Dados do HERSCHEL ligam os misteriosos ventos dos QUASARES a formação estelar EXTREMA
Impressão artistica de um quasar
numa galáxia formadora de estrelas. O quasar é alimentado por um buraco negro
supermassivo no centro da galáxia. À medida que o gás é puxado para um disco de
acreção em torno do buraco negro, aquece até temperaturas muito altas e irradia
energia através do espectro eletromagnético, preferencialmente na direção de
dois jatos poderosos. Além disso, a galáxia produz estrelas a uma taxa de
centenas por ano. Em comparação, a nossa Via Láctea produz 1-2 estrelas por
ano. Crédito: ESA/C. Carreau
Os astrónomos usaram o
Observatório Espacial Herschel da ESA para resolver um mistério de décadas
sobre a origem de poderosos ventos de gás frio nos arredores quentes de
quasares. A evidência que liga estes poderosos ventos à formação estelar nas
galáxias que albergam quasares também pode ajudar a resolver o mistério do
porquê do tamanho das galáxias no Universo parecer estar limitado.
Desde a sua descoberta, na década
de 1960, que os quasares têm fornecido um tesouro de perguntas para os
astrónomos responderem. Estas fontes energéticas - até 10.000 vezes mais
brilhantes do que a Via Láctea - são os núcleos de galáxias distantes com
buracos negros supermassivos no seu centro. À medida que o gás é puxado para um
disco de acreção em redor do buraco negro, é aquecido a temperaturas muito
altas e irradia energia através do espectro eletromagnético, desde o rádio até
aos raios-X - desta forma, nasce a assinatura de luminosidade do quasar.
Há cinco décadas que os
astrónomos estudam os espectros de quasares para descobrir a origem da radiação
eletromagnética que emitem e para traçar o percurso da luz até nós.
Uma ferramenta valiosa na
compreensão desta viagem são as linhas de absorção nos espectros de radiação
dos quasares. Estas linhas indicam os comprimentos de onda absorvidos à medida
que a radiação viaja desde a fonte até ao observador, fornecendo pistas sobre o
material por onde passou. Ao longo do tempo, o estudo dessas linhas traçou a
composição das galáxias e das nuvens de gás situadas entre nós e esses distantes
objetos luminosos, mas um conjunto de linhas de absorção permanecia por
explicar.
Os astrónomos observaram linhas
de absorção em muitos quasares, indicativas da absorção, pelo caminho, por gás
frio com elementos metálicos pesados como o carbono, magnésio e silício. As
linhas indicam que a luz viajou através de ventos de gás frio com velocidades
de milhares de quilómetros por segundo no interior das galáxias hospedeiras dos
quasares. Embora o conhecimento de que esses ventos existem não seja uma notícia
nova, a sua origem e o porquê de conseguirem alcançar velocidades tão
impressionantes, permaneciam desconhecidos.
Agora, o astrónomo Peter Barther
e o seu estudante de doutoramento Pece Podigachoski, ambos do Instituto Kapteyn
da Universidade de Groninga, juntamente com os colegas Belinda Wilkes do Centro
Harvard-Smithsonian para Astrofísica (EUA) e Martin Haas da Ruhr-Universität
Bochum (Alemanha), lançaram luz sobre as origens destes ventos frios. Usando
dados obtidos com o Observatório Herschel da ESA, os astrónomos mostraram, pela
primeira vez, que a força das linhas de absorção de metal associadas com estes
misteriosos ventos gasosos está diretamente ligada com a taxa de formação
estelar nas galáxias que hospedam os quasares.
Ao encontrar esta tendência, os
astrónomos são capazes de dizer com alguma confiança que a prodigiosa formação
estelar dentro da galáxia-mãe pode ser o mecanismo que impulsiona esses ventos
misteriosos e poderosos. A identificação desta
tendência para prolífica formação estelar e íntima relação com os poderosos
ventos dos quasares é, para nós, um achado emocionante," explica Pece
Podigachoski. "Uma explicação natural para tal é que os ventos são
alimentados pela explosão de formação estelar e produzidos por supernovas - que
se sabe ocorrerem com grande frequência durante períodos de formação estelar
extrema."
Esta nova ligação não só resolve
um quebra-cabeças sobre os quasares, mas também contribui para desvendar um
mistério ainda maior: porque é que o tamanho das galáxias observadas no nosso
Universo parece estar limitado na prática, mas não em teoria.
"Além da questão de quais os
processos responsáveis pelos ventos gasosos, o seu efeito é um tópico muito
importante na astrofísica atual," explica Peter Barthel. "Embora as
teorias prevejam que as galáxias podem crescer muito, não têm sido observadas
galáxias ultramassivas. Parece que existe um processo que atua como um travão
na formação de tais galáxias: os ventos internos, por exemplo, podem ser
responsáveis por este denominado feedback negativo."
A teoria prevê que as galáxias
devem ser capazes de crescer até massas cem vezes o observado. O facto de haver
um déficit de gigantes no Universo implica a existência de um processo que
esgota as reservas de gás nas galáxias antes de poderem alcançar o seu
potencial máximo. Existem dois mecanismos que podem levar a esta redução de
gás: o primeiro são os ventos das supernovas associados com a formação estelar.
O segundo, os ventos associados ao buraco negro supermassivo no coração de cada
quasar.
Embora seja possível que ambos os mecanismos desempenhem um papel, a
evidência de correlação entre os ventos de gás frio e a taxa de formação
estelar descoberta pela equipa científica sugere que no caso dos quasares, a
formação estelar, que requer um fornecimento constante de gás frio, pode ser a
principal responsável no corte de gás da galáxia e na supressão da capacidade
de fazer crescer a próxima geração de estrelas.
"Este é um resultado
importante para a ciência dos quasares, um que se baseou nas capacidades únicas
do Herschel," explica Göran Pilbratt, cientista do projeto Herschel na
ESA. "O Herschel observa radiação no infravermelho distante e nos
comprimentos de onda submilimétricos, permitindo o conhecimento detalhado do
ritmo de formação estelar nas galáxias observadas, necessário para fazer esta
descoberta."
Fonte: Astronomia OnLine
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