HUBBLE descobre "GALÁXIAS OSCILANTES"
Abell S1063, um enxame de galáxias, observado pelo
Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA como parte do programa Frontier Fields.A
enorme massa do enxame age como uma lupa cósmica e amplia galáxias ainda mais
distantes, que se tornam suficientemente brilhantes para o Hubble as observar.Crédito: NASA, ESA e J. Lotz (STScI)
Usando o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, os
astrónomos descobriram que as galáxias mais brilhantes dentro de enxames
galácticos "oscilam" em relação ao centro de massa do enxame. Este
resultado inesperado é inconsistente com as previsões feitas pelo modelo padrão
atual da matéria escura. Com uma análise mais aprofundada, pode fornecer
informações sobre a natureza da matéria escura, talvez até indicando a presença
de uma nova física.
A matéria escura constitui um pouco mais que 25% de toda a
matéria no Universo, mas não pode ser observada diretamente, o que a torna num
dos maiores mistérios da astronomia moderna. Halos invisíveis da elusiva
matéria escura englobam tanto galáxias como enxames de galáxias. Estes últimos
astros são agrupamentos gigantescos de até mil galáxias imersas em gás
intergaláctico quente. Estes grupos têm núcleos muito densos, cada um contendo
uma galáxia massiva chamada de "galáxia mais brilhante do enxame" (em
inglês, "brightest cluster galaxy", ou BCG).
Esta imagem do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA mostra
o enxame galáctico MACS J1206. Enxames como este têm massas gigantescas, e a
sua gravidade é forte o suficiente para curvar o percurso da luz, como uma
espécie de lupa cósmica. Estes enxames são ferramentas úteis para o estudo de objetos
muito distantes, porque este comportamento tipo-lupa amplia a luz de galáxias
de fundo. Também contribuem para vários tópicos da cosmologia, pois a natureza
precisa das imagens das lentes gravitacionais contém informações sobre as
propriedades do espaço-tempo, sobre a expansão do cosmos e sobre a distribuição
da matéria escura no enxame. Este é um de 25 enxames estudados como parte do programa
CLASH (Cluster Lensing and Supernova survey with Hubble), um grande projeto
para construir uma biblioteca de dados científicos sobre enxames com efeito de
lente gravitacional.Crédito: NASA, ESA, M. Postman (STScI)
O modelo padrão da matéria escura (modelo da matéria escura
fria) prevê que assim que um enxame galáctico regresse a um estado
"relaxado" após sofrer turbulência de um evento de fusão, a BCG não
se move do centro do enxame. É mantida no lugar pela enorme influência gravitacional
da matéria escura. Mas agora, uma equipa de astrónomos suíços, franceses e
britânicos analisou dez enxames galácticos com o Telescópio Espacial Hubble da
NASA/ESA e descobriu que as suas BCGs não estão fixas no centro como esperado.
Os dados do Hubble indicam que "oscilam" em torno
do centro de massa de cada enxame muito tempo depois do enxame galáctico
regressar a um estado relaxado após uma fusão. Por outras palavras, o centro
das partes visíveis de cada enxame galáctico e o centro da massa total do enxame
- incluindo o halo de matéria escura - não coincidem, até um máximo de 40.000
anos-luz.
"Descobrimos que as BCGs oscilam em torno do centro dos
halos," explica David Harvey, astrónomo da EPFL (École polytechnique
fédérale de Lausanne), Suíça, e autor principal do artigo. "Iso indica
que, ao invés de uma região densa no centro do enxame de galáxias, conforme
previsto pelo modelo da matéria escura fria, há uma densidade central muito
menor. Este é um sinal impressionante de formas exóticas da matéria escura no
coração dos enxames galácticos."
O enorme enxame galáctico no centro desta imagem contém
tanta matéria escura que a sua gravidade curva a luz de objetos mais distantes.
Isto significa que para galáxias muito distantes no fundo, o campo
gravitacional do enxame atua como uma espécie de lupa cósmica, dobrando e
concentrando a luz de objetos distantes na direção do Hubble. Estas lentes
gravitacionais são uma ferramenta que os astrónomos podem usar para alargar a
visão do Hubble além do que seria normalmente capaz de observar. Desde modo,
algumas das primeiras galáxias do Universo podem ser estudadas pelos
astrónomos. O efeito de lente também pode ser usado para determinar a
distribuição da matéria - tanto matéria normal quando matéria escura - no
enxame.Crédito: NASA, ESA, J. Richard (CRAL) e J.-P. Kneib (LAM).
Reconhecimento: Marc Postman (STScI)
A oscilação das BCGs só podia ser analisada caso os enxames
galácticos estudados também atuassem como lentes gravitacionais. São tão
massivos que distorcem o espaço-tempo o suficiente para curvar a luz de objetos
mais distantes por trás. Este efeito, chamado lente gravitacional forte, pode
ser usado para mapear a matéria escura associada com o enxame, permitindo que
os astrónomos determinem a posição exata do centro de massa e depois meçam o
deslocamento da BCG em relação a esse centro.
Se esta "oscilação" não é um fenómeno astrofísico
desconhecido e for, de facto, o resultado do comportamento da matéria escura,
então é inconsistente com o modelo padrão da matéria escura e só pode ser
explicado caso as partículas de matéria escura possam interagir umas com as
outras - uma forte contradição da compreensão atual da matéria escura. Isto
poderá indicar que é necessária uma nova física fundamental para resolver o
mistério da matéria escura.
O coautor Frederic Courbin, também da EPFL, conclui:
"estamos ansiosos por levantamentos maiores - como o levantamento Euclides
- que irá ampliar o nosso conjunto de dados. Podemos então determinar se a
oscilação das BCGs é o resultado de um fenómeno astrofísico novo ou de uma nova
física fundamental. Ambos os quais seriam excitantes!"
Fonte: Astronomia OnLine
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!