Estrelas canibais, estrelas de bósons... astrofísicos descrevem um universo tão diferente
Pesquisadores do SISSA —
em colaboração com o INFN, o IFPU e a Universidade de Varsóvia — publicaram um
estudo na Physical Review D que revoluciona nossa compreensão dos primeiros
momentos cósmicos. Seu trabalho explora a hipótese de um período muito breve em
que a matéria dominou o Universo nascente, criando condições propícias à
formação de objetos cósmicos compactos. Essa fase, embora efêmera, teria sido
suficiente para iniciar processos físicos que moldaram a evolução subsequente
do cosmos.
Ilustração retirada do Pixabay
Durante esse período de domínio
da matéria, partículas elementares teriam se agrupado em halos que, sob a
influência de suas próprias interações, teriam sofrido colapso gravitacional.
Esse processo teria levado à criação de diversos objetos cósmicos, desde
buracos negros primordiais a estrelas de bósons, e até mesmo estruturas mais
exóticas. Essas formações teriam existido por apenas alguns segundos antes de
se transformarem ou desaparecerem completamente.
Dentre esses objetos estranhos,
as estrelas canibais se destacam devido ao seu mecanismo energético único. Ao
contrário das estrelas clássicas, que obtêm sua energia da fusão nuclear, essas
entidades hipotéticas seriam alimentadas pela aniquilação de suas partículas
constituintes. As estrelas de bósons, por outro lado, manteriam sua coesão
graças às propriedades quânticas de seus constituintes, representando uma forma
de matéria estelar completamente diferente de tudo o que conhecemos.
Os buracos negros primordiais
resultantes desses colapsos têm massas notavelmente baixas, algumas
equivalentes à de um asteroide. De acordo com os modelos teóricos desenvolvidos
pela equipe, alguns desses microburacos negros podem ter desaparecido rapidamente
por evaporação, enquanto outros podem constituir uma porção significativa da
matéria escura que os cosmólogos ainda procuram . Essa diversidade de cenários
abre novas perspectivas para a compreensão da composição do nosso Universo.
As implicações deste trabalho vão
além dos primeiros momentos cósmicos. Os pesquisadores enfatizam que processos
semelhantes podem estar ocorrendo hoje em halos de matéria escura
autointeragente. O estudo desses fenômenos em modelos de partículas simples
pode lançar nova luz sobre os mecanismos de formação e acreção de estrelas que
moldam a evolução das galáxias e dos aglomerados cósmicos.
Halos de matéria
primordial
Os halos de matéria primordial
aparecem como concentrações de partículas elementares que se formaram no início
do Universo. Acredita-se que essas estruturas microscópicas tenham surgido
naturalmente durante o breve período em que a matéria dominava o cosmos
nascente, muito antes do surgimento das primeiras galáxias. Sua existência
hipotética baseia-se em modelos cosmológicos que descrevem as interações entre
partículas fundamentais sob condições de densidade e temperatura extremas.
A formação desses halos teria
resultado de flutuações quânticas amplificadas pela rápida expansão do
Universo. As partículas, interagindo entre si, teriam criado regiões
ligeiramente mais densas que o seu entorno. Sob a influência da gravidade,
essas sobredensidades teriam se intensificado gradualmente, levando à criação
de estruturas coerentes. Esse processo lembra o que forma as galáxias hoje, mas
em escalas muito menores e sob condições físicas radicalmente diferentes.
A estabilidade desses halos
dependia diretamente da natureza das interações entre as partículas. Alguns
modelos propõem que forças adicionais, além da gravidade e das interações
padrão, podem ter desempenhado um papel decisivo em sua evolução. A duração dessas
estruturas variava consideravelmente dependendo de suas propriedades, algumas
durando apenas frações de segundo, enquanto outras podiam persistir o
suficiente para influenciar estágios subsequentes da evolução cósmica.
O estudo desses halos primordiais
oferece uma janela única para a física de altas energias. Suas propriedades
podem revelar aspectos da teoria de partículas que escapam aos aceleradores
terrestres. Além disso, sua evolução pode ter deixado marcas observáveis na radiação cósmica de fundo em micro-ondas ou
na distribuição da matéria escura, fornecendo assim
pistas valiosas para testar modelos cosmológicos.
Colapso gravotérmico
O colapso gravotérmico descreve
um processo pelo qual um sistema de partículas interagindo perde energia e se
contrai sob a influência de sua própria gravidade. No início do Universo,
acredita-se que esse mecanismo tenha transformado halos de matéria em objetos
cósmicos compactos. Diferentemente dos colapsos gravitacionais clássicos, esse
fenômeno incorpora efeitos térmicos e interações entre as partículas, criando
uma dinâmica muito diferente.
O processo começa quando
partículas dentro de um halo trocam energia por meio de colisões e interações.
Essas trocas levam a uma redistribuição de energia, com algumas partículas
ganhando velocidade suficiente para escapar do sistema. A perda de energia resultante
reduz a pressão interna que sustenta o halo contra o colapso gravitacional.
Gradualmente, o sistema se contrai, aumentando sua densidade e temperatura.
À medida que a contração se
intensifica, as interações entre as partículas tornam-se mais frequentes e mais
energéticas. Em alguns casos, essas interações podem desencadear reações em
cadeia que aceleram o colapso. A natureza exata do objeto final depende das
propriedades das partículas envolvidas e das condições iniciais do halo. Alguns
halos podem formar buracos negros, enquanto outros podem se estabilizar como
estrelas exóticas.
Esse mecanismo compartilha
semelhanças com a formação de estrelas atuais, mas com diferenças fundamentais
relacionadas à ausência de elementos pesados e às energias muito mais elevadas
envolvidas. Compreender o colapso gravotérmico no
Universo primordial pode explicar fenômenos
contemporâneos,
como a dinâmica de
aglomerados globulares ou a evolução de galáxias anãs, onde processos semelhantes
podem ocorrer em diferentes escalas.
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