Webb descobre que as galáxias anãs reionizaram o Universo
Utilizando as capacidades sem
precedentes do Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA/CSA, uma equipa
internacional de cientistas obteve as primeiras observações espetroscópicas das
galáxias mais ténues durante os primeiros mil milhões de anos do Universo.
Estas descobertas ajudam a responder a uma questão de longa data dos
astrónomos: que fontes causaram a reionização do Universo?
Os astrónomos estimam que 50.000 fontes de luz no infravermelho próximo estão representadas nesta imagem do Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA/CSA. A sua luz percorreu distâncias variáveis para alcançar os detetores do telescópio, representando a imensidão do espaço numa única imagem. Crédito: NASA, ESA, CSA, I. Labbe (Universidade de Swinburne) e R. Bezanson (Universidade de Pittsburgh); processamento de imagem - Alyssa Pagan (STScI)
Ainda há muito por compreender
sobre o período, no início da história do Universo, conhecido como a era da
reionização. Foi um período de escuridão sem estrelas ou galáxias, preenchido
por uma densa névoa de hidrogénio gasoso, até que as primeiras estrelas
ionizaram o gás à sua volta e a luz começou a viajar. Os astrónomos passaram
décadas a tentar identificar as fontes que emitiam radiação suficientemente
poderosa para dissipar gradualmente este nevoeiro de hidrogénio que cobria o
Universo primitivo.
O programa UNCOVER (Ultradeep
NIRSpec and NIRCam ObserVations before the Epoch of Reionization) consiste em
observações espetroscópicas e de imagem do enxame Abell 2744. Uma equipe
internacional de astrónomos utilizou a lente gravitacional deste alvo, também
conhecido como Enxame de Pandora, para investigar as fontes do período de
reionização do Universo. As lentes gravitacionais ampliam e distorcem o aspeto
de galáxias ainda mais distantes, pelo que têm um aspeto muito diferente das
que se encontram em primeiro plano.
A "lente" deste enxame
massivo de galáxias deforma o tecido do próprio espaço de tal modo que a luz de
galáxias distantes, que passa através do espaço deformado, também assume um
aspeto deformado. O efeito de ampliação permitiu à equipa estudar fontes muito
distantes de luz para lá de Abell 2744, revelando oito galáxias extremamente
ténues que, de outra forma, seriam indetetáveis, até para o Webb.
A equipa descobriu que estas
galáxias ténues são produtoras de imensa luz ultravioleta, a níveis quatro
vezes superiores ao que se supunha anteriormente. Isto significa que a maior
parte dos fotões que reionizaram o Universo provém provavelmente destas galáxias
anãs.
"Esta descoberta revela o
papel crucial desempenhado pelas galáxias ultrafracas na evolução inicial do
Universo", disse Iryna Chemerynska, membro da equipa, do Instituto de
Astrofísica de Paris, França. "Produzem fotões ionizantes que transformam
o hidrogénio neutro em plasma ionizado durante a reionização cósmica. Isto
realça a importância de compreender o papel das galáxias de baixa massa na
história do Universo".
"Estas potências cósmicas
emitem coletivamente energia mais do que suficiente para fazer o
trabalho", acrescentou o líder da equipa, Hakim Atek, também do Instituto
de Astrofísica de Paris e autor principal do artigo científico que descreve este
resultado. "Apesar do seu tamanho minúsculo, estas galáxias de baixa massa
são produtoras prolíficas de radiação energética, e a sua abundância durante
este período é tão substancial que a sua influência coletiva pode transformar
todo o estado do Universo."
Para chegar a esta conclusão, a
equipe começou por combinar dados extremamente sensíveis de imagem do Webb com
imagens de Abell 2744 obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA para
selecionar galáxias candidatas extremamente ténues na época da reionização.
Seguiu-se então espetroscopia com
o instrumento NIRSpec (Near-InfraRed Spectrograph) do Webb. O componente MSA
(Multi-Shutter Assembly) deste instrumento foi utilizado para captar vários
espetros destas galáxias ténues. Esta é a primeira vez que os cientistas
estimam de forma fiável a frequência das galáxias ténues.
Os resultados confirmam que são o
tipo de galáxias mais abundante durante a época da reionização. É também a
primeira vez que se mede o poder de ionização destas galáxias, o que permite
aos astrónomos determinar que estão a produzir radiação energética suficiente
para ionizar o Universo primitivo.
"A incrível sensibilidade do
NIRSpec, combinada com a ampliação gravitacional proporcionada pelo enxame
Abell 2744, permitiu-nos identificar e estudar em pormenor estas galáxias dos
primeiros mil milhões de anos do Universo, apesar de serem mais de 100 vezes
mais fracas do que a nossa Via Láctea", continuou Hakim.
Num próximo programa de
observação do Webb, denominado GLIMPSE, os cientistas obterão as observações
mais sensíveis alguma vez efetuadas do céu. Ao apontar para outro enxame
galáctico, chamado Abell S1063, serão identificadas galáxias ainda mais fracas
durante a época da reionização.
Isto permitirá aos cientistas
verificar se as galáxias anãs do estudo atual são típicas da distribuição
galáctica a larga escala. Uma vez que estes novos resultados se baseiam em
observações obtidas num único campo, a equipa salienta que as propriedades ionizantes
das galáxias fracas podem ser diferentes se estas residirem em regiões mais
densas.
Por conseguinte, observações
adicionais num campo diferente fornecerão novos conhecimentos e ajudarão a
verificar estas conclusões. As observações do programa GLIMPSE também ajudarão
os astrónomos a investigar o período conhecido como "amanhecer cósmico",
quando o Universo tinha apenas alguns milhões de anos, para melhorar a nossa
compreensão do aparecimento das primeiras galáxias.
Estes resultados foram publicados
na revista Nature.
Fonte: esawebb.org
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