustrantemente incapazes de distinguir entre os
dois cenários.
Tecnicamente, há um caminho a
seguir para resolver esta incerteza: os autores defendem corajosamente uma
campanha de observação de 18 trânsitos com o Telescópio Espacial James Webb
para confirmar uma atmosfera espessa e "amiga" da água. No entanto,
com muitos planetas para onde apontar e uma abundância de galáxias para
observar, não há garantias de que a comunidade decida dedicar tanto tempo a um
só alvo. Talvez tenhamos de viver apenas com o indício de que existe um oceano
extraterrestre na nossa vizinhança: uma ambiguidade amarga, mas inspiradora.
Fonte: Astronomia OnLine
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