Neutrino detectado no Pólo Sul veio de acelerador cósmico
Ilustração artística de um blazar, uma galáxia ativa com um
buraco negro gigantesco no centro. [Imagem: DESY]
Acelerador cósmico
À primeira vista parece mais um golpe de sorte, e dos grandes:
Astrônomos capturaram um único neutrino e conseguiram identificar de onde ele
veio. Só para lembrar, o neutrino é uma partícula que virtualmente não interage
com nada conhecido, podendo passar incólume por um cubo de chumbo - um metal de
altíssima densidade - com uma aresta de um ano-luz, se tal coisa existisse.
Assim, pescar um desses caras e ainda descobrir sua origem é um feito notável.
O neutrino veio de um acelerador cósmico localizado a 3,7 bilhões de
anos-luz da Terra, um objeto celeste conhecido como blazar, um buraco negro
supermassivo localizado bem no centro de uma galáxia ativa, o que compõe uma
fonte de energia muito compacta e altamente variável - o objeto é conhecido
como TXS 0506+056. Ele foi detectado
pelo observatório de neutrinos IceCube, instalado nas profundezas da Antártica.
Depois de encontrar fonte emissora, a equipe varreu os dados anteriores
do observatório e descobriu mais uma dúzia de neutrinos com características que
indicam terem vindo do mesmo lugar, o que permitiu validar a conclusão quanto
ao "neutrino da sorte. Apenas duas
fontes individuais de neutrinos astrofísicos eram conhecidas até agora: O Sol e
uma supernova próxima, sendo que nenhuma nova fonte havia sido descoberta nos
últimos 30 anos.
Um neutrino que chega
e calha de interagir com uma molécula de gelo produz uma partícula secundária,
um múon, que se move à velocidade da luz no gelo, deixando um traço de luz azul
- é essa luz que os sensores do IceCube captam. [Imagem: Nicolle R.
Fuller/NSF/IceCube]
Fonte de neutrinos
Em 2013, o observatório de neutrinos IceCube, instalado nas profundezas
do gelo perto do Pólo Sul, detectou neutrinos astrofísicos de alta energia, e
desde então os astrofísicos têm procurado suas fontes. Não bastassem os 300 pesquisadores de 49
instituições ao redor do mundo que integram a colaboração IceCube, quando
detectaram o novo neutrino, eles rapidamente chamaram as equipes de todos os
telescópios disponíveis, no solo e no espaço, para tentar rastrear a fonte do
misterioso neutrino alienígena.
O blazar foi flagrado em um "estado cintilante" justamente
quando o sinal do neutrino chegou, em setembro de 2017, com emissões brilhantes
em vários comprimentos de onda. As observações foram realizadas em todo o
espectro eletromagnético, das ondas de rádio aos raios gama. Ou seja, não foi
mesmo sorte, foi um trabalho de detetive de dimensões galácticas. A equipe do IceCube então pesquisou os
registros de neutrinos detectados durante quase dez anos antes da detecção de
2017, encontrando um excesso de eventos de neutrinos na mesma localização do
blazar, mostrando que ele vem produzindo neutrinos em múltiplas explosões.
Astrofísica dos neutrinos
Os pesquisadores afirmam que essa detecção inaugura um novo campo na
astronomia, a astrofísica dos neutrinos, que podem trazer informações
importantes sobre suas fontes, sem qualquer interferência do meio em que
viajam, já que dificilmente essas partículas fundamentais interagem com alguma
coisa.
O próximo desafio será aprender a ler essas informações, já que
detectar a chegada de um neutrino já é, por si só, uma tarefa monumental que
levou décadas para ser alcançada. Havia grande esperança de que os neutrinos
dessem pistas sobre a hipotética matéria escura, mas até agora nenhum resultado
positivo foi obtido.
Fonte: Inovação Tecnológica
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