Marte pode ter oceanos subterrâneos, mas fundos demais para explorar
Oceanos inalcançáveis
Uma nova análise dos dados
coletados em Marte pela sonda espacial InSight mostra que esses dados se
encaixam melhor em uma estrutura planetária que inclui uma enorme quantidade de
água nas profundezas do planeta.
Recorte do interior marciano abaixo do módulo de pouso Insight, conforme a nova proposta. Os 5 quilômetros superiores da crosta parecem estar secos, mas uma zona de rocha fraturada 11,5-20 km abaixo da superfície pode conter água líquida. [Imagem: James Tuttle Keane/Aaron Rodriquez/Scripps Institute of Oceanography]
Este seria o melhor indício
obtido até o momento de que o planeta ainda teria água líquida - sabemos que
Marte tem água congelada nos seus polos.
A presença potencial de água
líquida em Marte tem intrigado os cientistas há décadas, compondo o chamado
"Paradoxo de Marte", o fato de que Marte é frio demais, não tendo
hoje, e quase certamente nunca tendo no passado, condições de contar com águas
correntes em sua superfície. Por outro lado, o relevo do planeta tem enormes
estruturas geológicas que são melhor explicadas por grandes rios e lagos.
Fazendo as contas, a equipe
propõe que o volume de água nessas rochas seria suficiente para ter preenchido
os hipotéticos oceanos marcianos antigos. Se a interpretação dos dados e essa
conclusão forem verdadeiras, ela prepara o cenário para novas pesquisas
considerando a habitabilidade do planeta e continuando uma busca por vida que
exista em um lugar diferente da Terra.
Por outro lado, será muito
difícil comprovar esta hipótese, já que a proposta é que a água estaria
localizada em pequenas rachaduras e poros nas rochas no meio da crosta
marciana, entre 11,5 e 20 quilômetros abaixo da superfície, uma espécie de
lençol freático muito profundo.
Mesmo na Terra, perfurar um
buraco de apenas 1 km de profundidade é um desafio. O poço mais profundo do
mundo, chamado Poço Superprofundo Kola, alcançou 12.262 metros abaixo da
superfície, em uma região remota do noroeste da Rússia - levou 20 anos para perfurá-lo.
A perfuratriz enviada a Marte na mesma sonda não conseguiu furar nem 40
centímetros.
Esta foi a primeira selfie completa da InSight em Marte, mostrando os painéis solares e a plataforma do módulo de pouso, onde estão os instrumentos científicos, braços de sensores meteorológicos e antena UHF. Embaixo ficava a perfuratriz que foi expulsa pelo solo marciano. [Imagem: NASA/JPL-Caltech]
Busca de água em Marte
O módulo de pouso InSight foi
enviado pela NASA a Marte em 2018 para investigar a crosta, o manto, o núcleo e
a atmosfera do planeta. Ao contrário dos rovers, a sonda era estacionária. A
missão se encerrou em 2022, depois que seus painéis solares ficaram cobertos de
poeira.
Três cientistas empregaram agora
um novo modelo matemático de física de rochas baseado nos modelos usados na
Terra para mapear aquíferos subterrâneos e campos de petróleo. Eles concluíram
que os dados sísmicos da Insight são melhor explicados por uma camada profunda
de rochas ígneas fraturadas saturadas com água líquida - rochas ígneas são
oriundas do magma, mas já esfriadas.
"Não vejo por que [o
reservatório subterrâneo hipotético de Marte] não seja um ambiente habitável.
Certamente é verdade na Terra - minas muito, muito profundas, abrigam vida, o
fundo do oceano abriga vida. Não encontramos nenhuma evidência de vida em
Marte, mas pelo menos identificamos um lugar que deveria, em princípio, ser
capaz de sustentar vida," disse o professor Michael Manga, da Universidade
de Berkeley e um dos autores da nova análise.
Este é o robô Perseverança ao lado da rocha com possíveis indícios de vida antiga em Marte, descoberta no mês passado. [Imagem: NASA/JPL-Caltech/MSSS]
Paradoxo de Marte
O relevo de Marte apresenta
canais de rios, deltas e lagos, bem como rochas alteradas pela água, dando
apoio à hipótese de que a água já fluiu na superfície do planeta. Mas esse
período úmido terminou há mais de 3 bilhões de anos, depois que Marte perdeu
sua atmosfera.
Várias sondas e módulos de pouso
já foram enviados ao planeta para descobrir o que aconteceu com essa água - a
água congelada nas calotas polares de Marte não consegue explicar tudo - bem
como quando isso aconteceu e se a vida existe ou costumava existir no planeta.
A melhor notícia nesse aspecto
veio no mês passado, quando foi encontrada em Marte uma rocha com possíveis
indícios de vida antiga.
Fonte: Inovação
Tecnológica
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