Telescópio Espacial Roman pode obter novas "ondas" de informação sobre estrelas da Via Láctea
Uma equipe de investigadores confirmou que as estrelas "soam" claramente numa tonalidade que se harmonizará muito bem com os objetivos científicos e com as capacidades do próximo Telescópio Espacial Nancy Grace Roman da NASA.
Esta figura mostra o Sol e várias estrelas gigantes vermelhas de diferentes raios. O futuro Telescópio Espacial Nancy Grace Roman da NASA será adequado para estudar estrelas gigantes vermelhas através de um método conhecido como asterossismologia. Esta abordagem implica o estudo das alterações no brilho global das estrelas, que é causado pelos seus interiores turbulentos que criam ondas e oscilações. Com as deteções asterossísmicas, os astrónomos podem aprender mais sobre a idade, massa e tamanho das estrelas. Os cientistas estimam que o Roman será capaz de detetar um total de 300.000 estrelas gigantes vermelhas com este método. Esta seria a maior amostra do género alguma vez recolhida. Crédito: NASA, STScI, Ralf Crawford (STScI)
A natureza turbulenta das
estrelas produz ondas que causam flutuações no seu brilho global. Ao estudar
estas alterações - um método chamado asterossismologia - os cientistas podem
obter informações sobre a idade, massa e tamanho das estrelas. Estas mudanças
de brilho eram percetíveis ao telescópio espacial Kepler da NASA, que forneceu
dados asterossísmicos de aproximadamente 16.000 estrelas antes da sua reforma
em 2018.
Usando os dados do Kepler como
ponto de partida e adaptando o conjunto de dados para corresponder à qualidade
esperada do Roman, os astrónomos provaram recentemente a viabilidade da
asterossismologia com o telescópio que será lançado em breve e forneceram uma
estimativa do número de estrelas detetáveis. É um bónus adicional para os
principais objetivos científicos do Roman: à medida que o telescópio realiza
observações para o seu levantamento GBTDS (Galactic Bulge Time-Domain Survey) -
um estudo central da comunidade que reunirá dados sobre centenas de milhões de
estrelas no bojo da nossa Galáxia, a Via Láctea - fornecerá também informação
suficiente para os astrónomos determinarem medições estelares através da
asterossismologia.
"A asterossismologia com o
Roman é possível porque não precisamos de pedir ao telescópio para fazer nada
que não estivesse já planeado fazer", disse Marc Pinsonneault da
Universidade do Estado do Ohio em Columbus, EUA, coautor de um artigo científico
que detalha a investigação. "A robustez da missão Roman é notável: foi
concebida em parte para fazer avançar a ciência dos exoplanetas, mas também
vamos obter dados muito ricos para outras áreas científicas que vão para além
do seu foco principal".
Explorar o que é possível
O bojo galáctico está densamente
povoado por estrelas do ramo das gigantes vermelhas e do agrupamento vermelho,
que são mais evoluídas e mais inchadas do que as estrelas de sequência
principal (as estrelas de sequência principal estão num estágio de vida
semelhante ao do Sol). A sua elevada luminosidade e a sua frequência de
oscilação, que varia entre horas e dias, trabalham a favor do Roman. Como parte
do seu levantamento GBTDS, o telescópio vai observar o bojo galáctico da Via
Láctea de 12 em 12 minutos ao longo de seis períodos de 70,5 dias, uma cadência
que o torna particularmente adequado para a asterossismologia das estrelas
gigantes vermelhas.
Embora investigações anteriores
tenham explorado o potencial da asterossismologia com o Roman, a equipa fez uma
análise mais detalhada, considerando as capacidades do Roman e o design da
missão. A sua investigação consistiu em dois grandes esforços:
Primeiro, os membros da equipa
analisaram os dados asterossísmicos do Kepler e aplicaram parâmetros para que o
conjunto de dados correspondesse à qualidade esperada dos dados do Roman. Isto
incluiu o aumento da frequência de observação e o ajuste da gama de
comprimentos de onda da luz. A equipa calculou as probabilidades de deteção,
que confirmaram com um sonoro "sim" que o Roman será capaz de detetar
as oscilações das gigantes vermelhas.
A equipa aplicou então as suas
probabilidades de deteção a um modelo da Via Láctea e considerou os campos de
visão sugeridos para o estudo do bojo galáctico, para ter uma ideia do número
de gigantes vermelhas e de estrelas do agrupamento vermelho que poderiam ser
investigadas com asterossismologia.
"Na altura do nosso estudo,
o levantamento central não estava totalmente definido, pelo que explorámos
alguns modelos e simulações diferentes. A nossa estimativa do limite inferior
era de 290.000 objetos no total, com 185.000 estrelas no bojo", disse
Trevor Weiss da Universidade do Estado da Califórnia, em Long Beach, coautor do
primeiro artigo científico. "Agora que sabemos que o levantamento terá uma
cadência de 12 minutos, verificamos que isso reforça os nossos números para
mais de 300.000 deteções asterossísmicas no total. Seria a maior amostra
asterossísmica alguma vez recolhida".
Reforçando a ciência para
todos
Os benefícios da
asterossismologia com o Roman são vários, incluindo a ligação à ciência dos
exoplanetas, um dos principais objetivos da missão e do estudo do bojo
galáctico. O Roman irá detetar exoplanetas, ou planetas para lá do nosso
Sistema Solar, através de um método chamado microlente, em que a gravidade de
uma estrela em primeiro plano amplia a luz de uma estrela em segundo plano. A
presença de um exoplaneta pode causar um "blip" percetível na mudança
de brilho resultante.
"Com os dados
asterossísmicos, conseguiremos obter muita informação sobre as estrelas
hospedeiras dos exoplanetas, o que nos dará uma grande visão dos próprios
exoplanetas", disse Weiss.
"Será difícil inferir
diretamente as idades e as abundâncias de elementos pesados, como o ferro, das
estrelas hospedeiras dos exoplanetas detetados pelo Roman", disse
Pinsonneault. "Saber estas coisas - idade e composição - pode ser importante
para compreender os exoplanetas. O nosso trabalho irá estabelecer as
propriedades estatísticas de toda a população - quais são as abundâncias e
idades típicas - para que os cientistas exoplanetários possam contextualizar as
medições do Roman".
Além disso, para os astrónomos
que procuram compreender a história da Via Láctea, a asterossismologia pode
revelar informações sobre a sua formação.
"Na verdade, não sabemos
muito sobre o bojo da nossa Galáxia, uma vez que só o podemos ver na luz
infravermelha devido a toda a poeira que o envolve", disse Pinsonneault.
"Poderão existir populações ou padrões químicos surpreendentes. E se
houver lá estrelas jovens enterradas? O Roman abrirá uma janela completamente
diferente para as populações estelares no centro da Via Láctea. Estou preparado
para ser surpreendido".
Uma vez que o Roman vai observar
o bojo galáctico logo após o lançamento, a equipa está a trabalhar para
construir um catálogo antecipadamente e para fornecer uma lista de estrelas
observáveis que possa ajudar nos esforços de validação do desempenho inicial do
telescópio.
"Para além de toda a
ciência, é importante lembrar a quantidade de pessoas que são necessárias para
pôr estas coisas a funcionar e a quantidade de pessoas diferentes que trabalham
no Roman", disse o coautor Noah Downing da Universidade do Estado do Ohio.
"É realmente emocionante ver todas as oportunidades que o Roman está a
abrir para as pessoas antes mesmo do seu lançamento e depois pensar em quantas
mais oportunidades existirão quando estiver no espaço e a recolher dados, o que
não está muito longe". O lançamento do Roman está previsto para maio de
2027, o mais tardar, estando a equipa a trabalhar no sentido de um potencial
lançamento antecipado, já no outono de 2026.
Astronomia OnLine

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