A busca (inglória) das estrelas mais antigas do Universo
Uma das pesquisas mais difíceis
em astronomia é pelas primeiras estrelas que se formaram no Universo. Batizadas
com o nome de População III, elas são um conceito ainda hipotético de astros
que poderiam ter se formado nos cem milhões de anos seguintes ao Big Bang.
HD 140283 (Estrela Matusalém),
uma das mais antigas já observada. (Fonte: Digitized Sky Survey (DSS),
STScI/Aura/Divulgação)
Por uma questão de coerência,
elas deveriam ser compostas exclusivamente de hidrogênio e hélio, uma vez que
os elementos mais pesados ainda não existiam.
Em algum momento entre 150
milhões e 1 bilhão de anos após o Big Bang, o Universo evoluiu desse estado
neutro para um estado ionizado, quando os átomos antigos de hidrogênio
começaram a perder elétrons. Isso ocorreu como consequência da radiação emitida
pelas primeiras estrelas e galáxias em formação.
Como enxergar estrelas que
já morreram há bilhões de anos?
Nesse contexto de mudança
fundamentais, as estrelas da População III "criaram as condições e
abundâncias elementares das quais as estrelas em nossa galáxia se
formaram", afirma o astrônomo da UCLA William Lake à Popular Science. Sem
elementos extras em suas atmosferas, esses corpos celestes eram mais massivos
que as estrelas atuais, mais quentes e brilhantes, mas com vidas curtas. E por
isso não as vemos: elas morreram há muito tempo.
A boa notícia é que podemos, sim,
enxergar esses “fantasmas” estelares, graças à velocidade finita da luz, que
leva tempo para chegar até nós. Ou seja, uma estrela a 12 bilhões de anos-luz
de distância aparece hoje como era há 12 bilhões de anos. Mas essa observação é
tão difícil, que até hoje não conseguimos ver ninguém da “turma” Pop III.
Isso ocorre porque tudo no
Universo distante é muito vermelho, e é aí que entra o James Webb (JWST), um
telescópio especializado em observar no infravermelho. No entanto, o JWST não
consegue voltar ao início do universo, mas perto da época da reionização. Mas o
problema é que as estrelas da População III, muito minúsculas e fracas do nosso
ponto de vista, começaram a ficar escondidas atrás das estrelas “normais”.
Observando através das
lentes gravitacionais do Universo
Galáxia SPT0615-JD, que pode conter algumas das primeiras gerações de estrelas do Universo. (Fonte: NASA/ESA/B. Salmon/STScI)
Com todos esses obstáculos, ainda
e pouco provável que consigamos observar estrelas da População III, embora com
o JWST, os astrônomos esperem uma ajuda das lentes gravitacionais, locais do
Universo onde a luz se curva em torno de objetos massivos.
Só que, ao contrário dos
telescópios terrestres, aqui precisamos contar com a sorte, para que esses
objetos gigantescos se alinhem de forma a ampliar gravitacionalmente uma
estrela antiga.
Para o astrônomo da UCLA Sahil
Hegde, procurar essas contemporâneas da Pop III em meio às grandes populações
de estrelas atuais é como tentar observar um fenômeno celeste no meio das luzes
de uma cidade. Uma possibilidade seria “procurar um fundo de ondas
gravitacionais de buracos negros binários semeados pela Pop III”, mas isso só
será possível a partir de 2030, com a inauguração do observatório de ondas
gravitacionais Einstein.
MSN.COM
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