Novo estudo revê a nossa imagem dos planetas mais comuns na Galáxia
À medida que os telescópios se
tornaram mais potentes, verificou-se que o nosso Sistema Solar não é o único:
existem milhões de outros planetas na nossa Galáxia.
Um novo estudo conclui que muitos "mini-Neptunos" - talvez os planetas mais comuns na nossa Galáxia - estão sob tanta pressão das suas atmosferas pesadas que a superfície é provavelmente comprimida para um estado sólido. Crédito: NASA/JPL-Caltech/R. Hurt (IPAC)
Mas ainda estamos a tentar
descobrir pistas sobre como eles realmente são.
Um dos quebra-cabeças é um tipo
de planeta que parece ser um dos mais comuns no Universo. Conhecidos como
"mini-Neptunos", porque são um pouco mais pequenos do que Neptuno do
nosso Sistema Solar, estes planetas são feitos de uma mistura de rocha e metal,
com atmosferas espessas feitas principalmente de hidrogénio, hélio e talvez
água. Estranhamente, apesar da sua abundância noutros locais, não têm qualquer
análogo no nosso Sistema Solar, tornando a sua população uma espécie de enigma.
Mas um novo estudo publicado no
passado dia 5 de novembro, liderado pela professora Eliza Kempton da
Universidade de Chicago, acrescenta uma nova "ruga" à melhor imagem
que já temos destes mundos distantes.
Embora anteriormente se pensasse
que estes planetas estavam geralmente cobertos por oceanos de magma derretido,
Kempton descobriu que as superfícies de muitos deles podem ser de facto
sólidas.
No entanto, estes planetas não
seriam muito divertidos para um ser humano: a superfície rochosa só é sólida
porque está sob uma enorme pressão devido ao peso de uma atmosfera espessa.
"Isto altera realmente um
paradigma sobre estes planetas, o que é interessante porque há tantos no
Universo", disse Kempton. "No fundo, estamos literalmente a tentar
perceber o que estes objetos são, porque não existem no nosso Sistema Solar".
Massa e magma
Embora saibamos que existem
planetas para lá do nosso Sistema Solar - conhecidos como exoplanetas - estão
tão distantes que mesmo os nossos telescópios mais potentes só conseguem captar
sinais indiretos, como a queda de luz quando um planeta passa em frente da sua
estrela.
No entanto, os cientistas
descobriram formas criativas de interpretar os dados de que dispomos. Por
exemplo, podem ter uma ideia das moléculas nas atmosferas dos planetas,
analisando a luz que é filtrada através delas, e medir os efeitos
gravitacionais dos planetas nas suas estrelas hospedeiras para descobrir as
suas massas.
A descoberta de tantos
mini-Neptunos surpreendeu os cientistas que os viram à volta de estrelas
próximas, dada a sua total ausência na nossa própria vizinhança.
Devido às altas temperaturas e
atmosferas pesadas, pensou-se que estes planetas teriam provavelmente mares
globais de magma derretido nas suas superfícies, tal como a Terra teve
brevemente. Edwin Kite, professor associado da Universidade de Chicago, previu
anteriormente que estes oceanos de magma podem mesmo começar a
"comer" os seus próprios céus, limitando o tamanho do planeta.
Mas ao aprofundar os dados, uma
equipa de investigadores que incluía Kempton, o então estudante Bodie Breza,
primeiro autor do artigo científico, e o investigador pós-doutorado Matthew
Nixon (agora bolseiro na Universidade do Estado do Arizona) aperceberam-se de
que a história poderia ser mais complicada.
O grupo apercebeu-se pela
primeira vez da potencial reviravolta ao analisar um planeta chamado GJ 1214 b,
que orbita uma estrela distante na constelação de Ofiúco. Dados recentes do
Telescópio Espacial James Webb sugerem que a atmosfera deste planeta pode
conter moléculas maiores do que o simples hidrogénio e hélio, o que implica que
a atmosfera seria mais pesada do que se pensava anteriormente - muito, muito
maior do que a fina concha da Terra.
Esse manto de atmosfera pesada
criaria condições de temperaturas extremamente elevadas e de alta pressão. De
facto, a pressão seria tão elevada que os dados sugerem que a rocha passaria de
magma fundido a rocha sólida novamente - tal como o carbono se condensa em
diamante nas profundezas da superfície da Terra.
Surpreendida, a equipa
questionou-se sobre o que isto significaria para outros planetas. Ao criar uma
série de planetas simulados com diferentes condições, descobriram que uma parte
substancial destes mini-Neptunos, que anteriormente se supunha serem mundos de
lava, podem, de facto, ter superfícies sólidas.
É uma questão de "ou um ou
outro", disse Kempton. "Podemos ter um cenário em que o chão é lava
ou uma superfície sólida, e temos de ter em conta uma série de outros fatores
acerca da atmosfera do planeta para tentar descobrir em que regime se
enquadra".
Revendo a história
Estes mini-Neptunos são de
especial interesse para os cientistas devido ao seu grande número e ao que
implicam sobre o modo como os planetas se formam.
"Antes de encontrarmos
exoplanetas, tínhamos uma história interessante sobre a formação dos sistemas
solares, baseada no modo como o nosso Sistema Solar se formou. Pensámos que
isso se aplicaria a outros sistemas solares", explicou Nixon. "Seguindo
essa lógica, os outros sistemas solares deveriam ser parecidos com o nosso. Mas
não são".
Por isso, os cientistas querem
perceber como os mini-Neptunos se formam e qual o seu aspeto, para terem uma
ideia mais completa de como os planetas em geral se formam. Isto pode orientar,
entre outras coisas, a procura de planetas habitáveis.
"Voltamos à questão de saber
porque é que estamos aqui - como é que a Terra surgiu?", disse Nixon.
"Trata-se de uma peça fundamental para compreendermos os outros planetas e
o nosso".
Astronomia OnLine

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