Uma nebulosa planetária destruiu o seu sistema solar
Uma equipe internacional
de investigadores descobriu uma nebulosa planetária que destruiu o seu próprio
sistema planetário, conservando os fragmentos restantes sob a forma de poeira
em órbita da sua estrela central.
Imagem da nebulosa planetária WeSB1. Crédito: Klaus Bernhard
Até à data, foram descobertos
mais de 5000 exoplanetas em órbita de estrelas de todos os tipos e em quase
todas as fases da evolução estelar. No entanto, embora tenham sido descobertos
exoplanetas em torno de anãs brancas - a fase final da evolução de estrelas de
massa baixa e intermédia, como o Sol -, não foram detetados exoplanetas na fase
evolutiva anterior, conhecida como a fase de nebulosa planetária.
As nebulosas planetárias são
conchas brilhantes de gás e poeira que se encontram à volta das anãs brancas
mais jovens, formadas a partir do material perdido pela estrela central no fim
da sua vida, mesmo antes de se tornar uma anã branca. A expulsão deste material
interfere com quaisquer planetas que possam estar em órbita em torno da
estrela, fazendo com que os mais próximos espiralem e sejam engolidos pela
estrela central, enquanto os mais distantes se deslocam para órbitas ainda mais
distantes, talvez até se soltem e voem para longe.
A aparente ausência de
exoplanetas em torno de estrelas na fase de nebulosa planetária levanta
questões importantes sobre como é possível encontrar tantos em torno de anãs
brancas. Esta descoberta, publicada na revista Nature Astronomy, representa um
passo importante para a compreensão da população observada de exoplanetas em
torno de estrelas evoluídas.
A descoberta foi feita através do
estudo de dados de 2000 estrelas centrais de nebulosas planetárias observadas
pelo satélite Gaia e pelo ZTF (Zwicky Transient Facility) - um levantamento
astronómico que permite obter imagens repetidas de grandes áreas do céu noturno
em busca de transientes astronómicos e outras formas de variabilidade.
Astrónomo amador
Foi o astrónomo amador Klaus
Bernhard, da associação alemã "Bundesdeutsche Arbeitsgemeinschaft fur
Veranderliche Sterne", quem primeiro se deparou com o estranho
comportamento desta nebulosa planetária. "Olhando para os dados, descobri
que a estrela central de WeSb1 caiu para menos de 10% do seu brilho habitual
durante algumas semanas em 2021, antes de voltar ao normal. Em anos anteriores,
registaram-se episódios de escurecimento semelhantes, mas sempre com uma
duração diferente e nunca tão profundos", conta Klaus Bernhard.
"O sinal revelador de um
exoplaneta ou de uma estrela companheira são pequenas quedas regulares no
brilho devido a eclipses, por isso foi uma verdadeira surpresa quando Klaus
mostrou a estranha variabilidade desta estrela", explica David Jones,
coautor do artigo científico e investigador do IAC (Instituto de Astrofísica de
Canarias).
"A única explicação razoável
para este comportamento é a existência de grandes nuvens de poeira em órbita à
volta da estrela central, mas no interior da nebulosa", acrescenta James
Munday, coautor do estudo e estudante de doutoramento na Universidade de
Warwick.
Para melhor compreender as
propriedades e origens desta poeira, a equipa obteve dados adicionais
utilizando o NOT (Nordic Optical Telescope) no Observatório Roque de los
Muchachos do IAC, no município de Garafía, em La Palma. De igual modo,
procuraram dados existentes obtidos por outros estudos, como o ATLAS, uma rede
de telescópios que em breve incluirá um instalado no Observatório de Teide, em
Tenerife.
"Juntando tudo, começou a
tornar-se mais claro o que tinha acontecido neste sistema", diz Jan Budaj,
primeiro autor do estudo e investigador da Academia Eslovaca de Ciências.
"A estrela central não é, de facto, uma estrela, mas sim duas. A interação
entre a estrela central e a sua companheira formou a nebulosa planetária e, ao
mesmo tempo, levou à destruição dos planetas do sistema, deixando os
remanescentes sob a forma de grandes nuvens de poeira em órbita à volta da
estrela companheira".
Astronomia OnLine
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