Buracos de minhoca podem já ter sido detectados, propõem físicos
Túneis no espaço-tempo
Ainda é uma ideia especulativa -
uma hipótese -, mas uma daquelas que pode revolucionar a astrofísica e trazer
um novo nível de interesse para a ciência e para as viagens espaciais. Pablo Bueno e seus colegas da
Universidade de Leuven, na Bélgica, afirmam que a humanidade já pode ter
detectado buracos de minhoca. Os buracos de minhoca - ou Pontes
de Einstein-Rosen - são, teoricamente, túneis no espaço-tempo. Atravessando-os
seria possível "saltar" de um ponto no espaço para outro, muito
distante, sem precisar percorrer as longas distâncias que os separam.
Esses túneis espaço-temporais
ganharam popularidade por meio dos filmes de ficção científica, mas têm sido
foco de atenção dos físicos há décadas. Albert Einstein e Nathan Rosen
publicaram seu trabalho sobre eles em 1935 e levaram a fama, mas o físico
austríaco Ludwig Flamm havia publicado um trabalho sobre túneis no espaço-tempo
em 1916.
Agora, uma dupla de físicos
espanhóis e seus colegas belgas estão propondo que os observatórios de ondas
gravitacionais LIGO e Virgo detectaram eventos causados não por colisões entre
buracos negros, como foi proposto, mas por colisões entre dois buracos de
minhoca rotativos.
Objeto compacto exótico
A equipe aponta que a hipótese de
que as ondas gravitacionais detectadas se originaram da fusão de buracos negros
tem problemas. O maior deles surge de uma
característica bem conhecida dos buracos negros: Eles têm uma fronteira,
chamada horizonte de eventos, da qual matéria, radiação ou qualquer coisa que
entre não consegue mais escapar. Essa noção está em conflito com a mecânica
quântica, cujos postulados garantem que a informação será sempre preservada,
nunca perdida.
Uma das maneiras teóricas de lidar
com esse conflito é explorar a possibilidade de que os supostos buracos negros
de que tanto falamos não sejam exatamente o que pensávamos, mas sim algum tipo
de "objeto compacto exótico" (OCEs), o que inclui os buracos de
minhoca. Isso traria uma particularidade muito útil: buracos de minhoca não têm
um horizonte de eventos, e isso pode deixar sua marca nas ondas gravitacionais
registradas pelo LIGO e pelo Virgo. E essa marca poderia então descartar os
buracos negros como originários dos eventos detectados.
Observe que buracos negros nunca
foram detectados observacionalmente: Sua existência é deduzida de efeitos,
modelos teóricos e observações indiretas - das quais a recente detecção das
ondas gravitacionais é uma das mais fortes. Por isso, a proposta dos físicos
espanhóis não é um disparate - é meramente a troca de uma explicação teórica
plausível por outra explicação teórica possível.
Ecos dos buracos de minhoca
"A parte final do sinal
gravitacional detectado por esses dois detectores [LIGO e Virgo] corresponde ao
último estágio da colisão de dois buracos negros, e tem a propriedade de se
extinguir completamente após um curto período de tempo devido à presença do horizonte
de eventos.
"No entanto, se não houvesse
horizonte, essas oscilações não desapareceriam completamente; em vez disso,
depois de certo tempo, elas produziriam uma série de 'ecos', de forma similar
ao que acontece com o som em um poço. Curiosamente se, em vez de buracos
negros, tivéssemos um OCE, a parte final da detecção poderia ser semelhante,
então precisamos determinar a presença ou a ausência dos ecos para distinguir
os dois tipos de objetos," detalham Pablo Bueno e seu colega Pablo Cano.
Esta possibilidade foi explorada
teoricamente por vários grupos e tentativas de análises experimentais usando os
dados do LIGO já foram realizadas, mas o veredito até agora foi largamente
inconclusivo. Por isso, os físicos propõem um
modelo que prevê como as ondas gravitacionais geradas pela colisão de dois OCEs
específicos seriam detectadas: quando elas forem geradas pela colisão de dois
buracos de minhoca rotativos.
Detecção dos buracos de minhoca
Até agora, os sinais das ondas
gravitacionais observadas somem completamente após alguns instantes, o que tem
sido interpretado como uma consequência da presença do horizonte de eventos.
Ocorre que essas oscilações podem não estar desaparecendo completamente - seus
ecos podem ter simplesmente passado despercebidos até agora devido à falta de
modelos ou referências teóricas com as quais comparar os dados, defende a
equipe.
"Os buracos de minhoca não
têm um horizonte de eventos, mas funcionam como um atalho espaço-temporal que
pode ser percorrido, uma espécie de garganta muito longa que nos leva a outro
universo," explica Pablo Bueno. "E o fato de eles também terem
rotação (uma propriedade que eles têm em comum com os chamados 'buracos negros
de Kerr', que se supõe correspondam aos objetos envolvidos na produção das
ondas gravitacionais detectadas pelo LIGO, caso eles sejam realmente buracos
negros) alteram as ondas gravitacionais que eles produzem."
É claro que, se esses ecos forem
encontrados nos dados, a consequência não é apenas a comprovação indireta da
existência dos buracos de minhoca - haveria um efeito catastrófico para a
ciência dos buracos negros.
"A confirmação dos ecos nos
sinais do LIGO e do Virgo seria uma prova praticamente irrefutável de que os
buracos negros astrofísicos não existem," enfatiza Pablo Bueno. "O
tempo dirá se esses ecos existem ou não. Se o resultado for positivo, esta será
uma das grandes descobertas da história da física."
Fonte: Inovação Tecnológica
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!