Teste galáctico pode dizer se matéria escura realmente existe
Simulação: Esta imagem mostra a distribuição de matéria
escura (acima) e estrelas (abaixo).[Imagem: Romano-Díaz/University of Bonn]
Matéria escura e MOND
Apesar de numerosos esforços experimentais e bilhões gastos
em pesquisas, ainda não há qualquer prova direta de que a matéria escura de
fato exista. Isso levou os astrônomos a levantarem a hipótese de que a força
gravitacional em si pode se comportar de maneira diferente do que as atuais
teorias estabelecem.
De acordo com uma teoria conhecida como MOND (sigla em
inglês para Dinâmica Newtoniana Modificada), a atração entre duas massas
obedeceria às leis de Newton apenas até certo ponto. Em acelerações muito
pequenas, como as que prevalecem nas galáxias, a gravidade tornar-se-ia
consideravelmente mais forte. Portanto, as galáxias não se esfacelariam devido
à sua velocidade de rotação, o que foi justamente a noção que deu origem à
hipótese da matéria escura - se as galáxias giram tão rápido e não se
esfacelam, deve haver "algo" lá para prover a gravidade que falta.
Uma equipe das universidades de Bonn (Alemanha) e Califórnia
em Irvine (EUA) propôs agora um modo de testar essas duas hipóteses - hipótese
da matéria escura e hipótese MOND - com uma precisão e uma facilidade sem precedentes.
Relação de aceleração
radial
Enrico Garaldi e seus colegas usaram um dos
supercomputadores mais rápidos do mundo para simular a distribuição de matéria
das chamadas galáxias anãs, ou satélites, pequenas galáxias que circundam a Via
Láctea ou Andrômeda, por exemplo.
Eles se concentraram em uma relação conhecida como
"relação de aceleração radial" (RAR). Nas galáxias de disco, as
estrelas se movem em órbitas circulares ao redor do centro galáctico. A
aceleração que as força constantemente a mudar de direção para girar é causada
pela atração da matéria na galáxia. A RAR descreve a relação entre esta
aceleração e a aceleração causada apenas pela matéria visível, fornecendo uma dica
sobre a estrutura das galáxias e sua distribuição de matéria.
"Agora simulamos, pela primeira vez, a RAR de galáxias
anãs com a suposição de que existe matéria escura. Acontece que elas se
comportam como versões reduzidas das galáxias maiores," conta o professor
Cristiano Porciani, membro da equipe. Há anos os astrônomos já vinham
observando que essas galáxias satélites desafiam as teorias mais aceitas.
Medir efeitos da
matéria escura
Mas, e se não houver matéria escura e, em vez disso, a
gravidade funciona de forma diferente do que pensava Newton?
"Nesse caso, a RAR das galáxias anãs depende fortemente
da distância até a galáxia principal, enquanto isso não acontece se a matéria
escura existir," explicou o pesquisador Emilio Romano Díaz.
Logo, tudo se torna uma questão de medir essa diferença,
algo que pode ser feito usando satélites. A sonda espacial Gaia, por exemplo,
lançada pela Agência Espacial Europeia em 2013, já pode até ter começado a
capturar uma resposta. A sonda foi projetada para estudar as estrelas na Via
Láctea e suas galáxias satélites com detalhes sem precedentes e já coletou uma
grande quantidade de dados.
No entanto, provavelmente levará anos para resolver
definitivamente esse enigma.
"Medições individuais não são suficientes para testar
as pequenas diferenças que encontramos em nossas simulações," disse
Garaldi. "Mas dar uma olhada detalhada para as mesmas estrelas
repetidamente melhora as medições a cada vez. Mais cedo ou mais tarde, deverá
ser possível determinar se as galáxias anãs se comportam como num universo com
matéria escura - ou não."
Fonte: Inovação Tecnológica
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