Descoberto o gigante que moldou os primórdios da Via Láctea
Há cerca de 10 mil milhões de
anos, a Via Láctea fundiu-se com uma grande galáxia. As estrelas dessa
parceira, de nome Gaia-Encélado, compõem a maior parte do halo da Via Láctea e
também moldaram o seu espesso disco, dando-lhe a sua forma inchada. Uma descrição
dessa megafusão, descoberta por uma equipa internacional liderada pela
astrónoma Amina Helmi, da Universidade de Groninga, foi publicada na revista
científica Nature.
As galáxias grandes como a
nossa Via Láctea são o resultado de fusões entre galáxias mais pequenas. Uma
questão notável é se uma galáxia como a Via Láctea é o produto de muitas fusões
pequenas ou de algumas grandes. A professora de astronomia Amina Helmi, da
Universidade de Groninga, passou a maior parte da sua carreira à procura de
"fósseis" na nossa Via Láctea, que podem fornecer algumas pistas
sobre a sua evolução. Ela usa a composição química, a posição e a trajetória
das estrelas no halo para deduzir a sua história e, assim, identificar as
fusões que criaram a jovem Via Láctea.
Segundo lançamento de dados
do Gaia
O recente segundo lançamento
de dados da missão do satélite Gaia, no passado mês de abril, forneceu à
professora Helmi dados sobre cerca de 1,7 mil milhões de estrelas. Helmi esteve
envolvida no desenvolvimento da missão Gaia durante cerca de vinte anos e fez
parte da equipa de validação do segundo lançamento. Ela usou agora os dados
para procurar vestígios de fusões no halo: "Nós esperávamos estrelas de
galáxias fundidas no halo. O que não esperávamos era descobrir que a maioria
das estrelas no halo têm uma origem partilhada numa fusão muito grande."
Disco espesso
E foi o que encontrou. A
assinatura química de muitas estrelas do halo era claramente diferente das
estrelas "nativas" da Via Láctea. "E pertencem a um grupo
bastante homogéneo, o que indica que partilham uma origem comum". Ao
traçar a trajetória e a assinatura química, as "invasoras"
destacam-se claramente. Helmi: "As estrelas mais jovens de Gaia-Encélado
são na realidade mais jovens do que as estrelas nativas da Via Láctea no que é
hoje a região do disco espesso. Isto significa que a progenitora deste disco
espesso já estava presente quando a fusão ocorreu e Gaia-Encélado, devido ao
seu grande tamanho, abanou-o e inchou-o."
Num artigo anterior, Helmi já
havia descrito uma enorme "bolha" de estrelas que partilhavam uma
origem comum. Agora, ela mostra que as estrelas dessa bolha no halo são os
detritos da fusão da Via Láctea com uma galáxia que era um pouco mais massiva
do que a Pequena Nuvem de Magalhães, há cerca de dez mil milhões de anos. A
galáxia é chamada Gaia-Encélado, em honra ao Gigante Encélado que, na mitologia
grega, nasceu de Gaia (a deusa da Terra) e Úrano (o deus do Céu).
Os dados sobre a cinemática,
química, idade e distribuição espacial das estelas nativas da Via Láctea e os
remanescentes de Gaia-Encélado lembraram Helmi de simulações realizadas por um
ex-aluno de doutoramento, há aproximadamente dez anos. As suas simulações da
fusão de uma galáxia grande em forma de disco com a jovem Via Láctea produziram
uma distribuição de estrelas de ambos os objetos, que está em linha com os
dados do Gaia. "Foi incrível ver os novos dados do Gaia e perceber que já
tinha visto isto antes!," conclui a astrónoma
Fonte: Astronomia OnLine
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