Buracos negros supermassivos controlam formação estelar em galáxias massivas
O poder de um buraco negro
supermassivo pode ser visto nesta imagem de Centauro A, um dos núcleos
galácticos ativos mais próximos da Terra. A imagem combina dados de vários
telescópios em diferentes comprimentos de onda, mostrando jatos e lóbulos
alimentados pelo buraco negro supermassivo no centro da galáxia. Crédito:
ESO/WFI (ótico); MPIfR/ESO/APEX/A. Weiss et al. (submilímetro); NASA/CXC/CfA/R.
Kraft et al. (raios-X)
As galáxias jovens resplandecem
com novas estrelas brilhantes que se formam a um ritmo elevado, mas a formação
estelar eventualmente para quando uma galáxia evolui. Um novo estudo, publicado
dia 1 de janeiro na revista Nature, mostra que a massa do buraco negro no
centro da galáxia determina quando a "extinção" de formação estelar
ocorre.
Cada galáxia massiva tem um
buraco negro supermassivo central, com mais de um milhão de vezes a massa do
Sol, revelando a sua presença através dos efeitos gravitacionais nas estrelas
da galáxia e por vezes alimentando a radiação energética de um núcleo galáctico
ativo. Pensa-se que a energia que a galáxia recebe do núcleo galáctico ativo
desliga a formação estelar através do aquecimento e dissipação do gás que, de
outra forma, se condensaria em estrelas à medida que arrefecia.
Esta ideia já existe há décadas e
os astrofísicos descobriram que as simulações da evolução galáctica devem
incorporar feedback do buraco negro a fim de reproduzir as propriedades
observadas das galáxias. Mas as evidências observacionais de uma ligação entre
os buracos negros supermassivos e a formação estelar não existiam, até agora.
"Temo-nos debruçado no
feedback para fazer com que as simulações funcionem, sem realmente saber como é
que acontece," comenta Jean Brodie, professora de astronomia e astrofísica
da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, coautora do artigo. "Esta é a
primeira evidência observacional direta onde podemos ver o efeito do buraco
negro na história da formação estelar da galáxia."
Os novos resultados revelam uma
interação contínua entre a atividade do buraco negro e a formação estelar ao
longo da vida de uma galáxia, afetando todas as gerações de estrelas formadas à
medida que a galáxia evolui.
Liderado pelo autor principal
Ignacio Martín-Navarro, investigador pós-doutorado da mesma universidade
norte-americana, o estudo focou-se nas galáxias massivas para as quais a massa
do buraco negro central já foi medida em estudos anteriores através da análise
dos movimentos das estrelas perto do centro da galáxia. Para determinar as
histórias de formação estelar das galáxias, Martín-Navarro examinou os
espectros detalhados da luz obtidos pelo Levantamento de Galáxias Massivas do
Telescópio Hobby-Eberly.
A espectroscopia permite aos astrónomos
separar e medir os diferentes comprimentos de onda da luz de um objeto.
Martín-Navarro utilizou técnicas computacionais para analisar o espectro de
cada galáxia e recuperar a sua história de formação estelar, encontrando a
melhor combinação de populações estelares que mais se adequa aos dados
espectroscópicos. "Diz-nos a quantidade de luz oriunda das várias
populações estelares com idades diferentes," realça.
Quando comparou as histórias de
formação estelar de galáxias com buracos negros de diferentes massas, encontrou
diferenças marcantes. Estas diferenças só se correlacionaram com a massa do
buraco negro e não com a morfologia, tamanho e outras propriedades galácticas.
"Para as galáxias com a
mesma massa de estrelas, mas um buraco negro de massa diferente no centro,
essas galáxias com buracos negros maiores 'apagaram-se' mais cedo e mais
depressa do que aquelas com buracos negros mais pequenos. Portanto, a formação
estelar durou mais tempo nas galáxias com buracos negros centrais menores,"
explica Martín-Navarro.
Outros investigadores procuraram
correlações entre a formação estelar e a luminosidade dos núcleos galácticos
ativos, sem sucesso. Martín-Navarro disse que tal pode ser devido às escalas de
tempo serem tão diferentes, com a formação estelar ocorrendo ao longo de
centenas de milhões de anos, enquanto as explosões dos núcleos galácticos
ativos ocorrem em períodos mais curtos.
Um buraco negro supermassivo só é
luminoso quando está engolindo ativamente matéria das regiões internas da sua
galáxia hospedeira. Os núcleos galácticos ativos são altamente variáveis e as
suas propriedades dependem do tamanho do buraco negro, da taxa de acreção de
material que cai na sua direção e de outros fatores.
"Nós usámos a massa do
buraco negro como 'proxy' para a energia lançada para a galáxia pelo núcleo
galáctico ativo, porque a acreção em buracos negros mais massivos leva a um
feedback mais energético dos núcleos galácticos ativos, o que extinguiria a
formação estelar mais rapidamente," explica Martín-Navarro.
Segundo o coautor Aaron
Romanowsky, astrónomo da Universidade Estatal de San Jose e dos Observatórios
da Universidade da Califórnia, a natureza precisa do feedback do buraco negro
que trava a formação estelar permanece incerta.
"Existem várias maneiras
pelas quais um buraco negro lança energia para a galáxia e os teóricos têm
muitas ideias sobre o modo como esta extinção acontece, mas para encaixar estas
novas observações nos modelos precisamos de continuar a trabalhar,"
conclui Romanowsky.
Fonte: Astronomia OnLine
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