DAWN encontra possíveis restos de um antigo oceano em CERES
Esta animação mostra o planeta anão Ceres, visto pela sonda
Dawn da NASA. O mapa sobreposto à direita dá aos cientistas pistas sobre a
estrutura interna de Ceres, graças a medições de gravidade.Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA
Ceres está repleto de minerais que contêm água, sugerindo
que o planeta anão poderá ter tido um oceano global no passado. O que aconteceu
a esse oceano? Será que Ceres ainda tem água líquida hoje? Dois novos estudos
da missão Dawn da NASA lançaram luz sobre estas questões.
A equipe da Dawn descobriu que a crosta de Ceres é uma
mistura de gelo, sais e materiais hidratados que foram submetidos a atividades
geológicas passadas e possivelmente recentes, e que essa crosta representa a
maior parte desse antigo oceano. O segundo estudo baseia-se no primeiro e
sugere que existe uma camada mais macia e facilmente deformável sob a crosta da
superfície rígida de Ceres, que também pode ser a assinatura do líquido
residual do oceano.
"Mais e mais, estamos a aprender que Ceres é um mundo dinâmico
e complexo que pode ter hospedado muita água líquida no passado, e ainda pode
ter alguma água subterrânea," comenta Julie Castillo-Rogez, cientista do
projeto Dawn e coautora dos estudos, no JPL da NASA em Pasadena, no estado
norte-americano da Califórnia.
Como é o interior de Ceres? A gravidade pode-nos dizer
Aterrar em Ceres para investigar o seu interior seria um
desafio técnico e arriscaria contaminar o planeta anão. Em vez disso, os
cientistas usam as observações orbitais da Dawn para medir a gravidade de
Ceres, a fim de estimar a sua composição e estrutura interior.
O primeiro dos dois estudos, liderado por Anton Ermakov,
investigador pós-doutorado no JPL, usou medições da forma e dados de gravidade
da missão Dawn para determinar a estrutura interna e composição de Ceres. As
medições foram obtidas pela observação dos movimentos da nave com a DSN (Deep
Space Network) da NASA para rastrear pequenas mudanças na órbita da sonda. Este
estudo foi publicado na revista Journal of Geophysical Research: Planets.
A investigação de Ermakov e colegas apoia a possibilidade de
que Ceres é geologicamente ativo - se não atualmente, então talvez tenha sido
no passado recente. Três crateras - Occator, Kerwan e Yalod - e a solitária
montanha de Ceres, Ahuna Mons, estão associadas com "anomalias
gravitacionais". Isto significa que as discrepâncias entre os modelos da
gravidade de Ceres feitos pelos cientistas e o que a Dawn observou nestes
quatro locais podem ser associadas com estruturas subterrâneas.
"Ceres tem uma abundância de anomalias gravitacionais
associadas com características geológicas excecionais," comenta Ermakov.
Nos casos de Ahuna Mons e Occator, as anomalias podem ser usadas para melhor
entender a origem destas características, que se pensa serem expressões
diferentes de criovulcanismo.
O estudo descobriu que a densidade da crosta é relativamente
baixa, mais próxima da do gelo do que das rochas. No entanto, um estudo pelo
investigador convidado da Dawn, Michael Bland do USGS (U.S. Geological Survey),
indicou que o gelo é demasiado suave para ser o componente dominante da crosta
forte de Ceres. Então, como pode a crosta de Ceres ser tão leve quanto o gelo
em termos de densidade, mas simultaneamente muito mais forte? Para responder a
esta questão, outra equipa modelou como a superfície de Ceres evoluiu com o
tempo.
Um Oceano "Fóssil" em Ceres
O segundo estudo, liderado por Roger Fu da Universidade de
Harvard em Cambridge, Massachusetts, investigou a força e composição da crosta
de Ceres e o interior mais profundo ao estudar a topografia do planeta anão.
Este estudo foi publicado na revista Earth and Planetary Science Letters.
Ao estudar como a topografia evoluiu num corpo planetário,
os cientistas podem entender a composição do seu interior. Uma crosta forte e
dominada por rocha pode permanecer inalterada ao longo dos 4,5 mil milhões de
anos do Sistema Solar, enquanto uma crosta fraca, rica em gelos e sais,
deformar-se-ia ao longo desse período.
Ao modelar a forma como a crosta de Ceres flui, Fu e colegas
descobriram que é provavelmente uma mistura de gelo, sais, rocha e um
componente adicional que se pensa ser hidrato de clatrato. Um hidrato de
clatrato é uma "jaula" de moléculas de água que rodeiam uma molécula
de gás. Esta estrutura é 100 a 1000 vezes mais forte do que a água gelada,
apesar de ter quase a mesma densidade.
Os cientistas pensam que Ceres já teve características de
superfície mais pronunciadas, mas que suavizaram com o passar do tempo. Este
tipo de achatamento de montanhas e vales requer uma crosta de alta resistência
descansando por cima de uma camada mais deformável, que Fu e colegas
interpretam conter um pouco de líquido.
A equipa pensa que a maior parte do oceano antigo de Ceres
está agora congelado e preso na crosta sob a forma de gelo, hidratos de
clatrato e sais. Assim permanece há mais de 4 mil milhões de anos. Mas a
existir líquido residual por baixo, esse oceano ainda não está completamente
congelado. Isso é consistente com os vários modelos de evolução térmica de
Ceres publicados antes da chegada da Dawn, apoiando a ideia de que o interior
mais profundo de Ceres contém o líquido restante do seu antigo oceano.
Fonte: ASTRONOMIA ONLINE
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